A série sul-africana “Go!”, tem impactando assinantes da Netflix com uma história dramática: mas será que ela é real? A produção de seis episódios mergulha em temas profundamente conectados à realidade de muitos jovens da periferia.
Criada por Kutlwano Ditsele e roteirizada por Thuli Zuma, a série se apoia em uma narrativa de superação para discutir desigualdade social, culpa e as complexidades morais que moldam a juventude sul-africana.
Uma história de corrida – e sobrevivência
“Go!” acompanha Siya “Bolt” Gumede (interpretado com intensidade por Thandolwethu Zondi), um adolescente com talento nato para o atletismo, que vê sua vida virar de cabeça para baixo ao receber uma bolsa de estudos em uma renomada escola particular de Joanesburgo. Descoberto por um treinador durante uma corrida de rua, Siya ganha a chance de deixar a periferia e construir um novo futuro.
No entanto, na noite anterior à sua mudança, um trágico acidente de carro coloca tudo em risco. Ele atropela acidentalmente um garoto e, acreditando que seu amigo Mandla tenha morrido no impacto, foge da cena com a ajuda do irmão mais velho, Shuffle. A solução improvisada para evitar as consequências legais se transforma em um segredo pesado, que ameaça não apenas a nova vida de Siya, mas a liberdade de um inocente.
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Série ‘Go!’ é uma história real?
Não, a série “Go!”, da Netflix, não é baseada em uma história real. Apesar de tocar em temas conectados diretamente à realidade de muitos jovens da periferia da África do Sul, a produção é um roteiro original.
Realismo social e dilemas morais
Diferente de outras produções do gênero esportivo, “Go!” evita o tom motivacional superficial. Sob a direção de Tristan Holmes, a série apresenta uma África do Sul dividida entre os luxos das escolas privadas e as carências das comunidades marginalizadas. A fotografia ressalta essa dualidade com cenas que mostram, sem apelo à miséria, a precariedade das moradias, ruas esburacadas e a vida dura de muitos jovens como Siya.
O roteiro explora essa tensão entre mundos: de um lado, a competitividade e os códigos não ditos da elite escolar; de outro, os laços familiares, a violência e a falta de oportunidades. Ainda que o enredo se apoie em convenções conhecidas — o “garoto pobre em escola de ricos” —, a ambientação e o peso emocional conferem autenticidade à trama.
Culpa que corre junto
A maior corrida de Siya, no entanto, não é contra os adversários nas pistas, mas contra a culpa e o medo. O dilema moral é central na série: até onde ele deve ir para proteger sua nova vida? E a que custo? Embora a premissa seja forte, a série nem sempre consegue explorar toda a profundidade emocional do personagem.
Em momentos cruciais, o roteiro opta por reviravoltas forçadas que enfraquecem a construção do conflito interno de Siya. Exemplo disso é o desenvolvimento da personagem Gabisile, interpretada de forma vibrante, mas com motivações pouco exploradas. Sua presença serve mais como peça de virada do que como figura essencial à narrativa.
Atuações e direção como destaques
Apesar de algumas fragilidades no roteiro, o elenco de Go! é um dos pontos altos da produção. Thandolwethu Zondi oferece uma performance sutil e poderosa, traduzindo em silêncios e olhares o peso que carrega. Wiseman Mncube, no papel do irmão Shuffle, entrega uma figura ambígua — ao mesmo tempo cúmplice e moralmente questionável.
A direção de Holmes equilibra bem momentos de ação e introspecção. A corrida, usada de forma simbólica, revela os estados emocionais do protagonista e reforça a ideia de que, para Siya, o esporte não é só um talento: é sobrevivência, é fuga, é redenção.
Reflexão sobre desigualdade e juventude
Embora não seja uma história real, “Go!” acerta ao retratar, com naturalidade, as desigualdades estruturais da sociedade sul-africana. Ao mostrar que talento não escolhe endereço, mas o sistema escolhe quem tem acesso a oportunidades, a série amplia o alcance de seu drama pessoal para uma crítica social mais ampla.
A adaptação de Siya ao novo ambiente escolar, a pressão por resultados e a constante sensação de deslocamento revelam como, mesmo diante de novas chances, o passado continua presente. A produção não oferece soluções fáceis, mas convida o espectador a refletir sobre escolhas, consequências e os limites da sobrevivência.
Vale a pena assistir Go!?
“Go!” não revoluciona o gênero, mas oferece uma abordagem mais crua e realista do que muitas produções do tipo. É uma série que se destaca pelo contexto social que retrata, pela força de seu elenco e por sua ambientação que foge de estereótipos. Embora o desenvolvimento de certos personagens e dilemas éticos pudesse ter sido mais profundo, a série entrega uma narrativa envolvente e relevante.
Caso ganhe uma segunda temporada, “Go!” tem potencial para ir ainda mais longe, principalmente se apostar em explorar com mais maturidade os conflitos internos de seus personagens — e menos em soluções fáceis para problemas complexos.
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