
Foto: HBO Max / Divulgação
O Brasil, com sua complexa tapeçaria social, tem se tornado um prolífico cenário para produções do gênero “true crime”, que, ao desvendar crimes reais, capturam o fascínio e a atenção do público. Recentemente, a HBO Max lançou “O Assassinato do Ator Rafael Miguel”, uma docussérie baseada em uma história real de três episódios que revisita um dos crimes mais impactantes e dolorosos dos últimos anos no país.
A produção, lançada em maio de 2025, logo após o desfecho judicial do caso, promete um olhar aprofundado sobre o assassinato do ator Rafael Miguel e de seus pais, distanciando-se do sensacionalismo e focando nas consequências emocionais, familiares e judiciais da tragédia.
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Quem foi Rafael Miguel?
Rafael Henrique Miguel, nascido em São Paulo em 9 de julho de 1996, era um ator e professor brasileiro com uma carreira promissora desde a infância. Ganhou notoriedade ainda criança por um famoso comercial de suplemento nutricional, onde pedia brócolis à mãe de forma escandalosa.
Sua atuação se estendeu à televisão, participando de minisséries como “JK” (2006) e novelas como “Cristal” (2006), “Pé na Jaca” (2006-2007), “Cama de Gato” (2009) e, notavelmente, como o personagem Paçoca na versão brasileira de “Chiquititas” (2013-2015), exibida pelo SBT.
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O brutal assassinato: ciúme e obsessão fatal
A vida de Rafael Miguel foi tragicamente interrompida em 9 de junho de 2019, aos 22 anos, em um crime que chocou o Brasil. Ele e seus pais, João Alcisio Miguel, de 52 anos, e Miriam Selma Miguel, de 50, foram assassinados a tiros por Paulo Cupertino Matias, pai de Isabela Tibcherani, namorada do ator.
O crime ocorreu na frente da casa de Isabela, no bairro do Socorro, zona sul de São Paulo, quando Rafael e seus pais foram conversar com Cupertino para pedir a aprovação do namoro. O Ministério Público de São Paulo afirmou que Cupertino não aceitava o relacionamento da filha e agiu com premeditação e crueldade. As vítimas foram atingidas por pelo menos 13 disparos e morreram no local. Segundo a sinopse da série, o ato foi motivado por ciúmes e obsessão.
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A fuga e a captura de Paulo Cupertino
Após cometer o triplo homicídio, Paulo Cupertino fugiu, tornando-se o criminoso mais procurado do Estado de São Paulo e permanecendo foragido por quase três anos. Durante esse período, ele utilizou diversos disfarces e documentos falsos, como o nome de “Manoel Machado da Silva”, e circulou por dezenas de cidades em diversos estados brasileiros, além de ter passado pela cidade argentina de Puerto Iguazú.
Amigos o ajudaram a se esconder, alguns dos quais foram posteriormente processados por essa colaboração. A prisão de Cupertino ocorreu em 16 de maio de 2022, em um hotel no bairro de Interlagos, São Paulo, graças a uma denúncia anônima.
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O julgamento e a condenação: foi feita justiça?
O caso de Paulo Cupertino envolveu dois julgamentos. O primeiro, em outubro de 2024, foi anulado após o réu destituir seu advogado de defesa. O segundo e definitivo julgamento teve início em 29 de maio de 2025, durando dois dias.
Durante o processo, Cupertino negou a autoria do crime, alegando que “nunca na [sua] vida, teve conhecimento do Rafael, da senhora Miriam ou do senhor João” e que “não tinha motivo, não tinha crime premeditado”.
No plenário do júri, ele chegou a afirmar que não tinha “pesadelo, não sonho, não tenho arrependimento” e que era “impossível [ele] ter cometido esse crime”. A defesa alegou que ele fugiu por medo de um “linchamento midiático” e que “estar foragido não é nota de culpa”.
No entanto, o Ministério Público o descreveu como alguém de “caráter repugnante”, que agiu com “descontrole” e “ódio”. A acusação ironizou a fala de Cupertino, comparando-o a “muito pior que um animal, porque um animal só ataca quando acuado ou com fome”.
Ao final do segundo julgamento, em 30 de maio de 2025, Paulo Cupertino foi condenado a 98 anos de prisão em regime fechado por triplo homicídio qualificado, por motivo torpe e por impossibilitar a defesa das vítimas. Dois amigos acusados de ajudá-lo na fuga foram absolvidos.
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Isabela Tibcherani: a voz da vítima
Um dos principais méritos da série documental da HBO Max é dar voz a Isabela Tibcherani, a namorada de Rafael e filha de Paulo Cupertino. A produção a acompanha em momentos íntimos e importantes, inclusive durante o julgamento, buscando contar a história com o olhar dela, algo inédito.
Isabela e sua mãe, Vanessa Tibcherani de Camargo, revelaram em depoimentos chocantes o perfil violento e controlador de Cupertino, incluindo episódios de abuso físico e psicológico que Isabela viveu ao longo de sua vida e que sua mãe sofreu por anos.
Vanessa relatou ter sido espancada diversas vezes, com fraturas em costelas e nariz, e até ter tido as costas “descamadas” por golpes de facão. Isabela também foi vítima, mencionando um prato de vidro quebrado em sua cabeça pelo pai.
A participação de Isabela humaniza os desdobramentos do crime e joga luz sobre o ciclo de violência doméstica e abuso psicológico vivenciado na família. Ela foi alvo de ataques nas redes sociais após o crime e a série busca que o público conheça sua verdadeira história e sua dor. A complexidade emocional de ser filha do assassino e parceira da vítima é retratada, mostrando que ela “não pode comemorar a prisão do pai”, o que gera uma forte reflexão.
Crimes passionais no Brasil
O caso de Rafael Miguel se insere na complexa discussão sobre crimes passionais no Brasil. Definido como o homicídio de uma pessoa por outra com quem há uma ligação afetiva ou sexual, motivado por sentimentos intensos como amor, ódio, mágoa ou ira, resultantes de ciúmes, rejeição e obsessão. Historicamente, o homicídio passional foi um tema controverso no direito brasileiro, sem uma definição clara no Código Penal.
Por muito tempo, a literatura e até mesmo o ordenamento jurídico, como as Ordenações Filipinas do período colonial, romantizaram a figura do homicida passional, especialmente em casos de adultério feminino, onde o agressor podia ser absolvido por “lavar a honra com sangue”. O Código Penal de 1940, embora não isentasse o agente de pena, previa a emoção ou paixão como atenuante (art. 121, §1º), permitindo a redução da pena, o que era conhecido como “homicídio privilegiado”.
No entanto, a sociedade e a legislação têm evoluído. Atualmente, a “legítima defesa da honra” em casos de adultério não é mais aceita como justificativa para o crime. O artigo 28 do Código Penal de hoje não considera a emoção ou paixão como excludentes da imputabilidade penal, a menos que haja uma doença mental que impeça a compreensão do ato.
O perfil do homicida passional é complexo: muitas vezes, são indivíduos com ciúmes, raiva e um sentimento de posse sobre a vítima, agindo de forma premeditada, impulsionados pelo ódio, não pelo amor. Alguns estudos indicam uma preocupação com a repercussão social e a defesa do orgulho, além de aspectos machistas e possessivos, que veem a mulher como um “objeto de uso exclusivo”. O caso de Guilherme de Pádua contra Daniella Perez, com 18 golpes de tesoura, ilustra a violência extrema e o desejo de matar repetidamente.
A comoção social gerada por crimes como o de Daniella Perez impulsionou mudanças legislativas significativas. Glória Perez, mãe de Daniella, liderou uma iniciativa popular que resultou na inclusão do homicídio qualificado no rol de crimes hediondos pela Lei nº 8.930/94, endurecendo a punição para esses delitos.
Atualmente, o homicídio passional, quando qualificado (o que é comum dados seus motivos), é classificado como crime hediondo, refletindo uma maior rigidez no ordenamento jurídico brasileiro. Leis como a Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) e a Lei do Feminicídio (Lei nº 13.104/2015) também fortalecem a proteção às mulheres, as maiores vítimas desses crimes, e endurecem as penas para os agressores.
O Assassinato do Ator Rafael Miguel vai além do sensacionalismo
A docussérie “O Assassinato do Ator Rafael Miguel” é uma produção original da HBO Max e da Grifa Filmes, dirigida por Maurício Dias e com Adriana Cechetti como diretora da Warner Bros. Discovery. A equipe buscou uma abordagem documental que se distancia da reencenação dramatizada, priorizando o relato direto dos envolvidos e das autoridades.
A série “não encontrou opções gratuitas” no momento de sua checagem de agosto de 2025, sendo disponibilizada por assinatura na HBO Max e no HBO Max Amazon Channel. Ela tem classificação indicativa de 16 anos, duração de 41 minutos por episódio (total de 3 episódios em 1 temporada) e é falada em português, com legendas em inglês, português, espanhol e francês. No ranking diário de streaming JustWatch, em 9 de agosto de 2025, a série estava na 14ª posição, caindo 4 posições desde o dia anterior.
O objetivo da produção é mostrar “o lado das vítimas que sobreviveram” e fugir das manchetes superficiais, mergulhando na humanidade das pessoas envolvidas. Ao dar voz às vítimas e explorar as violências estruturais, como o feminicídio e o controle masculino, a série convida o público a uma reflexão mais profunda sobre as causas subjacentes dessas tragédias. Utiliza elementos inéditos da investigação, além de registros pessoais como o diário de Isabela e áudios de podcast de Rafael, para construir o pano de fundo do relacionamento.
“O Assassinato do Ator Rafael Miguel” não é apenas um relato cronológico de um crime, mas um “retrato sombrio, mas necessário, de um Brasil onde o feminicídio, o controle masculino e a impunidade ainda geram tragédias anunciadas”. A série espera gerar reflexão sobre como a sociedade olha para esses casos e a importância de não julgar as vítimas.
Onde assistir à série O Assassinato do Ator Rafael Miguel?
A série está disponível para assistir na HBO Max.