O episódio 3 de It: Bem-Vindos a Derry, “Agora Você o Vê”, surge com a responsabilidade de pavimentar o caminho para a metade da temporada, um momento crucial onde a série precisa parar de flertar com seus personagens e partir para o abraço – ou, no caso, para o estrangulamento.
Este capítulo é inegavelmente o mais ambicioso em termos de mitologia, jogando flashbacks em 1908 na nossa cara e nos forçando a reconsiderar o General Shaw. No entanto, o episódio tem uma estrutura desigual.
Se, por um lado, ele aprofunda a trama adulta com conversas cheias de tensão e lore kingiana, por outro, ele tropeça feio na ação juvenil, entregando um clímax que mais parece ter saído de uma série de terror adolescente dos anos 2000 do que de uma produção que carrega o peso de Stephen King e Andy Muschietti.
Sinopse
Intitulado “Agora Você o Vê”, o episódio 3 nos puxa para o passado de Derry, começando em 1908 com um jovem Francis Shaw, que encontra “A Coisa” na forma do “Homem Esqueleto” em um parque de diversões bizarro, uma experiência que molda seu trauma e motivação atuais.
De volta a 1962, o General Shaw (James Remar) agora usa o sensitivo Dick Hallorann (Chris Chalk) e o major Leroy Hanlon (Jovan Adepo) para caçar a entidade por via aérea. Um flash psíquico de Dick ao tocar o estilingue de Shaw – resgatado daquele encontro em 1908 – revela o covil subterrâneo e uma visão aterrorizante do palhaço Pennywise.
Enquanto a trama militar se aprofunda (e nos presenteia com um jantar tenso na casa dos Hanlon), as crianças formam seu próprio “Clube dos Perdedores 2.0”. Lilly é liberada do sanatório de Juniper Hill (com uma rapidez questionável) e, junto com Ronnie, recruta Will e Rich para tentar provar a inocência do pai de Ronnie.
O plano? Realizar uma espécie de sessão espírita/ritual em um cemitério para fotografar as assombrações. O clímax é uma perseguição desajeitada de bicicleta pelos espectros dos amigos mortos, resultando em uma foto borrada de um palhaço, confirmando que Pennywise está à espreita.
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Resenha crítica
O passado que não passa: a consistência da mitologia 🕰️
O ponto mais forte de “Agora Você o Vê” é, sem dúvida, o aprofundamento da mitologia de Derry e de seus personagens adultos. A introdução em 1908 não é apenas um flashback aleatório; ela estabelece que o ciclo de Pennywise é antigo e, mais importante, mostra que o General Shaw é um “Garoto de Derry” com trauma próprio, e não apenas um militar genérico obcecado pela Guerra Fria.
Essa conexão pessoal (e a reconexão com Rose, a nativa americana que o salvou) adiciona uma camada de complexidade bem-vinda ao seu personagem, elevando a trama militar de uma caça genérica a uma jornada de vingança pessoal.
Da mesma forma, a consolidação de Dick Hallorann no centro da ação adulta é um deleite. Chris Chalk está excelente, capturando a aura de um homem que carrega um fardo psíquico. O momento em que ele toca o estilingue e é jogado numa visão do covil de Pennywise é pura tensão.
A cena do jantar com os Hanlon, então, é um show à parte: a conversa tensa entre Dick e Leroy sobre a mente “analítica” do Major, que não sente medo, é um dos momentos mais bem escritos e atuados da série até agora. A série parece brilhar de forma mais coesa quando se concentra nos diálogos e nas subtramas psicológicas dos adultos.

CGI de ‘Sessão da Tarde’ e o clímax que desaponta 📉
Apesar dos acertos no lore, o episódio sofre um tropeço monumental na sua parte de terror, especificamente na sequência do cemitério. A proposta é boa: um novo “Clube dos Perdedores” tentando provar a existência do mal. Contudo, o que se segue é um festival de efeitos visuais datados.
A perseguição das crianças em suas bicicletas pelos fantasmas dos amigos, além de remeter inevitavelmente a Stranger Things (um paralelo que a série deveria desesperadamente evitar), parece cafona. Os espectros são genéricos e a correria de bicicleta em meio ao cemitério é mal filmada e excessivamente animada, parecendo mais um desenho animado de Scooby-Doo do que uma cena de terror psicológico.
O uso de CGI moderno e over-the-top retira o ar de terror que o cenário (um cemitério à noite, iluminado por velas) prometia. A sequência falha miseravelmente em construir tensão, e a repetição de sustos genéricos enfraquece a força da entidade. O palhaço está lá, mas o medo, definitivamente, não está.
O ‘Clube dos Perdedores 2.0’ e o déjà vu narrativo 🔁
A série gasta tempo realocando suas peças no tabuleiro infantil após o massacre do primeiro episódio, e isso gera um problema de déjà vu. Lilly é jogada para fora de Juniper Hill sem nenhuma exploração séria do trauma da reinstitucionalização.
O roteiro simplesmente a coloca de volta em sua rotina para que ela possa reunir o novo grupo (Lilly, Ronnie, Will e Rich). Embora seja compreensível que a série precise de um grupo de crianças, a formação apressada e as subtramas (como o interesse de Will por Ronnie e o de Rich por Marge) são superficiais.
A urgência em “recriar” o Clube dos Perdedores parece engolir o desenvolvimento individual dos personagens, e a sensação de que estamos assistindo à mesma história se repetir, sem uma nova camada interessante, é um sinal amarelo. A exceção é o vislumbre final de Pennywise, borrado na fotografia, que ainda consegue gerar um pequeno arrepio, provando que o terror mais sutil e insinuado ainda é o seu maior trunfo.
Conclusão
O episódio 3 de It: Bem-Vindos a Derry é recheado de contrastes. De um lado, temos um drama adulto rico em lore kingiana, com flashbacks envolventes e atuações de peso, especialmente de Chris Chalk (Dick Hallorann) e James Remar (General Shaw), que dão profundidade a motivações antes unidimensionais. Do outro, temos uma narrativa juvenil fraca culminando em uma sequência de terror que desaponta pelo excesso de efeitos visuais de baixa qualidade.
A série mostra que sabe construir tensão psicológica e conectar diferentes épocas da mitologia de Derry. Mas, ironicamente, falha na entrega do medo primário, que é a essência de It. “Agora Você o Vê” consolida a ideia de que Bem-Vindos a Derry é, no momento, um excelente drama de mistério e trauma adulto que precisa urgentemente calibrar sua bússola para o terror juvenil.
O palhaço está quase visível, mas a série precisa garantir que, quando ele finalmente aparecer por completo, a gente sinta o terror na espinha, e não apenas uma pontada de vergonha alheia pelo CGI.
Onde assistir à série It: Bem-Vindos a Derry?
A série “It: Bem-Vindos a Derry” está disponível para assistir na HBO e na HBO Max.
Veja o trailer de It: Bem-Vindos a Derry (2025)

Quem está no elenco de It: Bem-Vindos a Derry, da HBO?
- Mikkal Karim Fidler
- Bill Skarsgård
- Joshua Odjick
- Jack Molloy Legault
- Amanda Christine
- Jovan Adepo
- Clara Stack
- Miles Ekhardt

















