Em um mundo que insiste em encaixotar o amor e a família em modelos ultrapassados, o documentário Lar, dirigido por Leandro Wenceslau, chega às telas com uma proposta simples, mas revolucionária: provar que o afeto, e não o sangue ou a convenção, é o verdadeiro alicerce de qualquer casa.
A obra se propõe a ser um mergulho nas dinâmicas de três famílias LGBTIAPN+, vistas principalmente pelos olhos de seus filhos, entrelaçando essas vivências com a jornada pessoal de autodescoberta do próprio diretor. É um filme que acerta em cheio na mensagem e na necessidade de representatividade, mas que tropeça um pouco no caminho da forma e do ritmo narrativo.
Sinopse
Lar é um documentário que acompanha o cotidiano de três famílias cheias de carinho, mas fora da caixa do “tradicional”. O diretor Leandro Wenceslau foca no olhar das crianças e adolescentes desses lares, revelando suas alegrias, seus desafios e a naturalidade de seus arranjos familiares diversos.
O filme não foge dos obstáculos reais, como a dificuldade no reconhecimento legal da parentalidade e os episódios de preconceito (inclusive no ambiente escolar), construindo um retrato de amor e resistência.
Em paralelo a essas histórias, Wenceslau insere recortes de sua própria trajetória de busca por pertencimento, transformando o documentário em uma reflexão íntima sobre como o conceito de “lar” é construído no cuidado mútuo, desbancando formatos rígidos e obsoletos.
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Resenha crítica do documentário Lar
A maior força de Lar reside em sua sensibilidade e na urgência de seu tema. O filme é corajoso ao mostrar que a família, em sua essência, é um projeto de cuidado e presença, não de fórmula. O foco nos filhos e filhas das famílias LGBTIAPN+ é um acerto notável, pois é através da naturalidade e da espontaneidade das crianças que o preconceito social é desarmado.
Ver pais e filhos brincando na piscina, jogando videogame ou conversando sobre namoro online é um lembrete poderoso de que o cotidiano do afeto transcende qualquer rótulo de orientação sexual ou identidade de gênero. O documentário se torna, então, um ato de resistência e visibilidade, uma peça necessária no cinema brasileiro que ainda carece de representações autênticas e não estereotipadas da diversidade.

Entre o pessoal e o coletivo
O documentário tem uma proposta ambiciosa de entrelaçar três narrativas de famílias com a jornada pessoal do diretor. Esse gesto de Wenceslau — de se colocar na obra, não apenas como um observador, mas como alguém em busca de seu próprio lugar — é profundamente íntimo e honesto. A ideia de usar a própria infância e o desejo de ter filhos como ponto de partida é um recurso poderoso.
No entanto, o filme inicia com esse paralelo pessoal, mas o abandona rapidamente, apesar das boas intenções, o documentário peca por ter um ritmo irregular e uma montagem confusa, onde as belas cenas de ternura e descontração parecem isoladas, sem uma progressão dramática ou um elo narrativo coeso que costure as histórias em algo maior. A falta de uma condução narrativa mais clara ou de depoimentos mais densos deixa a sensação de incompletude, o que pode afastar espectadores.
Um amor que ofusca demais a luta
É lindo que o filme reforce a ideia de que o amor e o respeito mútuo são os pilares da família, mas a insistência em focar na ternura acaba, paradoxalmente, diminuindo a força do retrato. Ao enfatizar constantemente o afeto, o filme trata os conflitos — as situações de preconceito, as questões legais de reconhecimento parental, o bullying na escola — de forma muito rasa e breve.
Essas dificuldades são a prova da resistência dessas famílias e, quando tratadas superficialmente, tiram um pouco da potência crítica da obra. O documentário emociona, mas emociona mais pelo que representa (a luta pela legitimidade) do que pela forma como explora profundamente essas complexidades.
Conclusão
Lar é um filme bonito e agridoce, que vale muito mais pela sua relevância temática e pela honestidade com que aborda a parentalidade LGBTIAPN+ do que por sua execução técnica. Sua estrutura é, de fato, um pouco lenta e confusa, e a falta de coesão narrativa pode fazer o espectador se desconectar em alguns momentos.
Contudo, esse pequeno tropeço estrutural não anula a importância da obra. O documentário de Leandro Wenceslau nos lembra, com carinho, que o verdadeiro lar é aquele que acolhe nossos afetos e nossas cicatrizes. É um passo importante no cinema documental brasileiro, que nos convida a sair das convenções e entender, de uma vez por todas, que o amor, de fato, não tem fórmula estabelecida.
Onde assistir ao documentário Lar?
O filme estreia nesta quinta-feira, 13 de novembro de 2025, exclusivamente nos cinemas brasileiros.















