O documentário “Mamãe Golpista”, disponível na Netflix, entrega muito mais do que uma típica história de golpe. A produção dirigida por Nick Green, indicada ao BAFTA, se apresenta inicialmente como mais uma narrativa dentro da “cartilha dos golpes emocionais”, mas rapidamente mergulha em uma espiral de dor, carência afetiva e destruição pessoal.
O chef britânico Graham Hornigold, referência no mundo da confeitaria, é a vítima central de uma mulher que se apresenta como sua mãe biológica. O que parecia um reencontro tocante se transforma em um devastador pesadelo.
Sinopse do documentário Mamãe Golpista (2025)
Graham Hornigold, respeitado chef confeiteiro e cofundador da rede Longboys, recebe um e-mail durante a pandemia de 2020. A remetente é Dionne, uma mulher que diz ser sua mãe biológica, separada dele ainda bebê. Após um encontro emocional em Liverpool, Dionne revela uma história espetacular: é filha ilegítima do sultão de Brunei, está com câncer terminal e quer transferir sua fortuna ao “filho recém-encontrado”.
O que se desenrola é uma trama de manipulação sofisticada. Dionne se instala em hotéis cinco estrelas, distribui presentes luxuosos e promete heranças milionárias — tudo aparentemente sustentado por ela mesma, mas na prática financiado por Graham. Quando a verdade começa a emergir — incluindo o uso de corante vermelho para simular sangue —, já é tarde demais. Graham está afundado em dívidas, seu casamento ruído, e sua vida, outrora estável, devastada.
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Crítica do filme Mamãe Golpista, da Netflix
O maior trunfo de “Mamãe Golpista” é não se apoiar apenas no choque da fraude, mas sim explorar as emoções profundas que a tornaram possível. A ausência materna de Graham e seu histórico de abusos na infância criam uma vulnerabilidade latente que Dionne explora com precisão cirúrgica.
Mais do que dinheiro, o que está em jogo é a necessidade urgente de afeto, pertencimento e uma reparação emocional que nunca veio. Isso torna o documentário mais sombrio, íntimo e perturbador do que a maioria dos filmes sobre golpes.
Dionne: vilania sem redenção
Dionne não é retratada como uma trambiqueira carismática — o tipo que normalmente aparece nesses documentários. Ela é manipuladora, fria, e suas ações não são movidas por desespero, mas por prazer no controle e no caos que causa.
A ausência de qualquer remorso, aliada à performance afetiva ensaiada, transforma-a em uma figura assustadora. O documentário, ao não entregar qualquer redenção ou punição, reforça a brutalidade do golpe: Dionne sai impune, enquanto Graham carrega cicatrizes profundas.
Realismo cruel e sem catarse
Ao contrário do que se espera, “Mamãe Golpista” não oferece alívio ao fim. Não há justiça feita, redenção emocional ou “lições aprendidas” claramente expressas. É um retrato cru de uma vida despedaçada por um ato de confiança.
A ausência dessa estrutura narrativa tradicional — comum em produções do gênero — pode frustrar alguns espectadores, mas é justamente esse realismo brutal que dá ao documentário sua força. Não há consolo, apenas uma dolorosa consciência de que, às vezes, o mal vence.
A figura de Graham: vítima, mas nunca passivo
A escolha de Graham em expor sua história publicamente pode causar questionamentos. Por que revisitar tamanha dor diante das câmeras? Mas sua decisão parece menos um ato de vaidade e mais um grito de alerta.
Ele não é mostrado como ingênuo ou tolo, mas como alguém que quis acreditar — não em um conto de fadas, mas em um final feliz que lhe foi negado desde a infância. Sua vulnerabilidade não diminui sua dignidade; ao contrário, a realça.
Conclusão
“Mamãe Golpista” é um documentário devastador, não apenas por expor uma fraude, mas por desnudar as dores profundas que nos tornam suscetíveis a elas. Em vez de explorar o escândalo pela via sensacionalista, a produção oferece um estudo sobre solidão, traumas não resolvidos e os perigos de buscar no presente uma cura para feridas do passado.
Graham Hornigold, com sua carreira admirável e sua trajetória de superação, é a imagem de alguém que, apesar do colapso emocional e financeiro, não deixou de acreditar — e essa crença, infelizmente, foi explorada ao limite.
Mais do que uma lição sobre estelionato, “Mamãe Golpista” é um lembrete cruel: às vezes, o desejo de amar e ser amado é o que mais nos expõe. E mesmo entre laços de sangue inventados, a dor que fica é absolutamente real.
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Onde assistir ao documentário Mamãe Golpista?
O filme está disponível para assistir na Netflix.
Trailer de Mamãe Golpista (2025)
Ficha técnica de Mamãe Golpista, da Netflix
- Título original: Con Mum
- Gênero: documentário, policial
- País: Reino Unido
- Duração: 88 minutos
- Classificação: 12 anos