Início » ‘Maré Alta’ encanta os olhos, mas não o coração

Em um cenário onde o cinema LGBTQIAPN+ vem buscando novas formas de contar histórias de afeto, deslocamento e pertencimento, o filme “Maré Alta” surge como uma proposta intimista e sensível. Dirigido por Marco Calvani e protagonizado por Marco Pigossi, o longa tem como pano de fundo a vila de Provincetown, nos Estados Unidos — local historicamente associado à resistência e ao refúgio da comunidade queer.

A obra mistura ficção e elementos autobiográficos, tanto do diretor quanto do ator principal, e tenta articular questões urgentes como imigração, sexualidade e identidade através do olhar de um homem que busca reencontrar a si mesmo. No entanto, entre cenas visualmente belíssimas e uma atuação de destaque, o filme oscila entre a contemplação e a superficialidade, entregando uma experiência que encanta em partes, mas não mergulha com a profundidade que promete.

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Sinopse do filme Maré Alta

Em “Maré Alta”, acompanhamos Lourenço (Marco Pigossi), um imigrante brasileiro que vive em Provincetown, Massachusetts — uma vila costeira que serviu de abrigo à comunidade gay durante os anos mais sombrios da crise da AIDS. Recém-saído de um relacionamento e com o visto prestes a vencer, ele tenta reconstruir a própria vida em um lugar onde ainda se sente estrangeiro.

É nesse contexto que conhece Maurice (James Bland), um enfermeiro de Nova York que está de passagem antes de embarcar para uma missão médica na África.

O encontro entre os dois homens desencadeia em Lourenço uma busca por pertencimento, autodescoberta e aceitação, enquanto lida com cobranças da família no Brasil, os resquícios de amores antigos e a pressão de viver uma vida que não lhe cabe mais.

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Crítica de Maré Alta (2025)

Desde os primeiros minutos, o oceano se impõe como personagem em “Maré Alta”. Ele não apenas aparece como cenário, mas também como metáfora para o estado emocional de Lourenço. O diretor e roteirista Marco Calvani acerta ao construir uma narrativa que respeita os silêncios, os vazios e os momentos de pausa que marcam o cotidiano de quem está à deriva.

A fotografia de Oscar Ignacio Jiménez é outro trunfo do longa, explorando luz natural e sombras com precisão quase poética. As cenas na praia, nos quartos abafados ou durante os passeios com Maurice reforçam o senso de intimidade e a sensação de suspensão no tempo.

Pigossi em cena: uma âncora emocional

Marco Pigossi entrega uma atuação que vai além da performance — é vivência. Sua composição de Lourenço carrega uma angústia silenciosa, expressa com intensidade contida. O olhar perdido, o sorriso hesitante e a postura vacilante constroem um personagem que, embora deslocado, insiste em se conectar.

É nítido o cuidado com que Calvani filma Pigossi — não apenas por serem parceiros na vida real, mas porque o roteiro oferece ao ator espaço para respirar e para habitar o personagem sem pressa. Essa liberdade se traduz em momentos de pura verdade cênica.

Quando a maré vira: o peso das intenções mal resolvidas

Apesar de sua força sensível, “Maré Alta” tropeça ao tentar abarcar temas demais com profundidade de menos. O filme propõe discussões relevantes — imigração, identidade, racismo estrutural, sexualidade —, mas os trata de forma muitas vezes rasa e didática, como se estivesse cumprindo uma cartilha. A crítica social aparece mais como ilustração do que como substância.

Além disso, o terceiro ato revela certa insegurança narrativa. Ao buscar conflitos mais evidentes, o roteiro abandona o tom contemplativo que vinha sustentando com sucesso. As tensões se tornam artificiais, os diálogos mais expositivos e as situações, convenientes. Há uma tentativa de emocionar o espectador que, paradoxalmente, esvazia a emoção genuína construída até então.

Um retrato LGBTQIAPN+ que oscila entre autenticidade e ingenuidade

A representatividade que “Maré Alta” tenta alcançar é louvável — e em muitos momentos, alcançada. A forma como Maurice é retratado, por exemplo, foge de estereótipos e oferece uma imagem complexa e sensível do homem negro e queer. Há cenas de rara beleza emocional, como a do chuveiro, que comunicam mais do que palavras jamais conseguiriam.

Por outro lado, a jornada sexual de Lourenço parece tratada com certa ingenuidade, destoando da complexidade das experiências reais. Sua autodescoberta é encenada como se fosse uma epifania adolescente, o que não condiz com o contexto do personagem nem com o panorama atual do cinema queer — que tem avançado em profundidade e autenticidade.

Conclusão

“Maré Alta” é, antes de tudo, um filme de boas intenções. Ele deseja falar sobre pertencimento, afetos e a complexidade de ser quem se é num mundo que nem sempre acolhe. Em parte, consegue. Seus momentos mais silenciosos e sinceros, ancorados na atuação de Pigossi e na direção sensível de Calvani, são belas cápsulas de humanidade.

No entanto, quando tenta dizer mais do que pode, afoga-se em suas próprias ambições. O que poderia ter sido um estudo emocional profundo se torna uma experiência superficial, ainda que visualmente envolvente. O mar, que no início convida ao mergulho, acaba apenas molhando os pés.

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Onde assistir ao filme Maré Alta?

O filme estreou no dia 20 de março de 2025 nos cinemas.

Trailer de Maré Alta (2025)

Elenco do filme Maré Alta

  • Marco Pigossi
  • James Bland
  • Marisa Tomei
  • Bill Irwin
  • Sean Mahon
  • Mya Taylor
  • Bryan Batt
  • Todd Flaherty

Ficha técnica de Maré Alta

  • Título original: High Tide
  • Direção: Marco Calvani
  • Roteiro: Marco Calvani
  • Gênero: drama, romance
  • País: Estados Unidos
  • Duração: 105 minutos
  • Classificação: 16 anos

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