Criada, escrita e protagonizada por Benito Skinner, a série “Muito Esforçado” surge como uma comédia dramática universitária que tenta, ao mesmo tempo, ser um retrato íntimo da descoberta da sexualidade e uma sátira das tradições masculinas tóxicas nas fraternidades americanas.
Apoiada pela grife da A24 e pela força do Prime Video, a série traz um protagonista que parece estar constantemente deslocado — tanto em seu tempo quanto em sua identidade. A seguir, exploramos os altos e baixos dessa estreia tão pessoal quanto contraditória.
Sinopse da série Muito Esforçado (2025)
A série acompanha Benny (Skinner), um ex-jogador de futebol americano, rei do baile e aluno nota 10, que inicia sua vida universitária escondendo um grande segredo: ele é gay. Na fictícia Yates University, Benny tenta manter a fachada hétero, inclusive se aproximando de Carmen (Wally Baram), uma colega também à deriva, que quer se enturmar a qualquer custo.
Ao longo de oito episódios, acompanhamos a repressão emocional de Benny e sua jornada gradual rumo à aceitação, permeada por momentos absurdos, conflitos internos e aparições inusitadas — como a de Charli XCX e de um pôster falante de Megan Fox.
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Crítica de Muito Esforçado, do Prime Video
Embora venha de uma carreira bem-sucedida no humor escrachado nas redes sociais, Skinner opta aqui por uma abordagem surpreendentemente sóbria. A maior parte da série é mais contida do que o histórico de “BennyDrama7” sugeriria. Os momentos de comédia pastelão — como uma cena com uma camisinha retirada do lixo prestes a ser lambida — dividem espaço com crises existenciais e diálogos sobre luto, identidade e aceitação.
Essa tentativa de equilibrar tons tão distintos resulta, muitas vezes, em um desequilíbrio: o drama quer ser comovente, mas é superficial; a comédia quer ser provocadora, mas parece reciclada dos anos 2000. O resultado é uma narrativa que hesita entre o genuíno e o performático, sem se comprometer plenamente com nenhum dos lados.
A confusão temporal como metáfora (ou falha de roteiro)
Um dos elementos mais discutidos de “Muito Esforçado” é sua ambiguidade cronológica. A trilha sonora — que inclui Britney Spears, Lorde e Charli XCX — sugere um universo situado entre 2010 e 2020. Ao mesmo tempo, o uso de tecnologias modernas, como o Spotify Wrapped, remete ao presente.
Essa colcha de retalhos temporal talvez busque criar um espaço emocionalmente atemporal para o protagonista, mas acaba confundindo mais do que enriquecendo. É como se o roteiro estivesse preso entre a nostalgia millennial e os códigos culturais da Geração Z, sem realmente dialogar com nenhum desses públicos de forma eficaz.
Skinner: um protagonista fora do tempo e do tom
Skinner, aos 31 anos, interpreta um calouro universitário com certo distanciamento, o que torna seu Benny um personagem curioso: simultaneamente verossímil e artificial. Sua performance é mais contida do que suas criações para a internet, e isso cobra um preço.
Falta a leveza cômica e a irreverência que o tornaram famoso. Quando Benny começa a se apaixonar por Miles (Rish Shah), temos os melhores momentos da série — mais soltos, sinceros, e até ternos —, mas eles são raros.
Além disso, a escolha de manter Benny próximo de figuras masculinas tóxicas, como Peter (Adam DiMarco), estende o tempo de tela para diálogos rasos, piadas misóginas e “bromances” que pouco acrescentam. É curioso (e frustrante) perceber que uma série sobre um homem gay acaba girando, quase o tempo todo, em torno de personagens heteronormativos.
Destaques no elenco e estética nostálgica
Apesar dos tropeços, há personagens secundários que se destacam. Holmes rouba a cena como Hailee, a colega de quarto desbocada de Carmen, e Mary Beth Barone injeta doses de ironia ao interpretar Grace, irmã de Benny e símbolo do mimetismo de personalidade.
A estética da série remete ao início dos anos 2010, com colagens visuais, festas em dormitórios e referências pop que vão de Glee a Garota Infernal. Essas escolhas podem agradar quem busca um toque de nostalgia, mas também ressaltam a desconexão entre o que “Muito Esforçado” tenta ser e o que de fato entrega.
Conclusão
“Muito Esforçado” é uma série carregada de boas intenções e momentos pontuais de brilho, mas que sofre com uma identidade narrativa frouxa. Ao tentar retratar a jornada de aceitação de um jovem gay sob a lente da comédia, Benito Skinner entrega algo entre o autorreferente e o desatualizado — como se falasse de sua adolescência sem conseguir traduzi-la para os tempos atuais.
A série tem valor simbólico, principalmente para quem já viveu o medo de se assumir em ambientes hostis, mas falta-lhe precisão narrativa e consistência tonal. No fim das contas, “Muito Esforçado” se parece com o próprio protagonista: alguém que tenta demais ser algo que ainda não conseguiu descobrir o que é.
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Onde assistir à série Muito Esforçado?
A série está disponível para assistir no Prime Video.
Trailer de Muito Esforçado (2025)
Elenco de Muito Esforçado, do Prime Video
- Benito Skinner
- Wally Baram
- Mary Beth Barone
- Adam DiMarco
- Rish Shah
Ficha técnica da série Muito Esforçado
- Título original: Overcompensating
- Criação: Benito Skinner
- Gênero: comédia
- País: Estados Unidos
- Temporada: 1
- Episódios: 8
- Classificação: 16 anos