‘Nada’: filme nacional aborda a memória afetiva de maneira peculiar

Foto: Divulgação
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O primeiro longa-metragem de Adriano Guimarães, ‘Nada’, tem o tom de um documentário de fantasia, por mais que pareça controverso a existência de algo assim. Entretanto, documentar a memória já é, por si só, entrar no universo da fantasia, afinal, o que é a lembrança senão algo que não existe mais?

A obra se propõe a narrar a história de Ana, que precisa voltar à casa em que cresceu para cuidar da irmã, com uma espécie de aneurisma cerebral. Ao retornar ao seu lugar de origem, Ana descobre um mistério que envolve não só a irmã, mas todas as demais pessoas que vivem nas redondezas.

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Sinopse

‘Nada’ acompanha o retorno de Ana (Bel Kowarick), uma artista plástica que abandona uma importante exposição para voltar à fazenda onde cresceu e reencontrar a irmã Teresa (Denise Stutz), afetada por uma misteriosa doença que distorce sua consciência e percepção da realidade.

De volta à terra natal, Ana é confrontada por memórias esquecidas e por fantasmas do passado que parecem ganhar forma. À medida que os dias passam, o cotidiano da fazenda começa a se fundir com fenômenos inexplicáveis, potencializados por uma estranha tecnologia que influencia os moradores da região.

Nesse espaço onde o tempo parece falhar e a lógica se fragmenta, ‘Nada’ se constrói como uma história sobre perda, memória, ausência e sobre como o extraordinário pode se infiltrar nas frestas da vida comum.

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Crítica

Logo nos primeiros minutos, ‘Nada’ se impõe como uma experiência visual e sensorial, fortemente influenciada pela trajetória teatral de Guimarães. A direção se destaca pelo cuidado com o espaço cênico e pelo uso poético da arquitetura, em especial o contraste entre a monumentalidade do Museu de Niemeyer e os ambientes íntimos da casa de Teresa, rústicos.

Esses espaços não apenas abrigam os personagens, mas também refletem suas memórias, ausências e fantasmas emocionais. O cotidiano de Teresa é construído com uma estranheza naturalizada, na qual a presença da mãe falecida à mesa do jantar não causa mais surpresa, é apenas mais um elemento da sua rotina fragmentada.

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Ana, Teresa e a mãe (já falecida) jantam. (Foto: Divulgação)

A Antena como Dispositivo de Ruptura

Um dos elementos mais instigantes do filme é a antena misteriosa presente na comunidade. Longe de ser apenas um recurso de ficção científica, ela funciona como um catalisador das lembranças e das perturbações psíquicas dos personagens.

Sons, visões e vozes do passado atravessam o presente com força material, afetando especialmente Teresa, já adaptada a esse fluxo sensorial. Em contraponto, Ana encara esses fenômenos com inquietação, usando a tecnologia audiovisual como tentativa de reaproximação e entendimento da irmã. A relação entre elas é mediada por dispositivos, câmeras, vídeos, ruídos, que se tornam extensões do que não pode ser dito diretamente.

Essa dificuldade de comunicação é tratada com delicadeza e melancolia, e o filme aposta no silêncio como estratégia narrativa, já desde as primeiras cenas. A câmera, mais do que testemunha, é um instrumento ativo na construção das emoções e das lacunas afetivas. A aproximação entre as irmãs se dá, paradoxalmente, por meio da distância, como se fosse preciso filmar, gravar ou projetar para tornar visível o que permanece oculto no convívio direto. A linguagem do filme é marcada por uma ambiguidade constante: entre o real e o fantasmático, entre o toque e a ausência.

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O Cotidiano Invadido pelo Fantástico

À medida que a narrativa avança, o extraordinário se infiltra com delicadeza no cotidiano. O filme evita o sensacionalismo e constrói suas quebras de realidade com uma calma inquietante. As experiências sensoriais e os delírios não são apresentados como rupturas violentas, mas como parte de uma lógica interna que rege aquele universo.

A convivência com o estranho se torna rotina, e o espectador é convidado a aceitar essa ambiguidade como parte do pacto narrativo. Com isso, ‘Nada’ transforma uma história sobre ausência em uma presença constante de algo que não se pode nomear.

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Conclusão

‘Nada’ é um exercício cinematográfico corajoso e sensível, que desafia o espectador a mergulhar em uma narrativa que não oferece respostas fáceis, mas sensações densas. O longa se destaca por sua originalidade estética e pela maneira como incorpora elementos do teatro e da instalação artística ao cinema, resultando em uma obra que pensa o tempo, a memória e a perda como formas de presença.

Ao fim, Adriano Guimarães nos entrega um filme que parece sussurrar ao invés de gritar e é justamente nesse sussurro, nessa fragilidade da comunicação, que Nada se revela profundamente humano. Uma estreia promissora, que propõe um cinema de sensações, onde o invisível e o inaudível também têm lugar de fala.

Onde assistir ao filme nacional Nada?

O filme é distribuído pela Embaúba Filmes e estreia nos cinemas dia 31 de julho.

Trailer de Nada (2025)

YouTube player

Elenco do filme brasileiro Nada

  • Bel Kowarick
  • Denise Stutz
  • Thais Puello
  • Genivaldo Sampaio
Escrito por
Taynna Gripp

Formada em Letras e pós-graduada em Roteiro, tem na paixão pela escrita sua essência e trabalha isso falando sobre Literatura, Cinema e Esportes. Atual CEO do Flixlândia e redatora do site Ultraverso.

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