‘No Céu da Pátria Nesse Instante’ é um dos retratos do circo político recente da nação

Foto: Divulgação
Compartilhe

A política brasileira recente, desde o pleito eleitoral de 2022, ou talvez até mesmo antes, na ocasião do impeachment de Dilma Rousseff, se tornou um show de teatro de improviso, ora tragicômico, ora absurdo. Se esse era o ambiente que Sandra Kogut tinha diante de si ao conceber ‘No Céu da Pátria Nesse Instante’, podemos dizer: missão cumprida. Religiosamente, ela gravita no caos desse instante político, expondo um retrato brasileiro tão perturbador quanto fascinante.

No documentário, Kogut foge das câmeras engajadas e dos protagonistas midiáticos, optando por ouvir o cidadão comum: mesários, voluntários, caminhoneiros, moradores de diferentes regiões do país, e os coloca na tela com prioridade silenciosa, mas arrasadora. É uma decisão estética e ética potente: o país como se expressa em vozes periféricas, mergulhado em temor, dúvida e, às vezes, humor desconfortável. Ela sabe: esse é o ponto de acesso mais honesto ao que o Brasil tornou-se naquele período.

➡️Frete grátis e rápido! Confira o festival de ofertas e promoções com até 80% OFF para tudo o que você precisa: TVs, celulares, livros, roupas, calçados e muito mais! Economize já com descontos imperdíveis!

Sinopse do documentário No Céu da Pátria Nesse Instante

‘No Céu da Pátria Nesse Instante’, dirigido por Sandra Kogut, é um documentário que acompanha o conturbado processo eleitoral de 2022 no Brasil até o dramático episódio de invasão dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

Com um foco deliberadamente humano e descentralizado, o filme acompanha pessoas comuns de lugares como Marajó, Curitiba, Brasília e Rio de Janeiro, conectadas ao pleito eleitoral por meio de ações locais. A barreira de comunicação entre os que habitam realidades completamente desconectadas é o próprio tema central: o terreno comum, como diria Kogut, era o medo.

➡️Siga o Flixlândia no WhatsApp e fique por dentro das novidades de filmes, séries e streamings

Crítica

O documentário assume desde cedo: nada de entrevistas formais, nada de voz off reveladora. A câmera observa e o som segue mas, muitas vezes, captura justamente o ruído comício impossível, a aura de festa política difusa e intragável. Essa escolha estética é ao mesmo tempo ousada e frustrante: ousada por ser contra o cinema político convencional; frustrante, pois o som ambiente muitas vezes sobrepõe-se às falas principais, exigindo do espectador esforço redobrado.

Ainda assim, o som, esse elemento incômodo, torna-se metáfora da dificuldade de comunicação no país: vozes se sobrepõem. Mesmo assistido em silêncio e com legenda, você sente que há muito mais sendo dito além do que escuta.

➡️Acompanhe o Flixlândia no Google Notícias e fique por dentro do mundo dos filmes e séries do streaming

Foto: Divulgação

O quase humor da vida real

O filme não se propõe a ser didático, mas a ecoar um país que ri de nervoso, gargalhadas nas exibições são catarse, perplexidade, incredulidade. Essa reação coletiva é reveladora: pessoas diante do próprio espelho meio trêmulas, rindo daquilo que, em outro instante, parecia culminar para tragédia. A câmera de Kogut não ironiza, ela registra. E no silêncio após o riso, ecoa a fratura política.

As figuras capturadas não são caricaturas; são humanas demais. A família bolsonarista, vestindo amarelo em uníssono, frequentando religiosamente o culto em que um pastor ora por uma intervenção divina, expõe não rótulo, mas pertencimento a um movimento sólido e isolamento. Eles são símbolos ambulantes de uma identidade política que não dialoga, mas grita na mesma tela, sem escuta.

➡️Suspense de alto nível com pitadas de terror preciso fazem de ‘A Hora do Mal’ um sucesso
➡️‘A Melhor Mãe do Mundo’ vai da dureza da cidade ao suave e emociona
➡️Novo filme da franquia ‘Corra que a Polícia Vem Aí’ mantém tiradas clássicas com elenco renovado

Montagem como pulsação do tempo histórico

Premiado no Festival de Brasília como Melhor Montagem e Prêmio Especial do Júri, o filme deve esse reconhecimento à forma como transforma caos temporal em experiência compartilhada e imersiva.

Obra compartilhada entre Kogut e Renata Baldi, a montagem é o coração nervoso do filme. Ela articula imagens que queimam como manchetes multiplicadas, noticiários virais, boletins urgentes sobre fake news, faces desconfiadas e os acampamentos que antecederam o 8 de janeiro. Esse ritmo fragmentado coloca o telespectador dentro da ansiedade: não há espaço para respirar, só para reviver.

➡️ Quer saber mais sobre filmes, séries e  streamings? Então acompanhe o trabalho do Flixlândia nas redes sociais pelo InstagramXTikTok e YouTube, e não perca nenhuma informação sobre o melhor do mundo do audiovisual.

Conclusão

‘No Céu da Pátria Nesse Instante’ não pretende responder, pretende revelar. E faz isso com coragem, capturando uma nação petrificada e rachada por dentro, salvo por instantes em que as pessoas parecem ainda respirarem o mesmo ar, embora em atmosferas políticas distintas. É uma obra que resiste ao conforto, ao vies e à solução rápida e, por isso, torna-se dolorosamente relevante.

Sandra Kogut fez, mais que um filme sobre eleição, um exercício de memória coletiva. Um documento que estremece porque é feito por e para quem queria entender, ou ao menos tentar. A obra não corrige, não corrobora, mas implora por escuta, por presença. Nesse instante em que o céu pareceu ruir sobre a pátria, ela nos dá uma chance de olhar de frente e lembrar: só há reconstrução onde houver coragem de se ver.

Onde assistir ao documentário No Céu da Pátria Nesse Instante?

O filme está disponível para assistir nos cinemas.

Trailer do documentário No Céu da Pátria Nesse Instante

YouTube player

Elenco

  • Estela Maria de Oliveira
  • Adenilson Ferreira
  • Juliano Maderada
  • Antonia Pellegrino
  • Edivan Santos
Escrito por
Taynna Gripp

Formada em Letras e pós-graduada em Roteiro, tem na paixão pela escrita sua essência e trabalha isso falando sobre Literatura, Cinema e Esportes. Atual CEO do Flixlândia e redatora do site Ultraverso.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Procuram-se colaboradores
Procuram-se colaboradores

Últimas

Artigos relacionados
A Natureza das Coisas Invisíveis resenha crítica do filme 2025 Flixlândia
Críticas

[CRÍTICA] ‘A Natureza das Coisas Invisíveis’ (ou: o infinito possui bordas?)

Meu caro leitor, bem-vindo! Em “A Natureza das Coisas Invisíveis”, primeiro longa-metragem...

Bugonia 2025 final explicado do filme com Emma Stone Flixlândia
Críticas

Final explicado de ‘Bugonia’: o significado da profecia viscosa de Yorgos Lanthimos

Há tempos uma pergunta permeia todo o ser humano que resolve fitar...

A Mão que Balança o Berço resenha crítica filme 2025 Disney+ Hulu Flixlândia (1)
Críticas

[CRÍTICA] Nova versão de ‘A Mão que Balança o Berço’ faz você valorizar cada vez mais a antiga

Remakes sempre carregam uma pergunta incômoda: por que refazer algo que já...

Sacramento resenha crítica do filme com Michael Cera 2025 Flixlândia (1)
Críticas

[CRÍTICA] ‘Sacramento’, uma comédia indie que fala sobre crescer e se reconectar

“Sacramento”, dirigido, escrito e estrelado por Michael Angarano, é uma daquelas comédias...

Plano em Família 2 resenha crítica Apple TV 2025 Flixlândia
Críticas

[CRÍTICA] ‘Plano em Família 2’, a família em primeiro lugar

Meu caro leitor, bem-vindo a mais uma aventura natalina! Não… não estamos...

Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário resenha critica filme Netflix 2023 Flixlândia
Críticas

‘Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário’ transita entre sangue e sentimentos

“Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário” é um filme francês-canadense que chegou à...