‘O Agente Secreto’ novo filme de Kleber Mendonça Filho com Wagner Moura vai competir no Festival de Cannes

[CRÍTICA] ‘O Agente Secreto’: um épico do absurdo em tempos de ‘pirraça’

Filme dirigido Kleber Mendonça Filho e estrelado por Wagner Moura é o indicado do Brasil ao Oscar 2026

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Kleber Mendonça Filho está de volta, e com ele, a promessa de um cinema que é, ao mesmo tempo, profundamente pessoal e visceralmente político. Seu mais novo épico, “O Agente Secreto”, não é apenas um filme sobre a Ditadura Militar de 1977 em Recife, mas uma imersão sensorial na paranoia cotidiana e na corrosão moral de um país em que a violência e o absurdo se tornaram a norma.

O diretor, mestre em transformar espaços urbanos em personagens vivos, usa o gênero de espionagem não como um fim, mas como um esqueleto para pendurar uma intrincada tapeçaria de lendas urbanas, memória afetiva, humor macabro e, claro, muita cinefilia.

A união com o talento de Wagner Moura, em uma atuação de contenção e nuances, eleva a obra a um patamar que a coloca inevitavelmente na corrida por reconhecimento global, cimentando o momento especial do cinema nacional.

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Sinopse

O filme nos joga em Recife, 1977, em plena semana de Carnaval, com o clima abafado tanto pelo calor tropical quanto pela opressão da Ditadura Militar. A cena de abertura é um soco no estômago: Marcelo (Wagner Moura), um homem em fuga de São Paulo e de um passado violento, para seu Fusca amarelo em um posto de beira de estrada onde um corpo baleado jaz sob um papelão, ignorado por todos, incluindo policiais federais mais interessados em achacar.

Marcelo, um ex-professor universitário com identidade forjada, busca refúgio em um “quarto seguro” gerenciado pela calorosa, mas misteriosa, Dona Sebastiana (a revelação Tânia Maria). Ele precisa sumir do radar, recuperar seu filho e, ironicamente, trabalhar em um escritório que emite carteiras de identidade, onde espera encontrar pistas sobre sua falecida mãe.

Perseguido por assassinos de aluguel a mando de um ministro corrupto (que transformou um projeto acadêmico em negócio privado), Marcelo navega pela podridão sistêmica de um Recife que vive entre a festa e a morte, o realismo fantástico da lenda da “Perna Cabeluda” e os ecos de um passado que insiste em se manifestar no presente, através de uma trama no tempo atual com pesquisadoras transcrevendo seu caso em fitas cassete.

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Crítica

Kleber Mendonça Filho tem a habilidade ímpar de tratar temas pesados com uma leveza irônica, quase farsesca, mas sem jamais diluir sua gravidade. Em “O Agente Secreto”, a ditadura não é mostrada apenas pela via da tortura política direta (como em “Ainda Estou Aqui”, com o qual é inevitavelmente comparado), mas pela corrupção sistêmica que atinge cada esfera da vida, do maior empresário ao policial de beira de estrada.

A impunidade é a paisagem. A inesquecível abertura com o corpo abandonado e a indiferença policial estabelece o tom: a vida vale pouco, e a “pirraça” mencionada no letreiro de abertura é um eufemismo sutilmente revoltado para o terror. O filme brilha ao focar na natureza empresarial e privada da opressão, mostrando como a corrupção se beneficia do caos e do autoritarismo para prosperar em seu próprio micro-cosmos de interesses.

🎭 Wagner Moura: o agente do silêncio e da nuance

Se o filme tem uma duração épica de quase 2 horas e 40 minutos que “não parece ter mais do que uma hora”, muito se deve ao trabalho de Wagner Moura. Longe de arroubos dramáticos, seu Marcelo é uma performance de contenção. O carisma do ator é canalizado para esconder um turbilhão de dor e resignação. Ele não é um herói de ação, mas um acadêmico forçado a ser um fantasma.

O sucesso de Moura está nos pequenos gestos e, principalmente, no olhar melancólico de um pai de família que tenta sobreviver em um mundo que tenta apagá-lo. Ele se conecta com o público não pela bravura, mas pela humanidade ferida, encarnando o homem comum que se vê encurralado por forças políticas e econômicas muito maiores.

Confira a crítica do Flixlândia para o filme O Agente Secreto (2025), de Kleber Mendonça Filho e estrelado por Wagner Moura
Foto: Vitrine Filmes / Divulgação

🏛️ Recife e a memória do cinema vivo

Recife, para Kleber, é mais que um cenário: é um organismo vivo. A minuciosa recriação de 1977, com seus carros berrantes, a arquitetura da Boa Vista, os orelhões e a atmosfera de calor sufocante (transmitida até pelo figurino e pela fotografia granulada de Evgenia Alexandrova) faz o público sentir a cidade.

O cinema São Luiz, um foco de memória já em “Retratos Fantasmas”, volta como um local de refúgio e registro. Ali, a arte reflete e preserva a vida cotidiana, sendo um santuário contra o apagamento. A homenagem se estende à cinefilia do diretor, com ecos de Brian De Palma e John Carpenter, além da citação a “Tubarão”, que se mistura de forma hilária e macabra com a lenda local da Perna Cabeluda. É essa fusão entre a alta política e o folclore popular que dá ao filme sua textura única.

🧩 O final divisor de águas e os ecos do presente (spoiler)

A estrutura do filme é desafiadora, e o final, que introduz uma quebra de tom e linguagem para nos levar ao presente, é um dos maiores divisores de gosto. Ao trazer as jovens pesquisadoras degravando o caso de Marcelo, Kleber conecta as linhas temporais, afirmando que o projeto de apagamento da ditadura não se encerrou em 1985; ele continua “rodando em segundo plano” na sociedade atual.

O epílogo, embora possa frustrar quem esperava um desfecho mais convencional para o thriller, cumpre a função de transformar o filme em um tratado sobre a memória e o registro histórico. É uma provocação sutil de que a luta de Marcelo é apenas uma entre milhares de vidas varridas para baixo do tapete e que só a pesquisa e a consciência podem resgatar.

Conclusão

“O Agente Secreto” não é um thriller de espionagem convencional, mas um thriller de queima lenta que usa o gênero como cavalo de Troia para discutir a indignidade da vida em um regime opressor. É um filme ambicioso, cheio de camadas, que demonstra a maturidade de Kleber Mendonça Filho como um dos melhores cineastas brasileiros vivos.

A química com Wagner Moura, o elenco de apoio impecável (com destaque para Tânia Maria) e o primor técnico na recriação de época garantem que, mesmo com um final quebrado e elusivo, a obra triunfa como um retrato complexo, melancólico e, ironicamente, divertidamente macabro do Brasil. É uma elegia sobre um país que insiste em esquecer, e um lembrete pulsante da importância de quem se recusa a ser apagado.

Onde assistir ao filme O Agente Secreto?

O filme foi exibido no Festival do Rio e estreia nesta quinta-feira, 6 de novembro de 2025, exclusivamente nos cinemas brasileiros.

Trailer de O Agente Secreto, com Wagner Moura

YouTube player

Elenco de O Agente Secreto (2025)

  • Wagner Moura
  • Maria Fernanda Cândido
  • Gabriel Leone
  • Carlos Francisco
  • Alice Carvalho
  • Robério Diógenes
  • Hermila Guedes
  • Igor de Araújo
  • Ítalo Martins
  • Laura Lufési
  • Thomás Aquino
  • Tânia Maria
Escrito por
Wilson Spiler

Formado em Design Gráfico, Pós-graduado em Jornalismo e especializado em Jornalismo Cultural, com passagens por grandes redações como TV Globo, Globonews, SRZD e Ultraverso.

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