Confira a crítica do filme "O Pranto do Mal", terror hispânico de 2024 com Ester Expósito, disponível para assistir na Max.

‘O Pranto do Mal’, quando o terror é um eco que não se cala

Compartilhe

Filmes de terror que tentam subverter os clichês do gênero costumam trilhar um caminho arriscado. Quando bem executados, entregam obras memoráveis. Quando mal calibrados, perdem-se na ambição estética ou na indecisão do roteiro. “O Pranto do Mal” (El Llanto, 2024), estreia do espanhol Pedro Martín-Calero em longas-metragens, é um exemplo claro dessa encruzilhada.

Com uma estética primorosa e forte presença feminina no centro da trama, o filme acena para o chamado “terror psicológico”, mas tropeça em sua tentativa de unir estilo, denúncia social e narrativa sobrenatural. A produção costura as histórias de três mulheres marcadas por um choro fantasmagórico que atravessa décadas, países e gerações. No entanto, a costura, por vezes, parece frouxa.

Apesar disso, há muito a se admirar na proposta — principalmente para quem busca um terror que incomoda mais pela atmosfera e pelos silêncios do que pelos sustos.

➡️ Frete grátis e rápido! Confira o festival de ofertas e promoções com até 80% OFF para tudo o que você precisa: TVs, celulares, livros, roupas, calçados e muito mais! Economize já com descontos imperdíveis!

Sinopse de O Pranto do Mal (2024)

“O Pranto do Mal” acompanha três protagonistas em tempos e contextos diferentes: Andrea (Ester Expósito), uma jovem madrilena conectada ao celular e descolada de suas raízes; Camila (Malena Villa), uma estudante de cinema na Argentina dos anos 1970; e Marie (Mathilde Ollivier), uma mulher isolada cuja dor reverbera em silêncio.

As três são assombradas por um mesmo mal: um lamento inquietante, vindo de uma presença sombria que se manifesta de maneira indireta — ora em vídeos desfocados, ora em ecos distantes ou lágrimas involuntárias. A narrativa se divide em três atos e se desenrola como um quebra-cabeça sobrenatural que, ao fim, se recusa a oferecer uma resposta definitiva.

➡️ Acompanhe o Flixlândia no Google Notícias e fique por dentro do mundo dos filmes e séries do streaming

O Pranto do Mal cena do filme Max 2024
Foto: Max / Divulgação

Crítica do filme O Pranto do Mal

O grande trunfo do filme está na construção de uma atmosfera densa. Martín-Calero demonstra domínio técnico ao transformar cenários cotidianos em espaços de inquietação — de prédios residenciais abafados a corredores mal iluminados. A fotografia de Constanza Sandoval reforça essa opressão constante, e a montagem faz do silêncio uma ferramenta tão poderosa quanto qualquer efeito sonoro.

Entretanto, o roteiro, assinado em parceria com Isabel Peña (As Bestas), falha ao tentar unir as três histórias sob um mesmo arco dramático. A proposta de interligar as protagonistas por meio de um mal ancestral até tem força simbólica, mas não se sustenta como narrativa contínua. Falta coesão, e sobra hesitação.

➡️ ‘A Fonte da Juventude’, uma aventura familiar com alma reciclada e direção estilizada
➡️ ‘Improvisação Perigosa’ mistura talento e previsibilidade
➡️ ‘Prédio Vazio’ é terror brasileiro de qualidade

Terror como metáfora social

O mal em “O Pranto do Mal” não é um monstro tradicional. Ele simboliza legados de violência, misoginia e silenciamento — temas que aparecem nas entrelinhas, especialmente nas dificuldades vividas pelas protagonistas. Andrea vive à sombra de segredos familiares; Camila enfrenta o machismo estrutural de um curso dominado por homens; Marie é desacreditada por todos, inclusive pela própria família.

Essas camadas criam uma leitura feminista e política da história, que se torna ainda mais rica com a presença sutil de uma identidade queer na personagem de Camila. No entanto, como tantos elementos do longa, essa dimensão não é aprofundada. Ela existe como sugestão, como ruído de fundo — assim como o próprio pranto que assombra.

Forma refinada, conteúdo vacilante

Esteticamente, o filme flerta com o cinema autoral europeu, mas sem jamais abraçar essa identidade de forma decidida. Há sequências brilhantes — como o uso da câmera VHS ou o design sonoro dos lamentos — que demonstram um cuidado visual raro. A direção de Martín-Calero é segura, mas o roteiro parece querer ser muitas coisas ao mesmo tempo.

Ao tentar abordar temas como adoção irregular, censura ao aborto e violência simbólica, o filme se aproxima de discussões urgentes. No entanto, seu texto não os desenvolve com profundidade. A sensação é de que essas temáticas foram apenas tocadas, quando mereciam ser enfrentadas.

Atos desiguais, personagens marcantes

O primeiro ato, centrado em Andrea, é o mais envolvente e bem resolvido. A atuação de Ester Expósito, madura e contida, ajuda a construir uma conexão emocional com o público. Já a parte de Camila, embora visualmente ousada e com boas ideias, perde ritmo e parece deslocada. A história de Marie, por fim, se apoia mais na performance de Ollivier do que no texto — e acaba ofuscada pela falta de tempo em tela.

Essas oscilações comprometem o ritmo geral da obra. Há bons momentos isolados, mas poucos diálogos entre eles. A unidade que o roteiro almeja nunca se concretiza de fato.

Vale a pena ver O Pranto do Mal na Max?

“O Pranto do Mal” é um filme ambicioso, corajoso e visualmente marcante, que acerta ao propor um terror menos explícito e mais sensorial. Sua proposta de tratar o medo como algo herdado — e não apenas vivido — ecoa com força na experiência de muitas mulheres. No entanto, essa força se dilui pela estrutura fragmentada e por um roteiro que hesita entre o alegórico e o concreto.

Ainda assim, Pedro Martín-Calero demonstra ser um nome promissor no cinema de gênero. Seu olhar é sensível, sua estética é apurada e seu potencial narrativo, embora não totalmente realizado aqui, é evidente.

Para quem busca um terror que instiga mais do que assusta — e que incomoda mais pela ausência de respostas do que por fantasmas visíveis —, “O Pranto do Mal” é uma experiência válida. Um filme que chora baixo, mas cujas lágrimas continuam pingando mesmo após os créditos.

Siga o Flixlândia nas redes sociais

➡️ Instagram
➡️ Twitter
➡️ TikTok
➡️ YouTube

Onde assistir ao filme O Pranto do Mal?

O filme está disponível para assistir na Max.

Trailer de O Pranto do Mal (2024)

YouTube player

Elenco de O Pranto do Mal, da Max

  • Ester Expósito
  • Mathilde Ollivier
  • Malena Villa
  • Claudia Roset
  • Lía Lois
  • Sonia Almarcha
  • Tomas Del Estal
Escrito por
Wilson Spiler

Formado em Design Gráfico, Pós-graduado em Jornalismo e especializado em Jornalismo Cultural, com passagens por grandes redações como TV Globo, Globonews, SRZD e Ultraverso.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Últimas

Procuram-se colaboradores
Procuram-se colaboradores
Artigos relacionados
Leia a crítica do filme French Lover, da Netflix (2025) - Flixlândia
Críticas

‘French Lover’, um romance falho, que não oferece o melhor que Paris pode ofertar

O astro da série Lupin, Omar Sy, chegou ao mundo das comédias...

Leia a crítica do filme Rute e Boaz, da Netflix (2025) - Flixlândia
Críticas

‘Rute e Boaz’ prioriza a mensagem em detrimento da profundidade

O cinema de fé, ou “faith-based movies”, encontrou na Netflix um terreno...

Crítica do filme Coração de Lutador - The Smashing Machine (2025)
Críticas

‘Coração de Lutador’: Dwayne Johnson entrega atuação da vida em cinebiografia de lutador do MMA

Cinebiografias geralmente decepcionam por mostrar uma visão romantizada, e mesmo alguns exemplos...

Críticas

‘Bicho Monstro’: quando a metáfora abraça a realidade

‘Bicho Monstro’ marca a estreia de Germano de Oliveira na direção de...

crítica do filme Mantis da Netflix 2025 - Flixlândia
Críticas

‘Mantis’ não consegue se sustentar sozinho

Em 2023, o filme sul-coreano Kill Boksoon apareceu como um sucesso surpreendente...

Crítica do filme Kygo Back at the Bowl (2025) - Flixlândia
Críticas

‘Kygo: Back at the Bowl’: show de DJ impressiona pela qualidade técnica, mas é morno e previsível

Os números impressionam: 23 bilhões de streams, turnês esgotadas ao redor do...

Críticas

‘Zoopocalipse’ é uma introdução perfeita para o terror infantil, com muito neon e carisma

Misturar terror e comédia em uma produção voltada ao público infantil é...

Leia a crítica do filme Os Estranhos - Capítulo 2 (2025) - Flixlândia
Críticas

‘Os Estranhos – Capítulo 2’ melhora o primeiro, mas piora a franquia

Chegando aos cinemas nesta quinta-feira, 25 de setembro, “Os Estranhos – Capítulo...