‘O Último Episódio’ é um portal mágico que nos leva direto para os anos 90

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Maurílio Martins retorna às telas com um filme que parece ter saído de uma fita VHS esquecida no fundo da gaveta. ‘O Último Episódio’ é uma carta de amor à infância e à imaginação, mas também uma reflexão sobre o tempo, a perda e a necessidade de reinventar o passado para sobreviver ao presente. Com produção da Filmes de Plástico, o longa se insere na tradição do coming of age, mas o faz à mineira: com olhar atento aos detalhes, afeto pelas pessoas e um senso de comunidade que atravessa cada plano.

Mais do que uma simples homenagem aos anos 1990, o filme de Martins é um mergulho afetivo em Contagem, cidade que o diretor conhece de perto e transforma em cenário e personagem. É nesse espaço de ruas poeirentas e antenas tortas que o cineasta constrói um retrato profundamente brasileiro sobre amadurecimento e pertencimento. ‘O Último Episódio’ não se limita a provocar nostalgia; ele a examina, questiona e reconfigura, mostrando que lembrar também é um ato de criação.

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Sinopse

A história acompanha Erik (Matheus Sampaio), um garoto de 13 anos que vive com a mãe na Contagem de 1991, em meio às dificuldades econômicas e às pequenas aventuras do cotidiano. Apaixonado por uma colega de escola, ele inventa uma mentira para impressioná-la: diz possuir a fita com o lendário episódio final de ‘Caverna do Dragão’, desenho que marcou gerações e nunca teve sua conclusão exibida. A partir daí, uma simples invenção se transforma em jornada pessoal e coletiva.

Com a ajuda dos amigos Cassinho (Daniel Victor) e Cristiane, apelidada de Cristão (Tatiana Costa), Erik decide criar o próprio ‘último episódio’, usando a antiga câmera VHS de seu falecido pai. Enquanto gravações amadoras tomam forma, o trio descobre o peso da amizade, as frustrações da adolescência e a inevitável passagem do tempo. A fita, que parecia um símbolo de conquista, acaba revelando algo mais profundo: a tentativa de preservar um mundo que já começa a desaparecer.

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Crítica

Logo nos primeiros minutos, ‘O Último Episódio’ faz o espectador sentir o cheiro da poeira depois da chuva e o som distante da televisão ligada no vizinho. Maurílio Martins não recria apenas uma época, ele desperta uma sensação. Sua direção trabalha com a memória como matéria viva, feita de imperfeições, lacunas e afetos. A Contagem dos anos 90 é retratada com realismo e ternura: o calor das ruas, as roupas coloridas, as marcas estampadas e o ritual quase mágico de rebobinar uma fita cassete.

Essa ambientação detalhista não é mero exercício nostálgico. Martins usa o passado como espelho do presente, questionando o mito de que ‘antigamente era melhor’. O filme lembra que a infância é, ao mesmo tempo, um abrigo e uma prisão; um tempo em que tudo parecia possível, mas também o início das primeiras perdas. O bairro, as amizades e até o próprio ‘Caverna do Dragão’ são metáforas dessa busca por um lar que talvez nunca tenha existido.

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O Cinema Dentro do Cinema

Há um momento revelador em que Erik, câmera em mãos, tenta encenar o episódio final que nunca viu. É como se, naquele instante, o cinema nascesse diante de nós: um garoto criando mundos para suportar o real. Maurílio transforma essa brincadeira infantil em metalinguagem poderosa o gesto de filmar torna-se o ato de resistir. A câmera herdada do pai representa tanto a ausência quanto o legado, o elo entre o passado e a invenção de um novo futuro.

A escolha de filmar com ritmo contemplativo reforça essa ideia. Cada plano é pensado como lembrança: demorado, terno, imperfeito. O diretor recusa a pressa da narrativa moderna e nos convida a observar, escutar e sentir. É uma obra que entende o cinema como instrumento de escuta das pessoas, das ruas e dos silêncios. A trilha sonora, com canções de Fernanda Takai e referências sutis a R.E.M. e Pato Fu, costura emoção e tempo, sem cair na armadilha da nostalgia gratuita.

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Minas, Memória e Identidade

Um dos maiores méritos do filme é sua brasilidade sem clichê. ‘O Último Episódio’ é mineiro até o último fio de luz, do sotaque à topografia dos bairros, da religiosidade popular aos sonhos modestos dos personagens. Martins, que cresceu em Contagem, filma sua cidade não como cenário genérico, mas como território de afetos. Essa autenticidade faz do longa uma peça importante no fortalecimento do cinema regional brasileiro, especialmente aquele fora do eixo Rio–São Paulo.

O elenco, majoritariamente local, reforça essa identidade. Matheus Sampaio entrega uma performance delicada, marcada pelo olhar tímido e curioso. Tatiana Costa e Daniel Victor completam o trio com naturalidade e química, seus personagens parecem realmente ter crescido juntos e é Daniel Victor que entrega a maior beleza e potência do filme, com seu Cassinho. Rejane Faria, como a avó de Cristão, traz uma presença luminosa, ancorando o filme na força das mulheres que sustentam as famílias e as memórias. São atuações que priorizam o cotidiano e a verdade, sem melodrama.

Conclusão

‘O Último Episódio’ é mais do que uma história sobre crescer, é uma meditação sobre lembrar. Maurílio Martins entende que o passado não volta, mas pode ser reinventado, regravado, remontado, como uma fita VHS que insiste em rodar mesmo com chiados. Seu filme fala sobre saudade, mas também sobre coragem: a de olhar para trás sem se aprisionar.

Ao final, quando a ficção de Erik se confunde com a própria realidade, percebemos que todos nós já inventamos nossos ‘últimos episódios’, versões melhores das lembranças que nos doem. ‘O Último Episódio’ é, acima de tudo, um retrato afetuoso do poder da imaginação. Um lembrete de que, às vezes, crescer é apenas aprender a filmar o passado com o coração aberto.

Onde assistir ao filme O Último Episódio?

O filme está disponível nos cinemas.

Quem está no elenco de O Último Episódio (2025)?

  • Matheus Sampaio
  • Tatiana Costa
  • Daniel Victor
  • Rejane Faria
  • André Novais Oliveira
  • Gabriel Martins
  • Maria Leite
  • Leo Pyrata
  • Eid Ribeiro

Escrito por
Taynna Gripp

Formada em Letras e pós-graduada em Roteiro, tem na paixão pela escrita sua essência e trabalha isso falando sobre Literatura, Cinema e Esportes. Atual CEO do Flixlândia e redatora do site Ultraverso.

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