É preciso ter culhões para, depois de moldar o drama criminal moderno com Breaking Bad e Better Call Saul, chutar o balde e mergulhar de cabeça na ficção científica distópica. Mas se tem alguém capaz de transformar a felicidade universal em algo profundamente assustador, esse alguém é Vince Gilligan.
Sua nova série, Pluribus (ou, estilosamente, Plur1bus), é um acerto gigantesco da Apple TV, entregando um show que é ao mesmo tempo inteligente, engraçado de um jeito bem ácido e, ironicamente, tão melancólico quanto a própria realidade. É o tipo de televisão que não só te entretém, mas te faz pensar por dias.
Sinopse
A premissa de Pluribus é brilhantemente simples e arrepiante. Um vírus alienígena varre o planeta, transformando quase toda a humanidade em um coletivo de mentes unificadas, supremamente felizes e gentis. Pense em paz mundial, ausência de discórdia e acesso total aos pensamentos de todos. A utopia, certo? Errado, pelo menos para Carol Sturka (interpretada pela espetacular Rhea Seehorn), uma autora best-seller de romances de fantasia, rica, mas profundamente cínica, misantropa e infeliz.
Carol, que mal suporta os próprios leitores (chamando-os de “um bando de idiotas”), é a única pessoa nos EUA aparentemente imune ao vírus. Enquanto o novo mundo tenta incessantemente “ajudá-la” a se juntar ao rebanho contente — uma tarefa que se torna cada vez mais sinistra — Carol se vê isolada, lutando pela sua individualidade em um mar de sorrisos.
O drama é intensificado pela perda de sua esposa e empresária, Helen (Miriam Shor), uma das milhões que sucumbiram à infecção, revelando o lado sombrio dessa “felicidade”. O que se desenrola é uma tensa, e às vezes hilária, investigação sobre o que realmente significa ser humano.
Se a primeira impressão é a que fica, Vince Gilligan e Rhea Seehorn já cravaram Pluribus como um dos eventos televisivos do ano. A análise dos dois primeiros episódios é crucial, pois eles não apenas estabelecem a premissa bizarra da série, mas também demonstram o domínio narrativo de Gilligan, que consegue nos viciar em um universo completamente novo em menos de duas horas.
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Resenha crítica
O início de Pluribus é impecável. O episódio piloto, em particular, é frequentemente comparado aos lendários primeiros episódios de Breaking Bad e Better Call Saul, podendo ser até chamado de “o melhor primeiro episódio de Gilligan até hoje”.
Episódio 1
O episódio 1 cumpre o papel de nos jogar no meio do caos de forma gradual e envolvente. O que começa como uma noite mundana em uma turnê de livros para Carol (Rhea Seehorn) e sua esposa Helen (Miriam Shor) se transforma em uma catástrofe que acontece “gradualmente e depois de uma vez só”.
A genialidade está em como o contágio viral é mostrado: uma “bola de neve exponencial” de descobertas científicas e pequenos acidentes que se transformam em uma epidemia global de forma assustadoramente simples e eficiente.

A âncora humana
A atuação de Rhea Seehorn já brilha intensamente. Ela nos coloca imediatamente no lugar de Carol, a cínica autora de “romantasy” que é a única ilha de miséria em um mar de felicidade forçada. Sua performance é descrita como “visceral, temerosa e determinada,” e crucial para ancorar a trama de ficção científica em emoções genuínas.
A cinematografia, dirigida pelo próprio Gilligan no piloto, é notável. Há planos e ângulos que remetem ao “Universo BB” (Breaking Bad/Better Call Saul), mas o risco de sair da zona de conforto é recompensado. A abertura é divertida e, como notado, “literalmente pode nos levar a qualquer lugar”, surpreendendo quem esperava algo que os trailers mal revelaram.
Episódio 2
O segundo episódio é onde a série começa a respirar e aprofundar suas questões centrais, o que gerou opiniões um pouco mais divergentes. Se o piloto é sobre o “incidente”, o segundo episódio foca nas consequências e na interação de Carol com o “coletivo”.
A introdução de Zosia (Karolina Wydra), uma estranha designada para cuidar de Carol em nome da mente colmeia, começa a explorar a dinâmica “nós contra eles” de forma mais profunda e menos óbvia que um mero “Vampiros de Almas”.
A calmaria (questionável)
Alguns podem achar que o segundo episódio oferece muito pouco para fazer a história avançar em termos de plot externo, apesar de apresentar outras pessoas imunes ao vírus. Para quem esperava uma aceleração, a sensação é de que o episódio foi um pouco entediante ou lento, pendendo mais para o diálogo e a diferença de opiniões.
No entanto, esse ritmo deliberado faz parte da construção de mundo de Gilligan. O foco em Carol e a introdução de outros indivíduos imunes serve para amplificar a questão filosófica: por que Carol está certa em querer salvar a humanidade da “maldição da felicidade irrefletida”? Ou ela é apenas o exemplo máximo de que a miséria adora companhia?
O nível de produção continua altíssimo, com uma direção de alto nível e uma cinematografia que usa cores primárias e boa iluminação, evitando o visual “apagado” de muitas distopias. A atuação de Seehorn se mantém “eletrizante”, transformando cada cena em um “pavios lentos”.
Conclusão
Pluribus é, sem sombra de dúvidas, uma das séries mais inovadoras, interessantes e imperdíveis de 2025. É uma jornada complexa que funde a sátira social com o mistério cósmico, mantendo aquele “dedo de Gilligan” que nos vicia instantaneamente, com sua lógica afiada e estrutura imprevisível.
A série não apenas entretém; ela atua como um espelho assustador, nos forçando a confrontar questões sobre o valor da individualidade, a sedução da conformidade e o preço da nossa raiva e liberdade. Com um início que “explode a cabeça” e um universo que promete surpreender muito, esta é uma série que nos lembra por que a televisão de alta qualidade existe. Em Vince Gilligan, nós confiamos.
Onde assistir à série Pluribus?
Trailer de Pluribus (2025)
Elenco de Pluribus, da Apple TV
- Rhea Seehorn
- Carlos-Manuel Vesga
- Karolina Wydra
- Miriam Shor


















