Crítica da série 'Raul Seixas Eu Sou', do Globoplay (2025) - Flixlândia.

‘Raul Seixas: Eu Sou’ fascina e frustra ao recriar o universo do Maluco Beleza

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Raul Seixas nunca foi só um cantor. Foi profeta, poeta, produtor, roqueiro, filósofo autodidata e um eterno contestador da ordem vigente. Ao longo de sua breve e intensa vida, transformou suas dores, vícios, amores e visões de mundo em música.

Recriar essa trajetória complexa, repleta de misticismo, humor e rebeldia, é uma tarefa que exige mais que boa vontade: exige profundidade. É essa ousadia que a minissérie “Raul Seixas: Eu Sou”, produção da 02 Filmes para o Globoplay, tenta encarar em seus oito episódios.

Estrelada por Ravel Andrade, a série se propõe a retratar não apenas a carreira, mas também as contradições pessoais do Maluco Beleza. Da infância em Salvador à consagração nos anos 1970, passando pelas parcerias com Paulo Coelho e pelas turbulências da vida adulta, a obra alterna momentos de lirismo e densidade com escolhas questionáveis que acabam esvaziando o potencial do projeto.

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Qual é a história de Raul Seixas: Eu Sou?

Ambientada entre os anos 1960 e 1980, a minissérie apresenta os principais momentos da vida de Raul Seixas. O primeiro episódio traça sua saída de Salvador rumo ao Rio de Janeiro com a banda Os Panteras, a frustração inicial na carreira musical e sua reinvenção como produtor da CBS.

É ali que Raul começa a construir os pilares de sua identidade artística. Com a chegada de Paulo Coelho à narrativa, a série mergulha na criação da Sociedade Alternativa, nos experimentos com ocultismo e nas canções que desafiaram a censura e arrebanharam multidões. Mas também não ignora o lado humano do artista: os conflitos familiares, os vícios, os rompimentos e a queda gradual nos anos 1980.

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Crítica da série Raul Seixas: Eu Sou

A primeira impressão deixada por “Raul Seixas: Eu Sou” é de que a série tenta espelhar a mente inquieta de seu protagonista. A montagem ousada, com cortes não lineares, cenas que misturam realidade e delírio, e uma trilha sonora bem encaixada, remete à atmosfera onírica que tanto marcava a obra de Raul.

Nesse aspecto, há acertos claros. A fotografia e a direção de arte evocam com competência o espírito de cada época retratada, e a performance de Ravel Andrade é um dos grandes trunfos da produção: ele não imita Raul, mas se entrega a uma interpretação sensível e instintiva, quase mediúnica.

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cena da série 'Raul Seixas Eu Sou', do Globoplay (2025) - Flixlândia
Ravel Andrade brilha na pele de Raul Seixas (Foto: Globoplay / Divulgação)

Roteiro falho e personagens mal explorados

No entanto, a ambição estética não se sustenta por muito tempo. O roteiro tropeça em vários momentos. Diálogos forçados, cenas excessivamente didáticas e uma tendência a transformar figuras reais em caricaturas prejudicam a fluidez da narrativa. A caracterização de Paulo Coelho (vivido por João Pedro Zappa) é um exemplo gritante disso: o parceiro criativo mais importante da trajetória de Raul surge quase como um estereótipo místico, sem a densidade necessária.

Além disso, outros nomes fundamentais na vida de Raul — como Claudio Roberto, Rick Ferreira, Miguel Cidras e até mesmo Dalva Borges — são ignorados ou reduzidos a papéis mínimos, criando lacunas graves no retrato biográfico. O resultado é uma narrativa que se apressa em certos momentos cruciais, como o rompimento com Paulo Coelho ou o declínio artístico dos anos 1980, e que deixa de abordar álbuns inteiros, parcerias e momentos decisivos da obra do cantor.

Liberdades criativas que confundem mais do que encantam

A série também sofre com licenças poéticas que beiram o anacronismo. A cena em que Raul canta “Let Me Sing, Let Me Sing” no Festival Internacional da Canção com Rita Lee vestida de noiva é completamente desconectada da realidade histórica. O mesmo vale para o gesto dos “chifres” no show do Phono 73 ou a gravação de “Mosca na Sopa” em clima de show ao vivo. São escolhas que podem até parecer lúdicas, mas que comprometem a credibilidade do projeto — especialmente aos olhos de fãs e pesquisadores da obra de Raul.

Emoção, mas sem transcendência

Ainda que existam momentos genuinamente emocionantes — como a construção das canções ou os conflitos íntimos do artista —, falta à série a transcendência que Raul sempre provocou. Sua ligação com o ocultismo, a filosofia, a literatura, o esoterismo, tudo isso aparece como pano de fundo, nunca como força motriz de sua arte. É um Raul mais raso, mais domesticado, menos provocador do que o que conhecemos por meio de suas músicas e entrevistas.

Vale a pena assistir Raul Seixas: Eu Sou no Globoplay?

“Raul Seixas: Eu Sou” é uma série que nasce da vontade de homenagear um ídolo, mas não consegue alcançar a grandeza e a complexidade do artista retratado. Apesar de acertos na atuação de Ravel Andrade, na estética visual e na trilha sonora, a produção peca por um roteiro simplista, por escolhas narrativas discutíveis e por uma abordagem que muitas vezes esvazia a alma do Maluco Beleza.

Não é uma obra descartável — para fãs, ver Raul retratado em carne e osso tem seu valor emocional. Mas para quem esperava uma biografia definitiva, resta a sensação de que a metamorfose ambulante que foi Raul Seixas ainda aguarda uma versão à altura de sua lenda.

Assista ao trailer de Raul Seixas: Eu Sou (2025)

YouTube player

Elenco da série Raul Seixas: Eu Sou

  • Ravel Andrade
  • João Pedro Zappa
  • João Vitor Silva
  • Amanda Grimaldi
  • Julia Stockler
  • Chandelly Braz
  • Júlio Andrade
  • Cyria Coentro

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Escrito por
Taynna Gripp

Formada em Letras e pós-graduada em Roteiro, tem na paixão pela escrita sua essência e trabalha isso falando sobre Literatura, Cinema e Esportes. Atual CEO do Flixlândia e redatora do site Ultraverso.

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