Quando o curta O Vapor Willie (1928) caiu em domínio público, era só questão de tempo até que o famoso ratinho se tornasse protagonista de uma produção de terror. Em um mar de adaptações toscas e caricatas que exploram personagens infantis em contextos sangrentos, “Screamboat: Terror a Bordo” surge como mais uma dessas sátiras escancaradas.
Dirigido por Steven LaMorte, o filme reimagina o barco a vapor do clássico animado como o cenário de um massacre grotesco, conduzido por uma versão bizarra e psicótica de Mickey Mouse.
O resultado? Uma produção que, embora ciente de sua proposta trash, tropeça em suas próprias ambições e entrega mais um exemplar do chamado “terror de domínio público”: visualmente pobre, narrativamente raso e moralmente discutível.
Sinopse do filme Screamboat: Terror a Bordo
Durante a última travessia da noite em uma balsa de Staten Island, em Nova York, passageiros e tripulantes se veem presos com um assassino improvável: um rato gigante, deformado e vingativo. Ele atende por Willie (David Howard Thornton), um experimento genético fracassado que escapou de anos de cativeiro no porão da embarcação.
Entre vítimas despedaçadas e mutilações inventivas, resta a um pequeno grupo liderado por Selena (Allison Pittel), uma bartender desiludida, tentar sobreviver ao pesadelo flutuante.
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Crítica de Screamboat: Terror a Bordo (2025)
“Screamboat” tenta se salvar com uma estratégia conhecida: rir de si mesmo antes que o espectador o faça. E, de fato, há momentos em que essa abordagem funciona — como nas mortes exageradas ao som do assobio do vilão ou nas referências escancaradas à Disney.
No entanto, o humor muitas vezes cai no lugar-comum de apenas citar elementos da cultura pop sem nenhuma reinvenção criativa. Piadas sobre o “Main Street Electrical Parade” ou personagens “em cosplay de princesa” são apenas menções, não ganchos de comédia.
Efeitos práticos acima da média, mas estética comprometida
Dentro do universo das produções de baixo orçamento, “Screamboat” se destaca por investir em efeitos práticos que, mesmo grotescos, entregam algo visualmente estimulante para fãs de filmes gore. Há decapitações elaboradas, empalamentos com arpões e mutilações bizarras que agradam quem busca exatamente esse tipo de espetáculo.
Entretanto, todo esse esforço é diluído por um uso excessivo de chroma key e cenários digitais medonhos. A Nova York ao fundo mais parece uma maquete digital vendida em loja de souvenirs. Isso tira completamente a imersão, ainda que parte do filme tenha sido filmada em um verdadeiro ferry desativado — o que, curiosamente, dá uma autenticidade que contrasta com os fundos artificiais.
Atuações caricatas e roteiro preguiçoso
David Howard Thornton se diverte no papel do rato assassino — e isso transparece. Conhecido por viver Art, o Palhaço, em Terrifier, o ator transforma Willie em um vilão cartunesco, algo entre Looney Tunes e um slasher de quinta categoria. Sua performance muda de tom constantemente, oscilando entre o terror cômico e o absurdo total, o que confere certo charme ao personagem.
Por outro lado, o elenco de apoio é sofrível. Jesse Posey, como o par romântico forçado de Selena, entrega uma atuação sem energia. O restante dos personagens se resume a estereótipos descartáveis, meros corpos para o massacre. A trama é linear, previsível e recheada de diálogos expositivos sem profundidade. Tudo se torna mais um pretexto para o próximo ataque de Willie, sem qualquer construção narrativa relevante.
Uma sátira com lampejos criativos
Apesar dos muitos tropeços, há uma ou outra decisão criativa que merece reconhecimento. A incorporação do assobio original de O Vapor Willie como trilha sonora para os assassinatos cria um contraste irônico e quase perturbador. O uso de canções em domínio público, mesmo que inconsistente, tenta manter algum vínculo com a origem do personagem.
Além disso, a sequência de inundação da balsa — ainda que provavelmente feita com maquetes — é surpreendentemente bem executada e mostra que, com poucos recursos, há espaço para inventividade.
Conclusão
“Screamboat: Terror a Bordo” é uma mistura maluca de nostalgia distorcida, humor pastelão e sangue em abundância. Não se leva a sério — e isso é sua salvação e sua ruína. Para quem busca apenas diversão grotesca em uma madrugada com amigos, pode até funcionar como uma experiência de “so bad it’s good”.
Mas quem espera algo minimamente coeso, envolvente ou original, encontrará apenas mais um barco à deriva na onda de filmes que exploram ícones infantis em versões de terror.
No fim das contas, é um filme que se orgulha dos próprios defeitos e aposta todas as fichas no choque, na sátira e na familiaridade do público com seu personagem vilanesco. Se a ideia era fazer barulho no mercado de terrores trash, “Screamboat” conseguiu — ainda que desafine na melodia.
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Onde assistir ao filme Screamboat: Terror a Bordo?
O filme está disponível para assistir nos cinemas.
Trailer de Screamboat: Terror a Bordo (2025)
Elenco do filme Screamboat: Terror a Bordo
- Tyler Posey
- David Howard Thornton
- Jesse Kove
- Jared Johnston
- Sarah Kopkin
- Kailey Hyman
- Brian Quinn
- Charles Edwin Powell
Ficha técnica de Screamboat: Terror a Bordo (2025)
- Título original: Thunderbolts*
- Direção: Steven LaMorte
- Roteiro: Matthew Garcia-Dunn, Steven LaMorte
- Gênero: terror, comédia
- País: Estados Unidos
- Duração: 101 minutos
- Classificação: 18 anos