Há anos, a Netflix tem feito um esforço deliberado para expandir seu conteúdo internacional, mas o que está acontecendo na América Latina, especialmente na Colômbia, não é apenas expansão: é uma revolução.
Desde 2018, as produções latino-americanas ganharam um impulso gigantesco, e em 2024, só o conteúdo em espanhol na plataforma ultrapassou a marca de 2.59 bilhões de horas assistidas no segundo semestre, com a Colômbia liderando a festa. Não estamos falando apenas de Cem Anos de Solidão (cuja adaptação de 2024 é exemplar), mas de uma safra de produções que pegam o sabor clássico da telenovela e dão um polimento de streaming de alta qualidade.
É nesse contexto fervilhante que a nova série colombiana, Simplesmente Alicia, entra em cena. Financiada como um dos dez projetos colombianos da Netflix para 2025, esta comédia dramática romântica não é apenas mais um título: é a prova de que a plataforma está disposta a investir em histórias localmente autênticas com apelo global. E a premissa? É a mais deliciosamente caótica que você pode imaginar.
Sinopse
Simplesmente Alicia nos apresenta a Alicia Fernández (a brilhante Verónica Orozco), uma mulher de quarenta e poucos anos cuja vida amorosa é um malabarismo de alto risco. A série começa com uma cena de pura comédia de erros: Alicia está atrasada para o próprio casamento. Uma sequência de desastres — o carro rebocado, o vestido de noiva rasgado e a troca de roupa no banheiro de um restaurante — a força a chegar à igreja na garupa da motocicleta de sua melhor amiga, Susana (Constanza Camelo), que, aliás, está totalmente contra a união.
Alicia finalmente se casa com Pablo (Sebastián Carvajal), um ex-padre agora dedicado à justiça comunitária, o epítome do amor com propósito e moral. O problema é que Alicia já é casada. Seu primeiro marido é Alejo (Michel Brown), um escritor famoso que a idealiza como sua musa e sobre quem escreveu seu último best-seller. Nenhum dos maridos tem a menor ideia da existência do outro.
A série mergulha nessa situação impossível: Alicia vivendo uma vida dupla que exige uma logística de filme de espionagem, trocando de alianças e construindo álibis meticulosos, tudo impulsionado por um dilema interno que remonta à sua juventude: a recusa em escolher.
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Crítica
Se você gosta de uma boa dose de drama exagerado — aquele momento catártico que só a telenovela sabe entregar — mas com a qualidade de produção que o dinheiro da Netflix pode comprar, você vai amar Simplesmente Alicia. Os diretores Catalina Hernández e Rafael Martínez entendem o tom. Eles não aplicam o melodrama com mão pesada, mas sim com uma autoconsciência deliciosa. A fotografia é intimista, os cenários são calorosos e esteticamente agradáveis, e o drama é pontuado por músicas over-the-top que te fazem soltar uma risadinha.
A série abraça totalmente o estilo novelesco através de reviravoltas ridículas e montanhas-russas emocionais, mas o faz com um toque cinematográfico que a impede de cair no brega. As cenas em que Alicia, qual espiã, coordena seus dois maridos e suas duas vidas — com planos escritos à mão, trocas de roupa e gerenciamento de agendas — têm a leveza e a tensão de um filme de assalto. É um caos que é, ao mesmo tempo, divertido e totalmente crível dentro da lógica da série.
🧠 Complexidade moral e heroína “cinza”
O ponto nevrálgico de Simplesmente Alicia não é o quem ela ama, mas o por que ela se recusa a soltar. Sua bigamia não é um caso de “mulher má”; é uma exploração fascinante do desejo feminino, da liberdade e, crucialmente, do medo. A protagonista, Alicia, se define por uma frase de sua juventude: “Quero fazer do meu jeito, não do jeito mais fácil”. Isso se reflete em sua carreira (unindo Ciências Políticas e Marketing) e em sua vida amorosa (unindo dois grandes amores).
O texto de apoio sugere que as ações de Alicia são impulsionadas por problemas de abandono autoproclamados. Em flashback, ela confessa à amiga: “Não entendo por que todos desaparecem”. O medo de perder a leva a prender os dois, transformando sua bigamia em uma metáfora para sua tentativa desesperada de ter e manter os dois ideais de amor: o passional, intelectual (Alejo) e o sincero, com propósito (Pablo).
A série faz um trabalho excelente ao apresentar Alicia como uma mulher “moralmente cinzenta” — ela mente, se diverte e ama com a mesma intensidade. É refrescante ver uma protagonista de quarenta e poucos anos que é impulsiva, apaixonada e bagunçada emocionalmente, recusando-se a negar seus desejos duplos.
Embora a premissa de adultério e bigamia seja eticamente condenável (e provavelmente não seria “sexy” se os gêneros fossem invertidos, como a própria crítica observa), a série a usa para questionar temas mais profundos, como responsabilidade, arrependimento e o sacrifício que o compromisso exige.

🔥 Química eletrizante e um elenco de peso
O triângulo amoroso só funciona se o público se importar com os três vértices, e Simplesmente Alicia entrega um elenco eletrizante.
- Verónica Orozco é a âncora de tudo. Sua performance é calibrada; ela consegue ser cômica e culpada, intelectual e impulsiva, mantendo a empatia do público mesmo quando está no seu pior momento de enganação.
- A química é de tirar o fôlego em ambas as relações: com Alejo (o autor torturado), a conexão é quente e literária; com Pablo (o cruzado social), é sentimental e idealista. É impossível escolher um lado — e essa indecisão proposital é o motor da série.
- Um destaque especial vai para Constanza Camelo como Susana. Ela é a best friend exasperada, a voz da razão e a terapeuta do caos de Alicia. Ela é o contraponto temático perfeito: enquanto Alicia se compromete demais, Susana (com seus próprios medos de compromisso) atua como o alarme moral. É aquele tipo de amiga que aparece no seu casamento secreto com um extintor, “por via das dúvidas”.
A produção é um case de sucesso de globalização, fruto da aliança entre Netflix e a produtora colombiana RCN Estudios. Essa sinergia garante autenticidade cultural (filmada na Colômbia, explorando cenários urbanos e rurais) e polimento global, elevando a série a um novo patamar no catálogo internacional.
Conclusão
Simplesmente Alicia é o que acontece quando Bridget Jones se choca com uma telenovela, rouba seu guarda-roupa e, depois, se pega traindo a si mesma no trânsito caótico de Bogotá. É uma série viciante que, nos seus cinco primeiros episódios, entrega ritmo, charme e uma inteligência emocional que a eleva acima do nível de um mero “prazer culpado”.
Ela é confusa, é sexy, é mais esperta do que parece e toca em feridas emocionais reais. Ao explorar a decisão de uma mulher de “fazer do seu jeito”, a série nos convida a rir do absurdo do enredo, enquanto reflete sobre as complexidades da monogamia e do desejo no mundo moderno.
Se você busca uma comédia romântica adulta, corajosa e com uma dose saudável de drama soapy, prepare a pipoca e a maratona: a saga de Alicia, a heroína e vilã de sua própria história, é uma aposta certeira.
Onde assistir à série Simplesmente Alicia?
A série está disponível na Netflix.
Trailer de Simplesmente Alicia (2025)
Elenco de Simplesmente Alicia, da Netflix
- Verónica Orozco
- Sebastián Carvajal
- Michel Brown
- Constanza Camelo
- Julián Román
- Leo Deluglio
- Ana María Medina
- Daniela Tapia
- Fernando Arévalo
- Biassini Segura


















