“Tempo de Guerra” (2025) não é mais um filme sobre o campo de batalha. Ele não busca redenção, não flerta com o heroísmo nem tenta transformar a guerra em espetáculo. Em vez disso, aposta tudo em uma imersão sensorial que nos arrasta para dentro de uma casa sitiada no meio de Ramadi, no Iraque. O desconforto não é acidental: ele é o próprio núcleo da narrativa.
Dirigido por Alex Garland, conhecido por “Ex_Machina” e “Guerra Civil”, ao lado do veterano Ray Mendoza, que viveu os eventos retratados, o longa rompe com as convenções do gênero para entregar uma obra minimalista, quase anticinematográfica, mas de um rigor técnico inegável.
Com 1 hora e 35 minutos de duração, “Tempo de Guerra” propõe um mergulho claustrofóbico na vivência dos soldados, ancorado em som, movimento e confusão. A narrativa parece propositalmente esvaziada de grandes arcos, para dar lugar ao retrato nu e cru de uma sobrevivência sem glória.
Sinopse de Tempo de Guerra (2025)
Em uma missão durante a Guerra do Iraque, um pelotão das forças especiais norte-americanas se vê encurralado em uma casa comum, em meio à hostilidade urbana da cidade de Ramadi. Após uma emboscada, o grupo é forçado a transformar o local em um abrigo improvisado enquanto aguarda a extração.
Sem acesso visual ao inimigo e com as comunicações comprometidas, os soldados passam a depender apenas do som — tiros, gritos, ruídos indistintos — para entender o que se passa além das paredes. Quando uma explosão detona parte da casa, o caos se instala de vez. O plano de ataque vira missão de sobrevivência.

Crítica do filme Tempo de Guerra
A maior virtude de “Tempo de Guerra” está em seu uso magistral do som como protagonista. A mixagem e o design sonoro criam um ambiente onde a visão é substituída por ruídos: passos incertos, comandos de rádio, armas engatilhadas, respirações contidas, cães latindo ao longe. Nada é gratuito. A ausência de trilha sonora tradicional deixa o espaço livre para o barulho da própria guerra preencher cada segundo.
Essa construção sonora não apenas simula o terror da batalha urbana, mas também conduz a narrativa. Não vemos o que está fora da casa porque os personagens também não veem. Sentimos o mesmo pânico, a mesma hesitação.
➡️ Julianne Moore comanda thriller tenso sobre maternidade e culpa em ‘Echo Valley’
➡️ ‘O Pranto do Mal’, quando o terror é um eco que não se cala
➡️ ‘A Fonte da Juventude’, uma aventura familiar com alma reciclada e direção estilizada
Direção que sente, não observa
Garland e Mendoza adotam uma linguagem visual que recusa a estetização. A câmera observa, hesita, tropeça. Nos primeiros momentos, os planos são calculados, permitindo que o espaço seja compreendido. Mas, conforme o cerco se fecha, a montagem se desorganiza, a câmera na mão se torna dominante, e o sentimento é o de estar em constante movimento — mesmo quando não se avança um centímetro.
O filme abraça a confusão como estética. Não há heroísmo, não há momento de glória. Apenas decisões táticas tomadas no limite, gritos entrecortados pelo som de explosões, e a constante tensão de que qualquer respiro pode ser o último.
Minimalismo como escolha e limitação
Ao focar estritamente no momento presente, “Tempo de Guerra” escolhe não desenvolver profundamente seus personagens. Eles são identificados por chamadas de rádio, rostos aflitos e funções no pelotão. Sabemos pouco — quase nada — sobre seus passados ou motivações. É uma decisão deliberada, que busca representar a desumanização do soldado diante da guerra.
Mas essa escolha, embora coerente com a proposta artística, cobra um preço. Em determinado ponto, a experiência corre o risco de se tornar apenas técnica. Sem vínculos emocionais mais profundos, a catarse é anulada, e o impacto do que está sendo mostrado pode se diluir assim que os créditos sobem.
Um filme que desafia o espectador
“Tempo de Guerra” não oferece respostas fáceis. Tampouco parece interessado em adotar uma posição política clara. Por isso mesmo, pode ser lido de maneiras opostas: como uma crítica dura ao maquinário militar norte-americano ou como um testemunho quase reverente aos homens que servem.
A fala de Mendoza, que descreve o longa como um “lembrete para os que tomam decisões de enviar jovens à guerra”, não elimina a ambiguidade. De fato, ela a reforça. É um filme feito com base em memórias reais — mas é também uma ficção cuidadosamente construída, com escolhas estéticas que deixam margem para interpretações variadas.
Vale a pena ver Tempo de Guerra no Prime Video?
“Tempo de Guerra” é uma experiência sensorial, tática e implacável. Um filme que se recusa a ser confortável e que parece existir não para agradar, mas para nos colocar no centro de um inferno cotidiano. Sua força está em sua honestidade brutal e em sua decisão radical de não explicar, apenas mostrar.
Garland e Mendoza não romantizam, não dramatizam, não edificam. Fazem da ausência de enredo tradicional uma arma narrativa. A guerra, aqui, não tem trilha épica, nem vilões claros, nem finais edificantes. É só ruído, medo e sobrevivência.
Talvez Truffaut estivesse certo ao dizer que todo filme de guerra acaba glorificando o conflito. Mas “Tempo de Guerra” parece, ao menos, lutar contra isso com cada plano tremido, cada grito abafado e cada minuto de silêncio carregado de tensão.
Siga o Flixlândia nas redes sociais
➡️ Instagram
➡️ Twitter
➡️ TikTok
➡️ YouTube
Onde assistir ao filme Tempo de Guerra?
O filme está disponível para assistir no Prime Video.
Trailer de Tempo de Guerra (2025)
Elenco de Tempo de Guerra, do Prime Video
- D’Pharoah Woon-A-Tai
- Will Poulter
- Cosmo Jarvis
- Kit Connor
- Finn Bennett
- Taylor John Smith
- Michael Gandolfini
- Adain Bradley
- Noah Centineo
- Evan Holtzman
- Henrique Zaga
- Joseph Quinn
- Charles Melton