“Zona Árida”, dirigido por Fernanda Pessoa, é um documentário que se debruça sobre as experiências pessoais da cineasta, refletindo sobre sua vivência nos Estados Unidos durante um intercâmbio na adolescência.
O filme se estrutura como uma carta de reflexão para a jovem Fernanda, contrastando a sua visão romântica e deslumbrada do “Sonho Americano” com a realidade que ela encontra ao retornar à cidade de Mesa, no deserto do Arizona, 15 anos depois.
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Sinopse de Zona Árida (2019)
A jovem Fernanda, com 15 anos, acaba de realizar um grande sonho: fazer intercâmbio nos Estados Unidos. A cidade para onde a jovem é enviada viria a ficar famosa em um estudo, 15 anos depois, como a cidade mais Trumpista da nação norte-americana. No filme, através de memórias e entrevistas, a adulta Fernanda revisita seu passado em busca de compreender os rumos do futuro.
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Crítica do filme Zona Árida
No primeiro olhar sobre o documentário, já na cena de abertura, a escolha estética de Fernanda Pessoa, ao enquadrar sua imagem de costas, olhando para o horizonte de um deserto inóspito, não apenas reforça a ideia do vazio e do estranhamento, mas também evoca uma tela cinematográfica, sugerindo uma reflexão sobre como a ficção do “Sonho Americano” molda as percepções de quem é imerso nela.
A proposta do filme é, em grande parte, refletir sobre como a América é construída na ficção e como esse mito se desmorona diante da realidade vivida pela cineasta. Fernanda, ao revisitar o passado, revela o choque cultural de uma jovem brasileira inserida em um cenário conservador e monolítico. A cidade de Mesa, que, segundo um estudo, é uma das mais conservadoras dos Estados Unidos, torna-se o cenário perfeito para questionar o próprio mito do “excepcionalismo americano”, onde a liberdade, a democracia e a prosperidade são constantemente proclamadas, mas que se veem contraditas por atitudes xenofóbicas e um conservadorismo insidioso.
O documentário não se limita a um retrato simplista de “bons” e “maus”. Embora haja uma clara crítica ao nacionalismo e ao comportamento xenofóbico de muitos habitantes de Mesa, Fernanda Pessoa não se esquiva de mostrar que, de certa forma, todos são prisioneiros do mesmo sistema de crenças e fantasias construídas pela cultura dominante.
Crítica social
A crítica às práticas sociais e políticas dos Estados Unidos emerge de maneira sutil, como nas entrevistas com antigos colegas de escola e membros da família que a hospedou. A observação de Fernanda sobre as vivências e contradições desses personagens permite que o espectador se conecte com a complexidade do contexto sem recorrer a um discurso simplista. A cineasta reflete sobre a condição de ser brasileira, mas também latina nos Estados Unidos, e sobre como isso a colocou em uma posição vulnerável, marcada por preconceitos e estereótipos. Sua experiência com racismo, xenofobia e sexualização por ser “latina” nos Estados Unidos é abordada com sensibilidade, sem a necessidade de explicações teóricas, deixando que os depoimentos falem por si mesmos.
Apesar de seus méritos, “Zona Árida” não está isento de limitações. A proposta reflexiva e contemplativa, com seu ritmo lento e sua estrutura narrativa fragmentada, pode afastar aqueles que buscam um documentário mais tradicional ou dinâmico. O uso da narração pessoal, embora profundamente honesto, pode às vezes parecer excessivamente intimista, o que pode dificultar a conexão com espectadores que não compartilham da mesma experiência. No entanto, para aqueles que estão dispostos a se entregar a essa proposta mais introspectiva e analítica, o filme oferece uma experiência rica e significativa.
Conclusão
“Zona Árida” é um documentário precioso, para dizer o mínimo, para fazer compreender a mente dos habitantes da cidade mais Trumpista da América, Mesa. Uma trama simples, mas de enorme profundidade, que vai além de um simples retrato sobre o conservadorismo americano. Através de uma reflexão pessoal sobre a adolescência de Fernanda Pessoa e sua redescoberta dos Estados Unidos, o filme se torna uma meditação sobre identidade, culturalismo e as mentiras que sustentam o mito do “Sonho Americano”. Ao questionar tanto o olhar europeu e latino sobre os Estados Unidos quanto o próprio discurso estadunidense sobre liberdade, “Zona Árida” se revela uma obra crítica e sensível, que oferece uma visão complexa da América, longe da idealização ou da condenação absoluta.
A direção de Fernanda Pessoa é como o solo que dá título ao documentário, seu toque é árido e bruto. Ali está também o contraste com as emoções de uma adolescente que viveu a xenofobia na pele e precisou ignorar isso para seguir em frente. Fica a quem assiste a certeza de que algumas dores atingem profundidades inesperadas, ainda que se firme para que nada ultrapasse a camada superficial.
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Trailer de Zona Árida (2019)
Ficha técnica do documentário ‘Zona Árida’
- Título original: Arid Zone
- Direção: Fernanda Pessoa
- Roteiro: Fernanda Pessoa
- Gênero: documentário
- País: Estados Unidos e Brasil
- Ano: 2019
- Duração: 76 minutos
- Classificação: 12 anos
3 thoughts on “‘Zona Árida’: quando o sonho americano se encontra com a realidade”