Wilson Spiler A raiva contra os ricos virou combustível narrativo para o cinema nos últimos anos. Desde o sucesso de Parasita até fenômenos como Round 6, não faltam obras dispostas a explorar — e explorar bem — o abismo entre classes. “Mestres do Assalto”, produção francesa dirigida por Kamel Guemra, tenta entrar nessa conversa, combinando crítica social, assaltos em alta velocidade e um fio de vingança pessoal. A premissa é ousada: trabalhadores de um hotel de luxo que, nas horas vagas, roubam os próprios clientes milionários.
Mas será que o filme consegue equilibrar adrenalina e discurso? Ou se perde entre intenções grandiosas e uma execução confusa? Com uma protagonista carismática, um vilão inquietante e um clímax que poderia muito bem ser estudado em cursos de cinema, “Mestres do Assalto” é, ao mesmo tempo, promissor e frustrante — um exemplo claro de como boas ideias nem sempre garantem um bom resultado.
Sinopse do filme Mestres do Assalto (2025)
Durante o dia, Nora, Zoe, Steve e Prestance são funcionários exemplares de um hotel de luxo: manobrista, recepcionista, bartender e atendente. À noite, formam os “Mestres do Assalto”, uma quadrilha que escolhe seus alvos entre os hóspedes milionários e realiza roubos cuidadosamente planejados nas estradas.
Mas quando um dos ataques quase termina em tragédia, a gerência do hotel contrata Elias — um mercenário frio e implacável — para descobrir quem está por trás da série de crimes. Nora, movida por um desejo de vingança contra um cliente abusador, arrisca não só sua vida como a de seus companheiros. O jogo de gato e rato entre caçador e caçados logo escapa do controle, levando todos a um desfecho sangrento.
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Crítica de Mestres do Assalto, do Prime Video
“Mestres do Assalto” parece querer surfar na mesma onda de produções como Parasita, Round 6 ou Entre Facas e Segredos, trazendo uma crítica direta ao abismo entre classes sociais. No entanto, o que poderia ser uma denúncia sobre exploração e injustiça vira, muitas vezes, apenas uma estética de revolta.
A ideia de que funcionários marginalizados se organizam para roubar milionários soa promissora, mas o roteiro raramente mergulha na complexidade disso. A sensação é de que o subtexto foi diluído — e até desrespeitado — em meio a trocas de gênero abruptas e escolhas narrativas frágeis.
Personagens interessantes, mas profundidade
O quarteto de protagonistas é carismático. Zoe Marchal se destaca como Nora, entregando uma atuação crua e intensa, especialmente no terço final. Bosh, Alassane Diong e Mareva Ranarivelo também imprimem autenticidade aos seus papéis, mesmo com pouco material dramático para explorar.
O grande problema é que o filme não se esforça para contar quem essas pessoas realmente são. Não conhecemos seus passados, seus traumas ou motivações profundas. Há apenas um verniz de empatia, como se o diretor confiasse que bastava mostrar que eles são pobres e revoltados para termos compaixão.
Um filme que troca de pele (e de tom) várias vezes
Kamel Guemra tenta fazer de “Mestres do Assalto” um longa que desafia fórmulas. O problema é que ele acaba tropeçando entre gêneros sem firmeza: o longa começa como um filme de assalto estilizado, flerta com o thriller de vingança, e termina quase como um slasher.
As transições são bruscas, e o impacto emocional que poderia surgir dos momentos mais violentos se perde no caos estético. É como se Guemra tivesse assistido a Fogo Contra Fogo, Caçadores de Emoção e Halloween e tentasse fazer um remix — mas sem decidir qual música realmente queria tocar.
O vilão que rouba a cena
Se há um personagem que funciona sem ressalvas, ele atende pelo nome de Elias. Interpretado por Franck Gastambide com uma frieza arrepiante, o mercenário representa o capitalismo em sua forma mais crua: sem moral, apenas negócios.
Sua filosofia — “trabalhe para os ricos, nunca contra eles” — sintetiza bem a perversidade do sistema. Ele se torna mais do que um antagonista; é um símbolo. E talvez tenha sido por isso que o filme não soube o que fazer com ele até o final.
Uma vingança sem catarse
A trama ganha um novo contorno quando Nora decide mudar o alvo do próximo golpe para Peter Vandervielt, o herdeiro rico que estuprou sua colega de trabalho. A virada tinha tudo para transformar o longa num poderoso grito de justiça — mas a execução é apressada, e o roteiro parece esquecer da vítima original, que nunca tem voz. No fim, Nora mata Peter, sim, mas a sensação de redenção é substituída por um vazio moral: foi por justiça ou por impulso? E por que, mesmo após tanto risco, a vítima continua esquecida?
Conclusão
“Mestres do Assalto” é um filme que começa com uma boa premissa, carrega um elenco eficiente e até entrega cenas de ação razoáveis, mas sofre com um roteiro desorganizado e pretensioso.
Em vez de aprofundar seus temas — desigualdade, abuso de poder, solidariedade entre os oprimidos —, opta por trocas de estilo que mais confundem do que surpreendem. O resultado é uma obra que poderia ter sido um retrato potente da luta de classes, mas termina como uma colagem de intenções sem coesão.
Ainda assim, há um mérito em tentar algo diferente, principalmente num cenário onde filmes de ação de médio orçamento estão cada vez mais raros. Se vier uma continuação, como o desfecho deixa em aberto, resta torcer para que traga mais consistência — e coragem narrativa.
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Onde assistir ao filme Mestres do Assalto?
O filme está disponível para assistir no Prime Video.
Trailer de Mestres do Assalto (2025)
Elenco de Mestres do Assalto, do Prime Video
- Zoé Marchal
- Franck Gastambide
- Maréva Ranarivelo
- Bosh
- Alassane Diong
- Serigne Gueye
- Hafid F.Benamar
- Colin Bates
- Maïmouna Gueye
- Mylène Jampanoï
- Zoé Diowo Ceccaldi
- Florence Fauquet
- Jonathan Demurger
- Pascal Elso
Ficha técnica do filme Mestres do Assalto
- Título original: Carjackers
- Direção: Kamel Guemra
- Roteiro: Morade Aissaoui, Sledge Bidounga, Kamel Guemra
- Gênero: ação, aventura
- País: França
- Duração: 97 minutos
- Classificação: 16 anos
Sobre o autor
