‘A Conspiração Consumista’, quando o alarme não soa alto o suficiente
Taynna Gripp20/11/20243 Mins de Leitura94 Visualizações
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O novo documentário da Netflix, “A Conspiração Consumista” (Buy Now! The Shopping Conspiracy), dirigido por Nic Stacey, mergulha no sombrio universo do consumismo moderno.
O filme tenta expor as práticas insidiosas de grandes corporações para maximizar lucros às custas de consumidores e do meio ambiente. Apesar de seu conteúdo relevante, a execução controversa e algumas lacunas narrativas prejudicam o impacto que poderia ter.
Sinopse do documentário A Conspiração Consumista (2024)
O documentário explora cinco estratégias principais utilizadas por grandes empresas, como Amazon e Apple, para manipular os consumidores e aumentar o consumo desenfreado.
Entre os temas abordados estão a obsolescência programada, a manipulação psicológica por meio do design de produtos e websites, e o destino de resíduos tóxicos que acabam exportados para países em desenvolvimento.
Com a ajuda de especialistas e denunciantes, o filme revela o lado sombrio do capitalismo moderno, ilustrando o custo ambiental e humano das nossas práticas de consumo.
Um dos segmentos mais impactantes detalha como produtos eletrônicos descartados nos chamados “centros de reciclagem” acabam em países mais pobres, onde trabalhadores, sem qualquer proteção, lidam com materiais perigosos como mercúrio e chumbo.
Além disso, há uma análise crítica de práticas empresariais, como a alteração de componentes de produtos para dificultar reparos, incentivando a compra de novos itens.
Crítica do filme A Conspiração Consumista, da Netflix
O maior mérito de “A Conspiração Consumista” está em sua mensagem poderosa e necessária. O documentário escancara problemas fundamentais no sistema de consumo global e convida o espectador a refletir sobre seu papel nesse ciclo destrutivo.
Os depoimentos de ex-funcionários de empresas renomadas e a investigação liderada por Jim Puckett, da Basel Action Network, são pontos altos que dão credibilidade e urgência à narrativa.
Uso de IA
Entretanto, o documentário tropeça em algumas escolhas estilísticas e editoriais. A narração feita por uma inteligência artificial é um elemento que divide opiniões.
Embora tenha sido pensada para personificar o “vilão” da história, a voz mecânica frequentemente tira o espectador da imersão, gerando um contraste indesejado com o tom sério do tema. Os efeitos visuais exagerados, incluindo imagens geradas por IA, também acabam diluindo a seriedade da mensagem.
Discussão rasa
Além disso, “A Conspiração Consumista” não consegue abordar aspectos importantes do consumo moderno. Apesar de criticar práticas como a obsolescência programada e o impacto ambiental, o filme ignora a influência da cultura de influenciadores e o papel da mídia na perpetuação do consumismo.
A ausência de uma discussão mais aprofundada sobre como tornar o consumo sustentável, além de um vago “compre menos”, enfraquece a proposta.
Revelações perturbadoras
Por outro lado, o segmento que aborda as táticas psicológicas usadas no design de websites para maximizar compras é revelador. Ele expõe como plataformas como Amazon exploram vulnerabilidades humanas, criando experiências quase viciantes que nos fazem consumir sem pensar. Essas revelações são tão perturbadoras quanto educativas, mas ficam aquém de explorar o problema em sua totalidade.
“A Conspiração Consumista” é um documentário que provoca reflexões importantes sobre a nossa relação com o consumo e o impacto de nossas escolhas no planeta.
Embora sua mensagem seja essencial, a execução problemática, com decisões estilísticas questionáveis e a omissão de temas relevantes, prejudica o potencial de impacto do filme.
Ainda assim, é uma obra que merece ser assistida, especialmente para aqueles interessados em compreender os bastidores do consumismo global.
Formada em Letras e pós-graduada em Roteiro, tem na paixão pela escrita sua essência e trabalha isso falando sobre Literatura, Cinema e Esportes. Atual CEO do Flixlândia e redatora do site Ultraverso.