Mike Flanagan já havia conquistado o público com sua habilidade em transformar o horror em reflexões profundas sobre a natureza humana. Obras como ‘A Maldição da Residência Hill’ e ‘Missa da Meia-Noite’ provam sua sensibilidade narrativa. Em ‘A Vida de Chuck’, o diretor decide se afastar dos sustos e mergulhar em um drama existencial, sensível e melancólico, adaptando uma das histórias mais inusitadas de Stephen King. E, ainda que mantenha traços do sobrenatural, o filme está mais interessado em celebrar a beleza da existência do que em explorá-la pelo medo.
Lançado em 2025, ‘A Vida de Chuck’ surpreende não só pela estrutura narrativa não linear, mas também pelo tom otimista e poético em meio a um cenário de fim de mundo. Flanagan aposta em uma abordagem mais contemplativa do que suas obras anteriores, e entrega uma adaptação que, embora reverente à fonte, ousa dialogar com o público sobre temas como memória, legado e o impacto que deixamos nos outros, mesmo quando não percebemos.
Sinopse
Dividido em três atos contados em ordem cronológica reversa, ‘A Vida de Chuck’ começa de forma apocalíptica: o mundo está literalmente acabando, mas ninguém sabe por quê. As pessoas observam, intrigadas, outdoors, comerciais e mensagens públicas agradecendo a um misterioso “Chuck” por seus 39 ótimos anos. O caos se mistura com o absurdo, e essa estranheza inicial é o ponto de partida para uma jornada de descoberta emocional.
Nos atos seguintes, o público conhece Chuck em momentos distintos da vida: como um homem adulto em um episódio inusitado que mistura música, dança e introspecção; e depois como um garoto criado por seus avós em uma casa cheia de mistérios e amor. Aos poucos, a conexão entre essas histórias se revela como uma teia delicada sobre o valor da existência. O filme não entrega respostas óbvias, mas convida o espectador a refletir e sentir.
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Crítica de A Vida de Chuck
Ao contrário do que se espera de um cenário apocalíptico, o primeiro ato de ‘A Vida de Chuck’ retrata a decadência da civilização com uma calma assustadora. Não há explosões, zumbis ou correria; há silêncios, contemplação e a crescente presença do rosto de Chuck em todos os cantos. Chiwetel Ejiofor lidera essa parte da história com uma atuação contida e comovente, dando corpo à dúvida central: quem foi Chuck e por que sua memória é tão celebrada?
Essa abordagem dá ao espectador uma noção do tom que o filme vai seguir: mais sobre como sentimos o fim do que sobre o que o provoca. E é aqui que a direção de Flanagan se destaca ao capturar o melancólico encanto do adeus. A sutileza da narrativa transforma o colapso global em pano de fundo para um colapso emocional íntimo, onde o fim do mundo é menos importante do que o fim de uma vida.

Dança, cor e propósito
O segundo ato é o mais vibrante e inesperado. Chuck, interpretado por Tom Hiddleston, surge em plena saúde, dançando espontaneamente no meio da rua. A cena, que poderia parecer deslocada, é um dos pontos altos do filme, e não só pela coreografia ou pelo carisma do ator, mas porque representa um dos temas centrais da obra: a celebração dos pequenos momentos.
Hiddleston brilha mesmo com pouco tempo de tela. Sua presença transmite alegria, leveza e um certo mistério que prende o espectador. Flanagan, aqui, se afasta completamente do terror e flerta com o musical, sem perder o controle emocional da narrativa. É um momento de pausa e brilho que ressignifica o filme inteiro ao ser revisto após o ato inicial.
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O avô, o medo e o coração
O último ato (mas cronologicamente o primeiro) traz uma das performances mais impactantes de ‘A Vida de Chuck’: Mark Hamill como Albie, o avô do protagonista. Neste segmento, o filme flerta com o terror psicológico ao abordar os traumas da infância de Chuck e o mistério de uma parte proibida da casa dos avós. Mas, mais do que medo, é empatia o que predomina.
Hamill entrega uma atuação surpreendentemente complexa, oscilando entre dureza e ternura com maestria. É nesse momento que a base emocional de Chuck é formada e com ela, a do próprio filme. A infância retratada aqui é cheia de perdas, silêncios e aprendizados, e Flanagan aproveita cada cena para reforçar o quanto o passado molda não só quem somos, mas também a forma como o mundo se lembra de nós.
É preciso reconhecer que ‘A Vida de Chuck’ é um risco criativo. Em um mercado que valoriza cinismo e ironia, Flanagan aposta no sentimental, no ingênuo até, e talvez por isso o filme não agrade a todos. Mas há mérito na tentativa. Mesmo quando escorrega no excesso de reverência ou na falta de ritmo, o filme mantém sua integridade e coração.
É justamente essa ousadia de ser honesto e emocional que conecta ‘A Vida de Chuck’ a outras grandes adaptações “não-terror” de Stephen King, como Conta Comigo e Um Sonho de Liberdade. O filme talvez não alcance o mesmo nível dessas obras, mas caminha com dignidade por uma estrada que King e Flanagan pavimentam com afeto e humanidade.
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Conclusão
‘A Vida de Chuck’ é uma experiência rara no cinema contemporâneo: uma fábula melancólica, esperançosa e profundamente pessoal sobre a importância de existir. Mike Flanagan acerta ao buscar na obra de Stephen King um conto que vai além do terror para falar sobre o impacto que uma única vida pode ter no universo. Ainda que com tropeços narrativos e certa falta de ousadia cinematográfica, o filme consegue emocionar ao lembrar que todo fim carrega em si o reflexo de muitos começos.
Em tempos de cinismo, ‘A Vida de Chuck’ é um lembrete doce e necessário de que há beleza até mesmo no adeus. E que, ao fim, não somos lembrados pelo que fizemos de grandioso, mas pelos momentos simples em que fomos verdadeiramente nós mesmos. Uma crítica comovente e sincera sobre a vida e tudo o que ela contém.
Onde assistir ao filme A Vida de Chuck?’
‘A Vida de Chuck’ estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (4).
Assista ao trailer de A Vida de Chuck
Quem está no elenco do filme A Vida de Chuck?
- Tom Hiddleston
- Jacob Tremblay
- Benjamin Pajak
- Chiwetel Ejiofor
- Karen Gillan
- Mia Sara
- Carl Lumbly
- Mark Hamill
- David Dastmalchian
- Harvey Guillén
- Kate Siegel