Início » ‘Alguém Especial Como Você’ e o amor nos tempos do algoritmo

“Alguém Especial Como Você” chega à Netflix com a nobre promessa de ser um romance maduro, sensível e questionador, focado em personagens que escapam aos moldes juvenis que saturam o gênero. A premissa de um amor florescendo na meia-idade, entre duas pessoas carregadas de bagagens emocionais e culturais distintas, é não apenas bem-vinda, mas necessária.

No entanto, o filme de Vivek Soni se revela uma obra de potencial frustrado, um estudo de caso sobre como boas intenções podem se afogar em uma execução apressada, didática e refém de fórmulas.

Apesar de tropeçar em suas próprias ambições, o longa encontrou um público que elogia sua mensagem, criando um interessante debate sobre o que buscamos no cinema de romance hoje: a sutileza da arte ou a clareza de um manifesto?

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Sinopse

A trama nos apresenta a um par improvável. De um lado, Shrirenu Tripathi (R. Madhavan), um professor de sânscrito de 42 anos, virgem e inseguro, criado em Jamshedpur sob os dogmas de um patriarcado que o ensinou a ser o “provedor” de permissões. Do outro, Madhu Bose (Fatima Sana Shaikh), uma professora de francês mais jovem, independente e cosmopolita de Calcutá, que vive sob suas próprias regras.

Unidos por um arranjo familiar, eles iniciam um relacionamento que rapidamente põe em cheque suas visões de mundo. A insegurança de Shrirenu colide com a liberdade de Madhu, e o que começa como um doce romance de opostos se transforma em um campo de batalha de ideologias, forçando ambos a confrontar o peso de suas criações e o verdadeiro significado da parceria.

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Crítica

É impossível negar o acerto inicial do filme. O encontro entre Shrirenu e Madhu é genuinamente cativante. R. Madhavan empresta uma ternura desconfortável ao seu personagem, equilibrando a rigidez de sua formação com a vulnerabilidade de um homem que descobre o afeto tardiamente. Fatima Sana Shaikh, por sua vez, exala carisma e independência, embora seu potencial seja subaproveitado pelo roteiro.

A química entre os dois é o coração pulsante da primeira metade do longa. Há um frescor no modo como o filme aborda o desabrochar desse amor, especialmente em cenas que transbordam sinceridade, como quando Shrirenu admite o quão bom é ter alguém especial. São nesses momentos que o filme nos convida a lembrar o valor das conexões humanas reais.

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Cena do filme 'Alguém Especial Como Você', da Netflix (2025) - Flixlândia
Cena do filme ‘Alguém Especial Como Você’ (Foto: Netflix / Divulgação)

Roteiro refém de fórmulas e hashtags

Infelizmente, esse frescor se dissipa com uma rapidez assustadora. O roteiro parece mais interessado em funcionar como um algoritmo da Dharma Productions, combinando elementos de sucessos anteriores como A História de Amor de Rocky e Rani e 2 Estados, do que em contar sua própria história. O resultado é uma narrativa que parece uma “reunião estranha” desses filmes, onde a fluidez do romance dá lugar a uma funcionalidade esquemática.

Os conflitos sociais, como a masculinidade frágil e a autonomia feminina, são apresentados de forma tão direta e didática que perdem o impacto. A impressão é que cada cena foi pensada para gerar uma hashtag, com diálogos que soam mais como posts de redes sociais do que conversas orgânicas.

Frases como “Você me tocou sem me tocar” ou “Eu não te odeio, só não consigo te amar” são exemplos de uma escrita que busca ser profunda, mas que aterrissa no campo do artificial. O gatilho do aplicativo de sexo, que deveria ser o estopim de uma crise complexa, é tratado com uma superficialidade que enfraquece todo o debate que se propõe a levantar.

A caricatura cultural e a falta de originalidade

O filme constrói seu universo sobre uma base de oposições binárias: sânscrito versus francês, tradição versus modernidade, cidade pequena versus metrópole. Contudo, essa estrutura é tratada sem nuances. A família de Madhu, em Calcutá, é usada como um estereótipo ambulante de “progressismo” e “wokeness”, uma caricatura que, ao invés de celebrar a cultura bengali, a transforma em um conceito exótico e esvaziado de alegria genuína.

Pior ainda é a sensação de que o filme é uma obra de segunda mão. Ele não retrata personagens reais influenciados pelo cinema, mas sim personagens que parecem ter sido construídos a partir de outros filmes. O irmão patriarcal de Shrirenu parece saído de uma maratona de Udaan (2010), e a dinâmica familiar remete diretamente a A História de Amor de Rocky e Rani.

Até mesmo o fofo rato de estimação de Shrirenu, Pande, que simboliza sua solidão inicial, é completamente esquecido assim que o romance engrena — um pequeno detalhe que sintetiza a falta de cuidado do roteiro com seus próprios elementos. O filme se torna uma apropriação de uma história de amor, e não uma história de amor.

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Conclusão

“Alguém Especial Como Você” é um filme de alma dividida. Por um lado, possui um coração com as intenções mais nobres: falar sobre a coragem de amar após os 40, desconstruir o patriarcado e celebrar o amor em suas mais diversas formas. Por outro, sua execução tropeça em um roteiro preguiçoso, que prefere a segurança das fórmulas ao risco da originalidade.

Ainda que tenha encontrado ressonância em uma audiência sedenta por suas mensagens positivas — como provam os elogios nas redes sociais —, o longa falha em deixar uma marca duradoura no espectador mais exigente.

Vale pelos momentos de sinceridade e pela química inegável do casal principal, mas, no saldo final, parece mais um rascunho de ideias admiráveis do que uma obra cinematográfica plenamente realizada. É um romance que, ironicamente, parece ter se esquecido de que, para ser especial, precisava primeiro ser autêntico.

Assista ao trailer do filme Alguém Especial Como Você

Elenco de Alguém Especial Como Você, da Netflix

  • R. Madhavan
  • Fatima Sana Shaikh
  • Manish Chaudhari
  • Ayesha Raza Mishra
  • Namit Das
  • Karan Wahi
  • Shaheb Chatterjee
  • Beena Banerjee
  • Shriyam Bhagnani
  • Sachin Chaudhary

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