Edward Berger chega com um peso nas costas — o peso do sucesso estrondoso de “Nada de Novo no Front” e do intrigante “Conclave”. Essa bagagem faz com que as expectativas para seu novo projeto, “Balada de Um Jogador” (baseado no aclamado livro de Lawrence Osborne), sejam altíssimas.
No entanto, o que vemos em tela é um filme que brilha tanto na superfície que acaba ofuscando a própria história. Não é um fracasso completo, muito longe disso, mas é, sem dúvida, um exemplo gritante de como a ambição visual e o excesso técnico podem drenar a emoção e a substância de uma narrativa.
Sinopse
O filme nos joga no universo caótico e neon de Macau, a “Las Vegas da China”, onde conhecemos Lord Doyle (Colin Farrell). Ele não é um lorde de verdade, mas um impostor irlandês, um vigarista de classe média que fugiu da Inglaterra após roubar uma bolada. Preso entre a fachada de um aristocrata falido e a crua realidade do seu vício autodestrutivo em jogos, Doyle vive no fio da navalha, consumindo tudo à sua volta: lagostas, álcool e, claro, mais apostas.
Enquanto tenta desesperadamente uma “última vitória” para se salvar, ele é caçado por uma investigadora particular, Cynthia Blithe (Tilda Swinton), e estabelece uma relação frágil com Dao Ming (Fala Chen), uma funcionária de cassino que lhe concede crédito de forma arriscada. A trama é a saga do “jogador à beira do abismo”, tentando sobreviver à cidade que é, ao mesmo tempo, seu paraíso e seu inferno pessoal.

Crítica
Se Berger buscou mimetizar o excesso e a histeria autodestrutiva da vida de Doyle com um excesso de cinema, o tiro saiu pela culatra. “Balada de Um Jogador” é um dos filmes mais superdirigidos que se tem notícia. Desde o primeiro frame, ele te bombardeia com uma estética “viciada em atenção”. A direção de arte é overcooked, a trilha sonora é exagerada e a câmera não consegue se contentar em apenas sugerir o pânico de Doyle; ela tem que gritar isso na nossa cara.
Macau, com seus neons ofuscantes e caos controlado, é inegavelmente um personagem fascinante, capturado pela direção de fotografia de James Friend (vencedor do Oscar por “Nada de Novo no Front”) com uma beleza hipnotizante. A cidade parece um sonho febril, um Wong Kar Wai moderno misturado com o brilho decadente de “O Grande Gatsby”.
O problema é que o filme parece bom demais, e isso amplifica a sensação de vazio da história. O excesso técnico e a direção ostensiva roubam a narrativa, nos tornando observadores curiosos de um show estético em vez de participantes engajados no drama humano. O filme é frio onde deveria ser quente e distante onde deveria ser intenso.
➡️ Quer saber mais sobre filmes, séries e streamings? Então acompanhe o trabalho do Flixlândia nas redes sociais pelo INSTAGRAM, X, TIKTOK, YOUTUBE, WHATSAPP, e GOOGLE NOTÍCIAS, e não perca nenhuma informação sobre o melhor do mundo do audiovisual.
Colin Farrell segura o filme
É fácil dizer que Colin Farrell é o único vencedor desta aposta cinematográfica. Como Lord Doyle, o “gweilo” (fantasma estrangeiro), ele entrega uma atuação visceral que transpira pânico, ansiedade e a crueza desesperada do gambling compulsivo. Farrell domina o personagem com modulação, resistindo à histeria que a direção o incita.
Ele evita a caricatura, dando humanidade a um anti-herói cuja autodestruição é quase palpável. A cena em que ele devora lagosta de forma nojenta e desesperada é uma metáfora visual perfeita para o vício, mas mesmo esses momentos de introspecção dão lugar à direção excessiva que nos afasta da dor real. É ele quem segura o filme nas costas, pois sua dor se destaca apesar da direção, e não por causa dela.
Coadjuvantes e roteiro vazios
O roteiro de Rowan Joffe, uma adaptação do aclamado material de Lawrence Osborne, falha miseravelmente em dar profundidade ou conexão real com o espectador. A história, repleta de clichês do “jogador à beira do abismo”, nunca se reinventa. O livro prometia temas filosóficos e morais dignos de Dostoiévski, mas o filme entrega uma saga superficial onde é difícil se importar com o destino do protagonista.
Os personagens que orbitam Doyle sofrem com essa fragilidade:
- Tilda Swinton (Cynthia Blithe): A atriz traz sua marca registrada de estranheza elegante, mas sua personagem, a investigadora particular, é uma distração bizarra, com um figurino absurdo que a torna mais uma figura simbólica do que uma pessoa verossímil.
- Fala Chen (Dao Ming): A funcionária do cassino, a “dealer de drogas” para Doyle, sofre com o roteiro que não desenvolve adequadamente sua atração por ele, que é a “mulher com coração de ouro” (o clichê do Leaving Las Vegas). A trama a tira e a coloca abruptamente, deixando subtramas desconexas.
O filme se perde entre sua ambição estética e seu storytelling simples demais para sustentar a grandiosidade da montagem.
Conclusão
“Balada de Um Jogador” é o retrato de um homem pequeno frente a um mundo gigantesco, para quem a sorte são só lampejos fugazes. É inegável a força técnica e a finesse da produção, mas esse brilho não é sinônimo de fogo. O filme naufraga na emoção, sendo gélido onde deveria ser visceral. É uma oportunidade perdida de explorar a complexidade psicológica e existencial do material original, contentando-se em ser um espetáculo visual que tem mais latido do que mordida.
Se a intenção era criar um drama de vício e decadência, o resultado final é uma obra que brilha pelo que exibe, mas falha miseravelmente no que emociona. A aposta de Berger resultou em um filme que é, no fundo, raso, e que só se salva graças ao esforço descomunal e silencioso de Colin Farrell.
Leia mais:
➡️ ‘A Própria Carne’, um banho de sangue com sabor de podcast
➡️ Para além do espetáculo: a brutalidade nua e crua de ‘Novembro’
➡️ ‘Springsteen: Salve-me do Desconhecido’: recorte da vida do ‘Boss’ mostra período de tempo prolífico e sombrio
Onde assistir ao filme Balada de Um Jogador?
O filme “Balada de Um Jogador” está disponível para assistir na Netflix.
Veja o trailer de Balada de Um Jogador (2025)
Quem está no elenco de Balada de Um Jogador, da Netflix?
- Colin Farrell
- Fala Chen
- Deanie Ip
- Alex Jennings
- Tilda Swinton
















