Jean-Stéphane Sauvaire, conhecido por mergulhar em narrativas intensas e sensoriais, retorna com “Cidade de Asfalto” (Asphalt City), um filme que busca retratar a dura realidade de paramédicos em Nova York.
Estrelado por Sean Penn e Tye Sheridan, a produção nos leva ao coração de Brownsville, Brooklyn, uma das regiões mais violentas da cidade. Contudo, enquanto tenta ser uma análise visceral da miséria urbana, o filme flerta perigosamente com exageros estilísticos e uma visão desumanizadora de seus personagens periféricos.
Sinopse do filme Cidade de Asfalto (2024)
Na trama, Ollie Cross (Tye Sheridan), um jovem idealista que sonha em ser médico, inicia sua carreira como paramédico. Emparelhado com Rutkovsky, ou apenas Rut (Sean Penn), um veterano cínico e endurecido pela profissão, ele enfrenta noites repletas de emergências caóticas e visões do pior da condição humana.
Enquanto tenta encontrar sentido no trabalho, Ollie é confrontado pela brutalidade de um sistema que parece condenado à falência, ao mesmo tempo que lida com traumas pessoais e uma relação disfuncional. A jornada de ambos, entre corpos feridos e almas despedaçadas, revela mais sobre suas próprias fragilidades do que sobre aqueles que tentam salvar.
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Crítica de Cidade de Asfalto, do Prime Video
“Cidade de Asfalto” se destaca pelo visual estilizado e pela intensidade das cenas, mas acaba tropeçando em sua própria ambição. Sauvaire entrega um filme que tenta se equilibrar entre o realismo cru e o espetáculo exagerado, mas frequentemente cede à tentação do sensacionalismo. A direção utiliza planos claustrofóbicos e uma fotografia sombria para criar um ambiente opressivo que, embora visualmente impactante, rapidamente se torna repetitivo.
Sean Penn brilha como Rut, um homem à beira do colapso emocional. Ele equilibra cinismo e uma fatídica centelha de humanidade, criando um personagem tão fascinante quanto trágico. Tye Sheridan, por sua vez, entrega uma atuação contida como Ollie, mas sua performance é prejudicada por um roteiro que explora mais os ambientes em que ele está inserido do que seu arco emocional.
A comparação inevitável com obras como “Vivendo no Limite”, de Martin Scorsese, é tanto uma bênção quanto uma maldição. Enquanto o filme de 1999 mergulhava na psicologia de seus personagens, “Cidade de Asfalto” se contenta em pintar um quadro de horror urbano, muitas vezes à custa da profundidade narrativa.
As cenas de violência extrema e as representações de minorias frequentemente reforçam estereótipos, tornando os personagens secundários meros adereços no espetáculo de desespero.
Há momentos brilhantes, como uma cena em Coney Island que explora a melancolia dos protagonistas em contraste com o vazio da paisagem ao redor. Mas são ofuscados por escolhas como o uso exagerado de metáforas visuais, incluindo uma sequência grotesca envolvendo um parto e imagens de um abatedouro.
Conclusão
“Cidade de Asfalto” é uma experiência intensa, mas desequilibrada. Embora a direção de Sauvaire e as atuações de Penn e Sheridan sejam dignas de nota, o filme frequentemente sacrifica nuance em favor de um impacto visual imediato. O resultado é uma obra que impressiona, mas que dificilmente deixa uma marca duradoura, aprisionada em seu próprio vazio emocional.
IDÉIA BOA, FILME RUIM;
A sinopse traz uma boa intensão. Porém, iniciando com cenas impactantes sugerindo boas promessas envereda pelo exagero e até uma intenção distópica demais. Parei de assistir na cena do cachorro morto jogado no armário pelo parceiro sem noção do protagonista visando uma “brincadeira”; completamente sem sentido.