Cometerra resenha crítica série Prime Video 2025 Flixlândia

[CRÍTICA] O poder das desaparecidas: como ‘Cometerra’ transforma o misticismo em denúncia urgente

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Em meio ao catálogo recheado do Prime Video, surge uma produção que não tem medo de sujar as mãos: Cometerra. Adaptada do aclamado romance homônimo da argentina Dolores Reyes, e trazida à tela pelo diretor Daniel Burman (de Iosi, o Arrependido), esta série não é só mais um drama adolescente com toques sobrenaturais. É um soco no estômago, um espelho incômodo apontado para as feridas abertas da América Latina — mais especificamente, para a epidemia de feminicídios e desaparecimentos que aterra a região.

Burman, ao transferir a história da Argentina para o México, mostra que a dor da periferia, a omissão do Estado e a urgência do grito feminista “Ni Una Menos” são, tristemente, universais. Com um elenco afiado, incluindo a indicada ao Oscar Yalitza Aparicio e a revelação Lilith Curiel, a série prova que o realismo mágico ainda tem muito a dizer sobre a nossa brutal realidade.

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Sinopse

Cometerra nos apresenta a Aylín (Lilith Curiel), uma adolescente mexicana que vive na periferia e que, após um episódio de bullying, descobre um dom tão bizarro quanto trágico: ao comer terra, ela passa a ter visões vívidas de pessoas que foram mortas ou que desapareceram. Esse poder involuntário a transforma em uma “detetive espiritual”, uma espécie de médium que carrega o fardo da memória coletiva.

Ao lado do irmão Walter (Roberto Aguilar) e do policial Ezequiel (Harold Torres), que se torna um aliado improvável, Aylín se enreda em casos de desaparecimento que a polícia local costuma ignorar. A série, longe de ser um procedural simples, usa esse elemento fantástico como uma lente de aumento para expor o drama social e a violência estrutural que pairam sobre sua comunidade, focando na impunidade e na dor das famílias que procuram por suas filhas e mães.

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Resenha crítica da série Cometerra

💔 A transferência de dor: da Argentina ao México

Uma das decisões mais audaciosas e acertadas de Daniel Burman foi tirar a história do Conurbano bonaerense para jogá-la na Cidade do México. E que bom que ele fez isso! Não foi uma mera jogada logística, mas um movimento simbólico que universaliza o tema. A violência de gênero e a impunidade estatal não são exclusivas de um país; são a marca registrada da região.

Ao fazer essa transposição, a série reforça o que o livro de Dolores Reyes já gritava: a dor é a mesma, as injustiças se repetem, e a terra que uma adolescente devora no México tem o mesmo peso das periferias argentinas. É uma forma inteligente de manter a essência política e visceral do livro, ampliando seu alcance para uma discussão latino-americana de fôlego.

Cometerra resenha crítica série Prime Video 2025 Flixlândia
Foto: Prime Video / Divulgação

💫 O realismo mágico como arma de crítica social

O grande trunfo de Cometerra está no seu tom. Ela não hesita em misturar o drama adolescente, com suas amizades e descobertas (embora o sumiço repentino do namorado de Aylín seja um ponto solto e confuso, e a aceitação imediata dos amigos ao seu dom seja um furo na narrativa), com o horror onírico das visões. O dom de Aylín é a metáfora perfeita: a terra guarda a memória que a sociedade e o Estado tentam enterrar.

As visões da protagonista são um espetáculo à parte, filmadas com uma estética saturada, tons vermelhos e uma trilha experimental que te puxa para um pesadelo constante. É a prova de que o realismo mágico latino-americano segue vivo, mas agora com uma pegada urbana e politizada.

A série transforma o sobrenatural em ferramenta de denúncia. Aylín não é uma super-heroína que resolve tudo, mas sim uma mediadora vulnerável que carrega o fardo da violência alheia, expondo a ferida social através de seu corpo e de seu poder.

🎶 Música, tensão e as convenções do streaming

A série tem um elenco coadjuvante de peso, com Harold Torres e Gerardo Taracena, além de Yalitza Aparicio (em um papel importante no início da trama), que dão corpo e credibilidade à narrativa. As atuações são sólidas e ajudam a sustentar a atmosfera densa.

No entanto, há um detalhe que quebra um pouco o feitiço: a trilha sonora pop. Enquanto a música incidental contribui para o clima de tensão e sufocamento, a insistência em inserir hits de artistas conhecidos (como Natalia Lafourcade, Cazzu, Bizarrap) acaba parecendo uma estratégia de plataforma para vender a trilha ou fisgar a audiência jovem, e não uma escolha orgânica.

É um pequeno incômodo que, em alguns momentos, perturba o clima sombrio que a série constrói com tanto cuidado. Mesmo assim, Burman se mostra à vontade no formato streaming, entregando uma série curta, intensa e que funciona como um thriller envolvente, apesar de ter suavizado um pouco a ambiguidade e a introspecção brutal do romance original.

Conclusão

Cometerra é uma série necessária. Vai muito além do entretenimento para se posicionar como um comentário social urgente sobre a realidade da violência de gênero na América Latina. Ao usar a fantasia como veículo para a verdade, a série honra o espírito do livro de Dolores Reyes, transformando o silêncio e o esquecimento em visões perturbadoras e em um grito de resistência.

O poder de Aylín é o símbolo da memória que se recusa a ser calada. É uma produção que, mesmo com alguns desvios do texto original e concessões ao formato streaming, cumpre sua missão: nos fazer encarar a terra que pisamos, sabendo que ela carrega as histórias e a dor de milhares de vozes silenciadas.

Onde assistir à série Cometerra?

Trailer de Cometerra (2025)

YouTube player

Elenco de Cometerra, do Prime Video

  • Lilith Curiel
  • Gerardo Taracena
  • Harold Torres
  • Hugo Albores
  • Max Peña
  • Ivan Martz
  • Roberto Aguilar
  • Mabel Cadena
  • Yalitza Aparicio
Escrito por
Taynna Gripp

Formada em Letras e pós-graduada em Roteiro, tem na paixão pela escrita sua essência e trabalha isso falando sobre Literatura, Cinema e Esportes. Atual CEO do Flixlândia e redatora do site Ultraverso.

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