Nesta quinta-feira, dia 13 de novembro, os cinemas brasileiros receberam o drama belga Corações Jovens (Young Hearts), o elogiado filme de estreia do cineasta e roteirista Anthony Schatteman. E, olha, não é exagero dizer que essa é uma daquelas pérolas cinematográficas que chegam de mansinho, mas prometem ocupar um espaço gigante no coração do público.
Aclamado por onde passou, com prêmios em festivais como a Berlinale (Generation Kplus Special Mention) e Cannes —, o filme nos oferece um retrato honesto, melancólico e surpreendentemente universal sobre a descoberta da sexualidade e do primeiro amor.
Longe dos holofotes de Hollywood, essa coprodução belga-holandesa prova que a força de uma história está na sua sinceridade e na coragem de mergulhar no turbilhão de emoções internas da juventude.
Sinopse
A trama nos transporta para uma vila rural e acolhedora na região de Flandres, na Bélgica, onde vive Elias (interpretado pelo notável Lou Goossens), um garoto de 14 anos com uma vida aparentemente comum. Sua família é amorosa, embora tenha uma particularidade: o pai, Luk (Geert Van Rampelberg), vive um sucesso tardio e inesperado como uma sensação pop local, com músicas que falam, ironicamente, sobre como “o primeiro amor acende o fogo no seu coração”.
A rotina e a autoimagem de Elias são abaladas quando Alexander (Marius De Saeger) se muda para a casa da frente, vindo da agitada Bruxelas. Alexander carrega uma maturidade e uma leveza que contrastam com o mundo provinciano de Elias, e o que é mais importante: ele fala abertamente sobre ter amado um garoto antes.
O encontro entre esses dois mundos desencadeia em Elias uma confusão silenciosa e poderosa. Ele se apaixona pela primeira vez, mas não tem o vocabulário emocional para entender ou articular esse novo sentimento, que a sociedade à sua volta o ensinou a internalizar como algo que não é o “normal”.
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Resenha crítica de Corações Jovens
Anthony Schatteman, vindo de uma carreira consolidada em curtas e séries, estreia em longas com uma confiança e calma admiráveis. Em Corações Jovens, ele faz uma escolha corajosa e essencial: fugir do caminho fácil do trauma. O filme se afasta do clichê de dramas LGBTQIA+ onde a violência física ou verbal é o motor da história.
Não há aqui pais homofóbicos gritando ou agressões explícitas; em vez disso, o filme investe no drama interno, no desenvolvimento do personagem. Schatteman nos mostra que o processo de amadurecimento e a descoberta da orientação sexual já são inerentemente traumáticos, mesmo em um ambiente “neutro” ou minimamente aceitável. É nessa recusa em hiperdramatizar que o filme ganha uma honestidade emocional rara.

O peso silencioso da normalidade heteronormativa
Este é, talvez, o ponto mais original e doloroso do filme. Elias cresce em uma sociedade que não é ativamente tóxica, mas é profundamente heteronormativa. Seus pais o amam, mas não criaram um contexto onde ele pudesse, implicitamente, sentir que não precisa esconder quem ele é. O pai, absorvido em seu sucesso pop, e a mãe, amorosa, mas hesitante, falham em criar um espaço de diálogo.
A ausência de opressão externa é substituída pela opressão da própria “normalidade” esperada. O filme nos mostra, de maneira pungente, a construção embrionária de uma identidade que se sente forçada a se fechar em um armário, não por causa de um vilão, mas por um silêncio social.
Ver Elias tentar resolver seu caos interior para provar que merece o coração de Alexander é, em muitos aspectos, mais doloroso do que o conflito clássico, pois demonstra como até mesmo uma sociedade meramente neutra pode impedir alguém de se sentir seguro em sua própria identidade.
Atuações, estética e a poesia do olhar tímido
O elenco é um grande acerto. Lou Goossens, em seu primeiro papel no cinema, é um ator para se prestar atenção. Seu Elias é uma tela de emoções sutis e um turbilhão interior. Ele não precisa de falas grandiosas, basta um olhar hesitante, um ombro encolhido ou um sorriso contido para nos transmitir o medo e a beleza do despertar.
Marius De Saeger, como Alexander, oferece o contraponto perfeito: ele é o “menino da cidade” que age como um guia empático e experiente para o neófito Elias, injetando uma dose de segurança e curiosidade na tela.
Essa história é embalada por uma estética visual que merece destaque. A fotografia de Pieter Van Campe é luminosa e calorosa, com tons pastorais que reforçam o contraste entre a serenidade do exterior rural e a tormenta íntima do protagonista.
O uso da câmera na mão em momentos-chave, como na conversa importante entre os garotos, serve para nos imergir ainda mais no filme, funcionando como uma afirmação do estado emocional dos personagens e da instabilidade do mundo ao seu redor.
Conclusão
Corações Jovens é um filme que escolhe a ternura em vez do sofrimento, a empatia em vez da manipulação emocional. Schatteman consegue entregar uma obra de estreia que não busca manchetes, mas sim uma carreira sustentável e pautada na sensibilidade. É um filme que, inevitavelmente, convida comparações com a estética belga de Lukas Dhont (como em Close), mas se beneficia de uma honestidade orgânica que Dhont nem sempre alcança.
É um retrato real e melancólico, mas que no fim das contas aquece o coração. Seja você LGBTQIA+ ou não, a jornada de Elias é um lugar comum: é sobre a confusão, a beleza e a coragem do primeiro amor. Para quem busca uma história que compreenda a adolescência em todas as suas nuances, sem julgamentos e com uma delicadeza rara, Corações Jovens é imperdível.
Onde assistir ao filme Corações Jovens?
O filme estreou nesta quinta-feira, 13 de novembro de 2025, exclusivamente nos cinemas brasileiros.
Trailer de Corações Jovens (2025)
Elenco do filme Corações Jovens
- Lou Goossens
- Marius De Saeger
- Geert Van Rampelberg
- Emilie De Roo
- Dirk van Dijck
- Jul Goossens
- Ezra Van Dongen
- Olivier Englebert















