‘Coringa – Delírio a Dois’, quando a ousadia se perde no caos
Wilson Spiler13/12/20243 Mins de Leitura114 Visualizações
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Após o estrondoso sucesso do filme Coringa (2019), Todd Phillips e Joaquin Phoenix retornam com a aguardada sequência, “Coringa: Delírio a 2” (Joker: Folie à Deux). Desta vez, o longa incorpora elementos musicais e introduz Lady Gaga como Arlequina, prometendo uma abordagem ousada e inovadora para a história de Arthur Fleck.
No entanto, a tentativa de expandir o universo do Palhaço do Crime resulta em uma obra que divide opiniões ao tentar equilibrar ambição criativa com execução inconsistente.
“Delírio a Dois” retoma a jornada de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) após os eventos caóticos do primeiro filme. Encarcerado no Arkham State Hospital, ele espera julgamento pelos assassinatos cometidos enquanto enfrentava sua crescente instabilidade mental.
É nesse cenário que Arthur encontra Lee (Lady Gaga), uma admiradora que se tornará sua cúmplice e amante, enquanto o filme explora a relação entre os dois. Alternando entre realidade e fantasia, a trama se desenvolve por meio de números musicais que refletem os delírios e conflitos internos de seus protagonistas.
Todd Phillips demonstra coragem ao romper com a fórmula do primeiro filme, transformando “Delírio a Dois” em um musical sombrio. A decisão de incorporar elementos musicais, embora ousada, esbarra em problemas de coesão narrativa. A música, em vez de enriquecer a trama, frequentemente parece deslocada, interrompendo o ritmo e desviando a atenção do núcleo dramático.
Joaquin Phoenix, como esperado, entrega uma performance magnética. Ele navega entre as facetas de Arthur Fleck com maestria, equilibrando fragilidade emocional e fúria explosiva. Seus números musicais, embora tecnicamente desafiadores, revelam um comprometimento total com o personagem.
Lady Gaga, por outro lado, enfrenta um desafio maior: enquanto sua voz e presença elevam as sequências musicais, o roteiro falha em construir uma Arlequina à altura de sua interpretação. A personagem oscila entre ser uma figura fascinante e uma caricatura rasa, o que prejudica o impacto emocional da relação entre ela e Arthur.
Roteiro sem profundidade
Em termos visuais, o filme mantém o padrão elevado do primeiro, com uma fotografia que intensifica a claustrofobia do Arkham e a opressão social de Gotham. Porém, o roteiro carece de profundidade e parece mais interessado em provocar do que em contar uma história coesa. As críticas sociais, que foram o alicerce do primeiro filme, dão lugar a uma metalinguagem superficial que raramente se justifica.
Outro ponto problemático é a dinâmica entre Arthur e Lee. O relacionamento, que deveria ser o coração da história, é mal desenvolvido e falta química entre os personagens. O filme tenta explorar questões de dependência emocional e manipulação, mas acaba caindo em clichês que não fazem jus à complexidade dos protagonistas.
“Coringa: Delírio a 2” é uma sequência que se destaca pela ambição, mas tropeça na execução. Todd Phillips tenta subverter as expectativas com um musical psicologicamente denso, mas o resultado é um filme que, apesar de momentos brilhantes, se perde em suas próprias pretensões.
Joaquin Phoenix brilha novamente, e Lady Gaga entrega um esforço notável, mas são prejudicados por um roteiro fragmentado. No final, o filme acaba sendo um experimento interessante, mas que carece da força narrativa necessária para sustentar suas ideias ousadas.
Formado em Design Gráfico, Pós-graduado em Jornalismo e especializado em Jornalismo Cultural, com passagens por grandes redações como TV Globo, Globonews, SRZD e Ultraverso.