“Desconhecidos” é o tipo de filme que chega ao público cercada de polêmicas e ambições. Filmado em 35mm, com uma estética deliberadamente retrô e uma narrativa não linear, o longa de JT Mollner tenta ir além do simples jogo de gato e rato entre uma mulher e seu perseguidor.
No entanto, entre pretensões autorais, homenagens ao cinema dos anos 1970 e um desejo quase obsessivo por subverter convenções do gênero, o filme se vê dividido entre um experimento cinematográfico ousado e um projeto que parece sedento por atenção.
Sinopse do filme Desconhecidos
Na selvagem e isolada região de Oregon, uma mulher ferida (Willa Fitzgerald) tenta sobreviver enquanto é implacavelmente perseguida por um homem que atende pelo apelido de “Demônio” (Kyle Gallner). Ao longo de seis capítulos embaralhados e um epílogo, acompanhamos uma perseguição intensa, cheia de armadilhas narrativas, violência gráfica e mudanças inesperadas de ponto de vista.
O que parece ser apenas mais uma trama de serial killer logo se transforma em algo mais complexo, onde os papéis de vítima e algoz são constantemente embaralhados — e o espectador, manipulado.
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Crítica de Desconhecidos (2025)
A primeira frase que surge na tela — “filmado inteiramente em 35mm” — já entrega muito sobre o que JT Mollner quer dizer ao público: antes de tudo, seu filme é uma vitrine estética. De fato, a textura da película e a paleta de cores estouradas evocam a atmosfera dos clássicos do horror setentista, com tons neon e um trabalho de iluminação que salta aos olhos.
A direção de fotografia de Giovanni Ribisi, embora irregular, reforça essa intenção de transformar cada plano em um cartão-postal de tensão e nostalgia. Porém, quando a estética se sobrepõe à substância, o que resta são imagens bonitas que nem sempre contam algo relevante.
Narrativa que confunde mais do que engana
A estrutura dividida em capítulos fora de ordem aparenta, inicialmente, uma sofisticação narrativa. No entanto, essa escolha acaba parecendo mais uma tentativa de esconder a simplicidade da trama do que uma real inovação. A montagem fragmentada impede que o espectador mergulhe emocionalmente na história, funcionando mais como um truque de prestidigitação do que como ferramenta narrativa eficaz.
Há um certo tom de arrogância na forma como o filme entrega suas reviravoltas — como se dissesse “você não vai entender agora, mas vai se surpreender depois”, sem necessariamente entregar algo à altura dessa promessa.
Fitzgerald e Gallner sustentam o filme
Apesar das idas e vindas da narrativa e da estilização excessiva, as atuações centrais seguram a tensão com firmeza. Willa Fitzgerald entrega uma performance de força contida, que transita entre fragilidade e ameaça, enquanto Kyle Gallner assume com segurança o papel de predador enigmático e instável.
A relação entre os dois é construída aos poucos, especialmente em cenas de diálogo onde o subtexto é mais perturbador do que a violência explícita. Quando o roteiro deixa os personagens respirarem, o filme atinge seus momentos mais interessantes.
Subversão ou artifício?
Mollner se propõe a subverter o arquétipo da “final girl” e os clichês do terror de perseguição. Revelar a verdadeira vilã na metade do filme e inverter os papéis tradicionais de caçador e presa pode parecer uma jogada inteligente — e, em teoria, é mesmo.
No entanto, a execução deixa a desejar. A tal “subversão” perde força quando não vem acompanhada de uma reflexão mais profunda sobre poder, gênero e violência. Em vez disso, parece mais uma piscadela autoconsciente para o público alternativo do que uma crítica real às convenções do gênero.
Quando o estilo atrapalha a narrativa
O excesso de referências, a trilha sonora estridente, a montagem desordenada e até mesmo o núcleo do casal hippie (com Barbara Hershey e Ed Begley Jr) compõem um conjunto de distrações que quebram o ritmo e minam a tensão.
Há momentos em que o filme parece querer ser Tarantino, Fargeat e Ti West ao mesmo tempo, mas sem alcançar o equilíbrio que esses diretores costumam demonstrar. O resultado é uma colcha de retalhos estilosa, porém instável.
Conclusão
“Desconhecidos” é um filme que quer muito ser diferente, importante e provocador — e por vezes, até consegue. Tem momentos genuinamente instigantes, especialmente quando aposta no jogo psicológico entre seus protagonistas.
Mas se perde ao insistir em ser mais esperto do que seu público, disfarçando uma história simples com uma embalagem sofisticada. A estética retrô, embora charmosa, não sustenta sozinha um longa que parece querer chocar mais do que contar algo relevante.
Ainda assim, o longa não deixa de ser uma experiência curiosa, principalmente para quem aprecia thrillers estilizados e tensos. É uma obra que provoca debate — e isso, por si só, já é um mérito. No fim das contas, “Desconhecidos” não é um filme para todos, mas talvez nem queira ser.
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Onde assistir ao filme Desconhecidos
O filme está disponível para assistir nos cinemas.
Trailer de Desconhecidos (2025)
Elenco do filme Desconhecidos
- Willa Fitzgerald
- Kyle Gallner
- Madisen Beaty
- Bianca A. Santos
- Steven Michael Quezada
- Ed Begley Jr.
- Barbara Hershey
- Denise Grayson
Ficha técnica de Desconhecidos (2025)
- Título original: Strange Darling
- Direção: JT Mollner
- Roteiro: JT Mollner
- Gênero: suspense, terror
- País: Estados Unidos
- Duração: 97 minutos
- Classificação: 18 anos