Sinopse do filme Deslizando pela Vida 2 (2025)
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Crítica de Deslizando pela Vida 2, da Netflix
Katia Winter imprime à personagem uma vulnerabilidade comovente, explorando com sutileza o desconforto de alguém que não sabe lidar com o sucesso emocional. O roteiro não força uma traição física, mas sugere uma traição emocional silenciosa, através da aproximação com Calle — um elemento narrativo eficiente que acentua o conflito interno de Lisa sem recorrer a clichês melodramáticos.
Daniel e Klara: um casamento em colapso silencioso
Enquanto Lisa luta com o medo da estabilidade, Daniel enfrenta a dificuldade de ajustar expectativas no casamento. A trama paralela de Daniel e Klara é um dos pontos mais interessantes do filme, justamente por não oferecer soluções fáceis. O nascimento da filha, Vera, longe de selar a felicidade conjugal, apenas evidencia ainda mais as diferenças irreconciliáveis entre eles.
Fredrik Hallgren e Ida Engvoll (Klara) entregam atuações contidas e realistas, transformando cenas que poderiam soar banais — como as discussões sobre treinamento e prioridades — em momentos carregados de tensão emocional.
A cena em que Klara, exausta e magoada, decide seguir sozinha na corrida após Daniel abandoná-la, é um dos ápices do filme, cristalizando a metáfora central da obra: a vida é uma longa corrida onde, por vezes, é preciso pedalar só.
Humor sutil
Ao contrário do estereótipo do noir escandinavo, “Deslizando pela Vida 2” se insere no que muitos críticos têm chamado de “Luz Nórdica”: narrativas que exploram o realismo social e a complexidade emocional com doses de humor irônico e delicado. Aqui, o humor surge nas situações cotidianas, muitas vezes desconfortáveis, como o pedido de casamento seguido pelo vômito acidental, ou nas interações entre irmãos.
A direção de Mårten Klingberg mantém a mesma sensibilidade estética do primeiro filme: planos abertos que destacam as paisagens suecas como elementos narrativos e emocionais, reforçando o contraste entre a vastidão natural e a pequenez dos conflitos humanos. A cena final, com o casamento improvisado de Lisa e Anders em um festival de verão, sintetiza bem esse equilíbrio entre o grandioso e o íntimo.
Klingberg também evita arroubos estilísticos e opta por uma condução sóbria e eficiente, que privilegia os atores e o desenvolvimento emocional, sem perder de vista a estética minimalista que caracteriza o cinema escandinavo contemporâneo.
Continuidade ou redundância?
Um dos riscos das sequências é a sensação de repetição. De fato, alguns espectadores podem perceber “Deslizando pela Vida 2” como uma reiteração dos conflitos do primeiro filme, agora com menos frescor e mais previsibilidade. Entretanto, ao optar por não criar novos grandes eventos, mas aprofundar as cicatrizes e as fragilidades dos personagens, o filme se distancia da armadilha do mais-do-mesmo e adota um tom mais maduro.
A linha narrativa de Lisa talvez soe menos impactante que sua luta contra o alcoolismo no filme anterior, mas é justamente na banalidade dos novos desafios — um pedido de casamento, um ex-namorado reaparecendo, um acidente de carro — que reside a força do roteiro: mostrar que a vida adulta é feita de pequenas escolhas, nem sempre épicas, mas sempre significativas.
Boas atuações e direção segura
Katie Winter e Fredrik Hallgren são novamente os pilares dramáticos do filme. Winter aprofunda a vulnerabilidade de Lisa, adicionando uma camada de autoconhecimento e resignação que faltava no primeiro longa. Hallgren, por sua vez, equilibra com competência o humor e a melancolia de Daniel, consolidando-se como um dos pontos altos da franquia.
O elenco coadjuvante, embora menos explorado, cumpre bem seu papel, especialmente nas figuras de Calle, interpretado com o charme destrutivo necessário, e Klara, que ganha mais protagonismo nesta sequência.
Conclusão
Embora possa decepcionar quem espera reviravoltas mais intensas ou um clímax catártico, o filme se firma como um retrato honesto e sensível das dificuldades da vida adulta, embalado por belas paisagens suecas e atuações cativantes. No fim das contas, “Deslizando pela Vida 2” reafirma a mensagem de que não há linha de chegada definitiva: o importante é seguir pedalando.