'Flores Humanas da Carne', uma peça cinematográfica líquida e maravilhosa

O belo e indecifrável filme “Flores Humanas da Carne” (Human Flowers of Flesh) é o segundo longa-metragem da diretora alemã Helena Wittmann, que nos convida a abrir mão do controle e acompanhá-la em uma viagem ao Mediterrâneo como nenhuma outra. Estrelado pela atriz grega Angeliki Papoulia, de “Dente Canino” e “O Lagosta”, pelo brasileiro Gustavo Jahn, de “O Som ao Redor”, e pelo francês Denis Lavant, de “Bom Trabalho”.

Sinopse de Flores Humanas da Carne

Ida é uma mulher que mora em um iate à vela com uma tripulação de cinco homens, de diferentes nacionalidades. Em Marselha, ela fica fascinada pela Legião Francesa, e parte, com sua tripulação, para traçar a rota desta tropa lendária. A viagem os levará a Córsega e finalmente a Sidi Bel Abbès, o antigo quartel-general da Legião na Argélia. Ao longo do caminho, as fronteiras se misturam, a vida no mar produz uma compreensão mútua e um antigo legionário retorna.

Crítica do filme Flores Humanas da Carne

“Flores Humanas da Carne” mergulha fundo no estilo do Cinema Lento (Slow Cinema), um movimento contemporâneo que tem conquistado espaço no circuito de arte e festivais de cinema internacional. Este modelo, que mistura práticas realistas e modernistas, é marcado por longas tomadas, pouco diálogo, pouca ou nenhuma narrativa e um forte foco na quietude e na duração das cenas.

O uso da água como princípio organizador não apenas dá ao filme uma estética única, mas também o conecta a uma tradição mais ampla de cinema que aborda temas como viagem, conexão e a relação do homem com a natureza. Wittmann utiliza-se de longas tomadas e uma edição intuitiva para criar uma atmosfera que mais se assemelha a alucinações do que a um filme narrativo convencional.

Embora “Flores Humanas da Carne” seja uma experiência sensorial impressionante, com imagens deslumbrantes e sons que evocam a sensação de estar em um barco, ele não está isento de críticas. Alguns aspectos, como a trama envolvendo a Legião Estrangeira Francesa, parecem não se encaixar completamente na estética minimalista do Cinema Lento. Além disso, o uso ocasional de exposição direta e forçada enfraquece o poder da obra, que se destaca justamente pela sua capacidade de transmitir uma experiência visceral e imediata.

Conclusão

No geral, “Flores Humanas da Carne” é uma obra intensa e primorosamente realizada. Sua interação cativante entre imagem e som, e a mistura sensível entre corpos humanos e paisagens, fazem dele uma experiência inesquecível. É um filme que convida o espectador a mergulhar em suas profundezas, sendo envolvido e embalado pelas ondas do mar. Uma peça cinematográfica líquida e maravilhosa, mas é preciso imergir neste oceano e não apenas ficar boiando sobre a água.