Com o sucesso estrondoso de “Round 6” e o encerramento de sua terceira temporada em junho de 2025, a Netflix reafirma a ascensão imparável dos k-dramas no cenário global. A demanda por produções sul-coreanas só cresce, e a plataforma não perdeu tempo em capitalizar essa popularidade.
A mais recente aposta, “Gatilho” (Trigger), que chegou ao catálogo nesta sexta-feira (25), é um thriller de ação e suspense que promete agitar as águas, trazendo uma premissa ousada e raramente explorada na ficção coreana: a proliferação de armas de fogo.
Sinopse
“Gatilho” nos transporta para uma Coreia do Sul onde a posse de armas de fogo por civis é extremamente restrita e os índices de criminalidade com esse tipo de armamento são historicamente baixos.
No entanto, a calma é brutalmente rompida pelo surgimento de uma rede clandestina de comércio de armas, que inunda o país com pistolas e munição, desencadeando uma onda de violência sem precedentes. As armas são entregues como encomendas comuns, e a origem desse mercado sombrio é um mistério.
Em meio ao caos, o obstinado detetive Lee Do (Kim Nam-gil), um ex-atirador militar assombrado por seu passado, lidera as investigações. Ele suspeita que os tiroteios estão interligados, mas se vê num beco sem saída. Seu caminho se cruza inesperadamente com Moon Baek (Kim Young-kwang), um homem enigmático e estrategista que esconde suas verdadeiras intenções por trás de uma fachada descontraída.
Com personalidades e intenções distintas, Lee Do e Moon Baek são forçados a uma aliança improvável para desvendar o complexo esquema de contrabando que mergulhou a Coreia do Sul em um pesadelo armado.
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Crítica
“Gatilho” não é apenas mais um thriller de ação. A série, dirigida por Kwon Oh-seung, ousa explorar um cenário quase impensável na realidade sul-coreana, transformando-o em um campo fértil para reflexões profundas sobre a natureza humana, a injustiça social e as consequências de se colocar uma arma nas mãos de quem está no limite.
A premissa central de “Gatilho” é, por si só, chocante e original. A Coreia do Sul é um país com leis de controle de armas rigorosíssimas, e a ideia de um aumento repentino de crimes relacionados a armas é um cenário de pesadelo que raramente é retratado na sua própria ficção.
Essa inversão da realidade estabelecida cria um clima de medo e urgência que permeia cada episódio. A série não se limita a usar armas como meros adereços; ela explora o “porquê” por trás de cada disparo, mergulhando nas motivações e nos tormentos internos de quem as empunha.
Ao invés de glorificar a violência, “Gatilho” a utiliza como uma lente para examinar as tensões sociais, a frustração e a raiva que podem levar pessoas comuns a atos extremos. O drama nos força a confrontar a questão: o que aconteceria se a sociedade fosse munida de um gatilho para expressar sua dor e descontentamento? A série não foge do debate, e essa coragem é um dos seus maiores trunfos.
Duas faces da mesma moeda: Lee Do e Moon Baek
A dinâmica entre Lee Do e Moon Baek é o coração pulsante da série. Kim Nam-gil entrega uma performance sólida como Lee Do, um detetive estoico e carregado por traumas passados. Ele personifica a luta pela justiça em um mundo que parece ter virado de cabeça para baixo. Sua contenção emocional, embora por vezes limite o personagem, é um testamento à sua habilidade de transmitir profundidade sem grandes gestos.
Por outro lado, Kim Young-kwang brilha como Moon Baek, um personagem carismático e enigmático, cuja aparente despreocupação esconde intenções complexas. A dicotomia entre os dois, um representando a lei e o outro a força motriz do caos, cria um duelo psicológico e de ação que mantém o espectador na ponta da cadeira. A química inesperada entre os atores é um dos pontos altos, complementando a narrativa de forma orgânica.
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Os gatilhos do cotidiano: histórias que ressoam
“Gatilho” acerta ao dar voz e rosto às “almas cansadas” que, ao receberem uma arma, veem uma oportunidade de resolver seus problemas ou buscar vingança. O destaque fica para Woo Ji-hyun, que interpreta o estudante universitário Yoo Jeong-tae. Sua atuação é hipnotizante, capturando com perfeição a angústia e a fúria de um jovem farto das regras não ditas da sociedade.
Jeong-tae, ao lado de personagens como Kyeong-sook (a luta dos sem poder), Gyu-jin (a violência escolar) e Jung-man (a frustração dos marginalizados), personifica a linha tênue entre a vítima e o perpetrador, revelando as rachaduras no sistema social coreano.
Essas narrativas individuais são tecidas com maestria na trama principal, enriquecendo a história e ampliando o escopo da discussão sobre a violência. A série habilmente mostra o que pessoas nessas situações poderiam fazer se tivessem acesso a armas e como a sociedade reagiria a isso.
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Ação pulsante e direção acertada
No quesito técnico, “Gatilho” entrega o que promete. As cenas de ação são empolgantes e realistas, com perseguições de carro, tiroteios intensos e confrontos físicos bem coreografados. A Netflix investe pesado, e isso se reflete na qualidade da produção. A cinematografia é notável, com ângulos criativos que amplificam o clímax de cada episódio e uma trilha sonora que intensifica a tensão sem ser disruptiva.
No entanto, à medida que a série avança, os momentos de ação dão lugar a monólogos e discussões mais longas, que, embora necessárias para aprofundar a trama, podem testar a paciência de alguns espectadores em busca de adrenalina constante. Outra pequena crítica seria o tempo de tela limitado de alguns personagens secundários, cujas histórias, como as de Yoo Jeong-tae e Oh Kyung-sook, pareciam ter potencial para serem mais exploradas.
Conclusão
“Gatilho” é uma série que vai muito além do simples suspense e da ação. É uma provocação intelectual, um “e se” ousado que mergulha nas profundezas da sociedade coreana e da psique humana. Ao questionar o que aconteceria se um país com forte controle de armas fosse subitamente inundado por elas, a série não só entrega um thriller viciante, mas também uma reflexão sobre as consequências da violência e as motivações que levam indivíduos ao limite.
Com atuações convincentes, uma trama envolvente e um enredo que é, por vezes, inquietante, “Gatilho” se estabelece como um dos thrillers mais fortes e relevantes lançados pela Netflix nos últimos tempos. É uma maratona obrigatória para fãs do gênero e para qualquer um que busque uma ficção que não tenha medo de explorar as sombras da condição humana. Prepare-se para ser colado à tela, pois essa produção não te dará vontade de pausar.
Assista ao trailer de Gatilho (2025)
Elenco da série Gatilho, da Netflix
- Kim Nam-gil
- Kim Young-kwang
- Park Hoon
- Gil Hae-yeon
- Kim Won-hae
- Woo Ji-hyeon
- Lee suk
- Ahn Se-ho
- Yang Seung-lee
- Park Yoon-ho