Leia a crítica do filme Good News, da Netflix (2025) - Flixlândia

‘Good News’: a farsa histórica no ar e nos gabinetes

Foto: Netflix / Divulgação
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Em um mundo onde a verdade é frequentemente maleável, o cinema sul-coreano nos presenteia com “Good News” (dirigido e coescrito por Byun Sung-hyun), uma sátira política frenética e mordaz que transforma um incidente histórico tenso em uma comédia de humor negro sobre a incompetência burocrática e a natureza da verdade.

O filme não apenas se inspira no famoso sequestro do voo da Japan Airlines em 1970, perpetrado pela Facção do Exército Vermelho, mas o utiliza como um trampolim para uma caricatura épica da covardia política e da vaidade humana.

Desde o seu disclaimer inicial — que afirma ser “inspirado em eventos reais” enquanto insiste que seus personagens são fictícios — “Good News” anuncia sua postura sardônica e sua intenção de desconstruir a gravidade da história em prol do entretenimento incisivo. É um filme que, com um estilo visual dinâmico, questiona quem detém o poder de moldar a narrativa, especialmente em tempos de crise internacional.

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Sinopse

A trama se desenrola em 1970, a bordo de um voo da Japan Airlines de Tóquio a Itazuke, que é subitamente sequestrado por uma dupla de membros da Facção do Exército Vermelho: o frio e calculista Denji (Sho Kasumatsu) e a volátil Asuka (Nairu Yamamoto). A exigência é um voo direto para Pyongyang, a capital da Coreia do Norte.

O que se segue não é um thriller de alta tensão convencional, mas um caos hilário. Enquanto os sequestradores demonstram uma surpreendente falta de planejamento (com um mapa da Coreia literalmente arrancado de um atlas), a torre de controle em Seul se enche de diplomatas, oficiais de inteligência sul-coreanos, políticos gananciosos e assessores americanos, todos mais preocupados com a própria imagem e carreira do que com os reféns.

Para tentar frustrar o plano de pousar em Pyongyang, as autoridades sul-coreanas idealizam um ardil inacreditável: mascarar o Aeroporto Internacional de Gimpo, em Seul, para que pareça ser o da Coreia do Norte. No meio dessa confusão de egos e incompetência, surge o enigmático “Ninguém” (Sul Kyung-gu), um negociador e estrategista astuto, mas desleixado, que atua nos bastidores.

Ele precisa lidar com o Tenente Seo Go-myung (Hong Kyung), um jovem e idealista especialista em radar, que está chocado com a apatia e o absurdo da situação. O filme acompanha os esforços caóticos de ambos os lados em uma disputa que não é apenas sobre vidas, mas sobre a verdade, a glória e o controle da narrativa.

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Crítica

“Good News” brilha ao transformar a potencial tragédia do sequestro em uma farsa política que ecoa clássicos como o sul-coreano The President’s Last Bang (2005) e o americano Mera Coincidência (1997). O diretor Byun Sung-hyun foca não tanto no drama do sequestro em si (tanto que a cena inicial evita a tensão habitual ao mostrar um passageiro dormindo com protetores auriculares), mas sim nas reações ineptas e mesquinhas da “média gerência” de diversas nações.

O filme é uma crítica feroz à burocracia e à política internacional. Testemunhamos a cúpula de comando — composta por funcionários de inteligência, diplomatas e militares — em um festival de troca-troca de responsabilidades, onde o interesse pessoal e a evitação de uma crise internacional prevalecem sobre a segurança dos 130 passageiros.

O plano de disfarçar o aeroporto de Seul como Pyongyang é o auge desse absurdo, um ato que, surpreendentemente, possui raízes na realidade, mas é aqui elevado a um nível cômico com a inclusão de um diretor de cinema local contratado para coreografar a ilusão.

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O carisma dos forasteiros: Ninguém e Go-myung

O filme se eleva graças aos seus personagens mais cativantes, que atuam à margem da ineficácia oficial: “Ninguém” e Seo Go-myung. Interpretado pelo superastro Sul Kyung-gu, Ninguém é um fixer misterioso, quase um Lupin III sul-coreano, que trata a situação como uma piada cósmica. Seu charme desleixado e sua estratégia de manipulação contrastam com a seriedade da crise. Ele é a antítese dos burocratas, priorizando a vida humana, mesmo que disfarce isso com uma fachada de cinismo.

Em contraponto, Seo Go-myung (Hong Kyung está surreal no papel) serve como o olho da audiência, o jovem tenente da Força Aérea que se move pela honestidade e pela ambição nobre de seu pai. Seu descontentamento com a covardia política o leva a atos de coragem — como a ideia do “duplo sequestro”, na qual ele se comunica como se fosse Pyongyang, enganando os sequestradores e pousando o avião em Seul.

A química entre os dois é um ponto-chave de humor e calor humano, especialmente nas cenas em que Ninguém compartilha sua filosofia sobre a relatividade da verdade, sugerindo que a sinceridade de uma ação é o que realmente importa, e não o reconhecimento histórico.

Crítica do filme Good News, da Netflix (2025) - Flixlândia
Foto: Netflix / Divulgação

Estilo, sarcasmo e a relatividade da verdade

“Good News” utiliza um estilo visual arrojado e inventivo, com uma cinematografia elevada e uma dinâmica visual que compensa a longa duração. Byun Sung-hyun demonstra uma propensão ao humor seco, misturando a tensão do sequestro com gags visuais e conceituais. Um momento marcante é a cena em estilo western spaghetti, na qual Go-myung disputa a frequência de rádio com seus homólogos norte-coreanos, um duelo imaginário que injeta um toque de fantasia na realidade caótica.

O filme faz um trabalho notável ao explorar seu tema central: a construção da narrativa e a relatividade da verdade. A história real é distorcida para entretenimento, mas o bluff no aeroporto de Gimpo realmente aconteceu. Ao exagerar as personas e os conflitos, o filme sugere que, para os poderosos, moldar a história é sempre mais importante do que salvar os reféns.

O final, onde Go-myung é excluído da narrativa oficial para apaziguar tensões internacionais, reforça a ideia de que o heroísmo real muitas vezes permanece anônimo, enquanto a glória é distribuída a quem melhor se encaixa no discurso político. Como diz Ninguém: “O que você fez, em si, foi valioso.”

Conclusão

“Good News” é uma comédia de humor ácido divertida, inteligente e estilosa, que usa um pedaço da história como matéria-prima para uma crítica social atemporal. É um filme que nunca tenta ser um relato histórico fiel, mas sim uma sátira corrosiva da mesquinhez política, que ecoa a máxima de Karl Marx: “a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.”

O ritmo frenético, o humor irrefreável e as performances carismáticas (com destaque para Hong Kyung e Sul Kyung-gu) mantêm o filme envolvente, apesar de sua duração. Byun Sung-hyun consegue criar um espetáculo que nos faz rir da nossa própria absurdidade, deixando no ar uma reflexão provocativa: no fim das contas, o que é mais importante, a verdade oficial ou a ação de quem realmente se importa? O filme nos convida a pensar sobre a linha tênue entre a verdade, a mentira e o que escolhemos registrar como história.

Veja o trailer de Good News (2025)

YouTube player

Onde assistir ao filme Good News?

O filme “Good News” está disponível para assistir na Netflix.

Quem está no elenco de Good News, da Netflix?

  • Sul Kyung-gu
  • Hong Kyung
  • Ryoo Seung-bum
  • Takayuki Yamada
  • Kippei Shiina
  • Kim Seung-o
  • Show Kasamatsu
  • Nairu Yamamoto
Escrito por
Wilson Spiler

Formado em Design Gráfico, Pós-graduado em Jornalismo e especializado em Jornalismo Cultural, com passagens por grandes redações como TV Globo, Globonews, SRZD e Ultraverso.

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