Quando um cineasta decide adaptar um clássico como Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, o desafio transcende a técnica: é um salto em direção ao risco. Guel Arraes, conhecido por produções icônicas como O Auto da Compadecida, embarca nessa ousadia com o filme “Grande Sertão” (2024).
Ao transportar o sertão tradicional para uma favela distópica urbana, o diretor entrega uma obra que, ao mesmo tempo, homenageia a literatura brasileira e a reinventa para dialogar com um Brasil contemporâneo repleto de contradições e violências.
Sinopse do filme Grande Sertão (2024)
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Crítica de Grande Sertão, do Globoplay
Direção de arte e fotografia
A direção de arte e a fotografia são verdadeiros pontos altos da produção. O cenário distópico ganha vida nas mãos de Gustavo Hadba, que combina ângulos inusitados e iluminação precisa para criar uma ambientação opressiva e ao mesmo tempo poética.
A caracterização dos personagens, especialmente Hermógenes (Eduardo Sterblitch), é um espetáculo à parte, com maquiagem e figurinos que aproximam o vilão de uma figura demoníaca que simboliza a destruição.
Eduardo Sterblitch rouba a cena
As atuações, em grande parte, sustentam o peso do filme. Caio Blat, que revisita Riobaldo após anos interpretando-o no teatro, traz uma profundidade emocional única ao protagonista. Luisa Arraes surpreende como Diadorim, abordando com sensibilidade as nuances de identidade e gênero que tornam a personagem tão marcante.
Mas é Eduardo Sterblitch quem rouba a cena: sua interpretação de Hermógenes é visceral, um vilão que encarna a brutalidade e a loucura de um mundo sem redenção.
Diálogos literários originais
Conclusão
“Grande Sertão” é uma obra audaciosa que reafirma a relevância de Guimarães Rosa e sua capacidade de dialogar com questões contemporâneas. Guel Arraes entrega um filme visualmente impactante, carregado de atuações memoráveis e reflexões pertinentes sobre violência, amor e identidade.
Embora não seja perfeito, o longa consegue honrar o espírito do romance original enquanto traça novos caminhos para a literatura brasileira no cinema. É um convite para revisitar Rosa sob uma nova perspectiva – uma que ecoa nos sertões urbanos de hoje.
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