A nova aposta nacional do Disney+, “Maria e o Cangaço”, não é apenas uma série histórica sobre o Brasil profundo — é uma tentativa de revisitar o cangaço com olhos mais atentos ao protagonismo feminino e ao peso da realidade nordestina.
Com uma abordagem visceral, livre de romantizações, a produção entrega uma narrativa densa e ambiciosa. Ao colocar Maria Bonita no centro da história, a série busca revisar uma das figuras mais mitificadas do imaginário popular, mostrando sua trajetória não como lenda, mas como sobrevivência.
Sinopse da série Maria e o Cangaço (2025)
Ambientada nos anos finais do bando de Lampião, “Maria e o Cangaço” acompanha a vida de Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita, vivida por Isis Valverde. A trama, inspirada no livro “Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço”, de Adriana Negreiros, foca na vivência das mulheres no cangaço, com destaque para os dilemas de Maria ao lado do temido Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião (Julio Andrade).
Dividida em seis episódios, a minissérie percorre conflitos internos do grupo, enfrentamentos com a Volante e nuances emocionais que transbordam o simples “bem contra o mal”.
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Crítica de Maria e o Cangaço, do Disney+
A maior virtude de “Maria e o Cangaço” está em oferecer uma visão centrada e corajosa da mulher dentro de um mundo dominado por homens armados e violentos. Isis Valverde brilha ao encarnar uma Maria forte, apaixonada e cheia de contradições.
Sua atuação é um marco na carreira: desaparece na personagem com olhar firme, postura modificada e um sotaque moldado nos detalhes. Sua Maria não é apenas a companheira de Lampião, mas uma mulher à frente do seu tempo que desafia, resiste e sente.
Ao seu lado, Julio Andrade mostra mais uma vez por que é um dos melhores atores do país. Seu Lampião é ao mesmo tempo magnético e brutal, um líder carismático que impõe respeito, mas não escapa das falhas humanas. Quando os dois estão juntos em cena, o resultado é quase hipnótico — uma aula de interpretação e intensidade.
Realismo cru e estética árida
Diferente de produções que escolhem uma linguagem novelesca ou plastificada, “Maria e o Cangaço” abraça o desconforto. A fotografia de Adrian Teijido é seca, com tons terrosos que traduzem o calor do sertão e a aridez das relações humanas. Os silêncios são densos, as cenas violentas, cruas — e o ritmo, embora mais lento em alguns momentos, contribui para a imersão total.
A série não tenta suavizar o cangaço. Ao contrário: revela as contradições desse mundo e, principalmente, a realidade das mulheres que viviam nele. A ideia de que as cangaceiras eram parceiras por amor cai por terra — muitas foram sequestradas e abusadas. Maria Bonita foi exceção, e a produção deixa isso claro, mesmo quando flerta com certa idealização em momentos mais emotivos.
Liberdade poética ou distorção histórica?
Apesar dos méritos, a série falha ao se afastar demais dos fatos em nome da emoção. A construção de Maria como uma figura quase santificada, dotada de compaixão e ternura constantes, por vezes distorce a brutalidade do contexto. O mesmo vale para os encontros familiares com a filha e a idealização de laços que, historicamente, não existiram.
Além disso, a narrativa não-linear, embora instigante, às vezes se perde ao tentar montar um mosaico de versões da protagonista — mulher, mãe, amante, cangaceira. Em certos episódios, isso enfraquece a coesão e compromete a clareza de uma linha histórica mais sólida. A representação da Volante, por exemplo, peca ao criar fusões entre forças policiais que, segundo registros históricos confiáveis, não existiram da forma retratada.
Produção primorosa e elenco afiado
A direção dividida entre Sérgio Machado, Thalita Rubio e Adrian Teijido é um acerto. O uso do sertão como personagem é uma escolha estética poderosa. A câmera transita com maestria entre planos fechados, que capturam a dor e a tensão dos personagens, e takes abertos que evidenciam a imensidão desoladora do Nordeste.
O elenco de apoio também merece destaque. Rômulo Braga compõe um antagonista ambíguo, que apesar de representar a força do Estado, gera certa empatia do público. Já Chandelly Braz e Jorge Paz enriquecem ainda mais o universo da série com atuações precisas. A trilha sonora também merece menção: minimalista, mas impactante, ecoa o desespero e a inquietação que atravessam a jornada de Maria.
Conclusão
“Maria e o Cangaço” é uma série necessária, intensa e corajosa. Mesmo com algumas liberdades históricas questionáveis e um roteiro que nem sempre consegue costurar bem suas múltiplas camadas, a produção se destaca como um dos maiores acertos recentes do audiovisual brasileiro. Ela devolve à figura de Maria Bonita sua complexidade e força, fugindo do papel decorativo que tantas vezes lhe foi atribuído.
Ao trazer um retrato cru e feminino do cangaço, a série amplia o debate sobre como contamos — e recontamos — nossa história. Não é uma obra confortável. Mas é, sem dúvida, uma obra relevante.
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Onde assistir à série Maria e o Cangaço, com Isis Valverde?
A série está disponível para assistir no Disney+.
Trailer de Maria e o Cangaço (2025)
Elenco de Maria e o Cangaço, do Disney+
- Isis Valverde
- Julio Andrade
- Rômulo Braga
- Mohana Uchôa
- Clebia Sousa
- Thainá Duarte
- Geyson Luiz
- Dan Ferreira
- Jorge Paz
- Chandelly Braz
Ficha técnica da série Maria e o Cangaço
- Criação: Sérgio Machado
- Gênero: drama, faroeste
- País: Brasil
- Temporada: 1
- Episódios: 6
- Classificação: 18 anos