Olá, caro leitor! Hoje vamos conversar sobre uma fase extremamente importante e especial do cinema mundial. Tendo tido como inspiração inicial o film noir norte-americano, a Nouvelle Vague (Nova Onda Francesa) simbolizou uma ruptura profunda com a 7ª arte tradicional, capturando elementos como o suspense e os temas urbanos, mas inserindo-os em um contexto radicalmente novo: câmera na mão, realismo cru e críticas sociais explícitas, indo frontalmente contra a perfeição artística clássica do cinema.
Diretores como Jean-Luc Godard, François Truffaut (admirado por Steven Spielberg, que inclusive lhe ofereceu um papel em Contatos Imediatos do Terceiro Grau), Agnès Varda, Alain Resnais, entre dezenas de outros, iniciaram esse movimento que revolucionou o cinema francês e mundial no início da década de 1960.
Em “Nouvelle Vague” (2025), um “filme sobre um filme”, dirigido por Richard Linklater (Boyhood), totalmente rodado em preto e branco — escolha estética que recria com precisão a atmosfera da época e adiciona um charme absolutamente adequado às cenas — acompanhamos a filmagem de Acossado, primeiro grande sucesso de Godard, com roteiro baseado em uma história de Truffaut. (título original: “À bout de souffle”, expressão francesa que significa “sem fôlego”, “no limite das forças”).
Sinopse
Godard (interpretado com maestria por Guillaume Marbeck) nos é apresentado inicialmente como um crítico de cinema influente, colaborador da icônica revista Cahiers du Cinéma. Frequentador assíduo de pré-estreias, ele já circula entre diretores consagrados da época, como Truffaut, participando ativamente dos debates sobre os rumos da arte cinematográfica.
Entretanto, Godard demonstra clara insatisfação com o cinema tal como era praticado então — a chamada “Tradição de Qualidade”, marcada por rigor técnico, roteiros engessados e estética excessivamente polida. É ao lado de seu amigo e produtor Georges de Beauregard (Bruno Dreyfürst) que ele encontra o apoio necessário para transformar suas ideias em realidade.
Beauregard, carinhosamente apelidado de “Beau Beau”, ao assumir o risco de apostar em Godard, tornou-se uma das figuras centrais na mudança de paradigma que daria origem ao que hoje chamamos de cinema moderno. Juntos, formaram uma dupla icônica. E o desafio era enorme: Godard dispunha de apenas 20 dias para filmar Acossado, seu primeiro longa-metragem — obra que acabaria transformando para sempre os métodos de direção e escrita cinematográfica.
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Resenha crítica do filme Nouvelle Vague
Ao dar início ao processo criativo, Godard passa a discutir suas ideias com amigos próximos, entre eles François Truffaut, enquanto escolhe os protagonistas para as filmagens.
Reafirmando sua admiração pelo cinema americano, ele escolhe Jean Seberg (vivida por Zoey Deutch), já uma estrela de Hollywood, conhecida principalmente por seu papel como Joana d’Arc em Santa Joana. Apesar das dúvidas iniciais — afinal, o roteiro era misterioso, as falas não estavam prontas e o método de trabalho era tudo, menos convencional — Seberg aceita interpretar Patricia, incentivada por seu marido e diretor François Moreuil (Paolo Luka Noé).
Para o papel de Michel Poiccard, parceiro de Patricia, Godard busca Jean-Paul Belmondo (Aubry Dullin), então um jovem ator que transitava entre o boxe e pequenos papéis no teatro e no cinema. Após Acossado, Belmondo seria catapultado à condição de astro internacional.

Escrevendo as cenas pela manhã, no próprio dia das filmagens, frequentemente cancelando o planejamento previsto e concedendo ampla liberdade aos atores para sugerirem alterações, improvisos e nuances de interpretação, Godard começa a testar os limites da paciência de Beauregard.
O tempo era curto, o orçamento apertado e, muitas vezes, a construção do roteiro parecia caótica: locações improváveis, enquadramentos considerados “errados”, métodos nada ortodoxos de posicionamento de câmera, além de constantes conflitos com a continuísta e a equipe técnica. Tudo isso acaba irritando Jean Seberg, que não escondia seu desconforto com a imprevisibilidade do diretor.
Ainda assim, diálogos profundamente reflexivos — recheados de frases sobre a vida, a arte e a criação (como a que inspira o título desta crítica, comumente atribuída a Paul Gauguin, ou até a Leonardo da Vinci) — nos conduzem por uma verdadeira viagem pelo espírito da Nouvelle Vague, culminando em uma belíssima homenagem aos artistas que compuseram esse movimento revolucionário.
Conclusão
“Nouvelle Vague” é mais um daqueles filmes que valem — e muito — a experiência da telona. As tensões durante as filmagens nos transportam para um ambiente quase cotidiano, semelhante a um dia comum de trabalho: piadas, sugestões, ideias, muito vinho, discussões acaloradas e uma criatividade intensa, permeada pela agressividade natural do ser humano, mas sempre sustentada por um profundo respeito entre amigos e colegas.
Ao refletirmos que este foi o ponto de partida para o cinema que conhecemos hoje, repleto de referências estéticas, narrativas e técnicas, fica claro que certos momentos representam pontos de inflexão irreversíveis. Depois deles, não há retorno possível às ideias antigas.
Filmar em ambientes abertos, sem isolar o público, aproveitar a curiosidade espontânea das pessoas — muitas vezes figurantes involuntários — e transformar isso em autenticidade narrativa foram recursos que passaram a ser utilizados com frequência a partir dali. Até mesmo funções tradicionalmente intocáveis, como as da continuísta e da maquiadora, são questionadas por Godard em determinados momentos, quebrando convenções profundamente enraizadas até então.
Só nos resta agradecer a ele e a seus contemporâneos pelo legado deixado — e pela liberdade conquistada por diretores, roteiristas e atores (com suas inevitáveis exceções) para criarem, questionarem e terem suas vozes valorizadas no ambiente cinematográfico. Baldão de pipoca, muito refri. Bom divertimento!
Onde assistir ao filme Nouvelle Vague?
O filme estreou nesta quinta-feira, dia 18 de dezembro, exclusivamente nos cinemas brasileiros.
Trailer de Nouvelle Vague (2025)
Elenco do filme Nouvelle Vague?
- Guillaume Marbeck
- Zoey Deutch
- Aubry Dullin
- Adrien Rouyard
- Antoine Besson
- Jodie Ruth-Forest
- Bruno Dreyfürst
- Benjamin Clery














