Em um panorama cinematográfico cada vez mais pautado por fórmulas e narrativas de fácil digestão, o longa-metragem “Novembro”, dirigido pelo colombiano Tomás Corredor, surge como uma obra de ruptura e urgência.
Coprodução ambiciosa entre Colômbia, Brasil (via a gaúcha Vulcana Cinema), México e Noruega, o filme transforma um dos capítulos mais trágicos e complexos da história recente da Colômbia — a tomada do Palácio da Justiça pelo grupo guerrilheiro M-19, em 6 de novembro de 1985 — em uma experiência sensorial e profundamente claustrofóbica.
Exibido em festivais de prestígio como o TIFF (Festival Internacional de Cinema de Toronto) e a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, “Novembro” não busca apenas narrar o passado, mas sim reimaginá-lo como um estudo visceral sobre o colapso da convicção e a fragilidade humana diante da guerra.
Sinopse
O filme confina o espectador em um único e sufocante ambiente: um banheiro no Palácio da Justiça. Ali, por mais de 27 horas, guerrilheiros, juízes e cidadãos civis permanecem enclausurados enquanto o caos explode do lado de fora, transformando o prédio em um campo de batalha.
O espaço limitado força esses indivíduos com ideais opostos a encarar algo mais violento do que as balas: suas próprias convicções em processo de desmoronamento. A guerrilheira Monita (interpretada por Natalia Reyes) emerge como foco narrativo, representando a exaustão e o grito de desespero por um fim à loucura.
Intercalando a tensão ficcional com impactantes imagens de arquivo da época, “Novembro” transforma o confinamento em um espelho de uma nação à beira do precipício, onde no final, só resta o vazio, a destruição e o silêncio das vidas e ideais esmagados.
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Crítica
Um dos pontos de maior destaque de “Novembro” é sua recusa em buscar a grandiosidade épica, preferindo a intensidade do plano fechado. O filme é filmado quase que integralmente dentro daquele banheiro, em um ambiente único e sob uma proporção de tela próxima ao 4:3.
Essa opção estética não é apenas um estilo, é um instrumento de opressão que reforça a sensação de confinamento e a impossibilidade de fuga, tanto física quanto moral. Diferente de produções de alto orçamento e ritmo frenético, como a série espanhola La Casa de Papel, que ocasionalmente remete ao tema mas se perde no espetáculo, “Novembro” mergulha no ‘sujo, tenso e claustrofóbico’.
A maquiagem é crua, os atores são mais “reais”, e o foco está na textura do medo: o suor, a respiração ofegante e a agonia prolongada, transportando o espectador diretamente para a linha de fogo e para a dor dos personagens. O horror, aqui, é sentido, não apenas assistido.
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Silêncio, ruído e a estética do trauma
A direção de Tomás Corredor é notavelmente autoral, construindo uma mise-en-scène sufocante por meio do design de som. A trilha sonora é quase inexistente, cedendo espaço ao silêncio opressor e aos ruídos do ambiente: tiros distantes, batidas na porta, o som da respiração nervosa.
Essa escolha é fundamental para a imersão, elevando a tensão ao máximo e transformando o barulho em um personagem por si só. A fotografia, dominada por tons frios e metálicos e planos que variam entre o fechado e a profundidade de campo, amplifica o desconforto.
A montagem, muitas vezes fragmentada e construída a partir de choques visuais, reflete o próprio tecido rasgado da realidade e da memória. O filme não teme confrontar o espectador com a brutalidade, evitando qualquer glamour e focando na desumanização provocada pela guerra.

Heróis, vilões e a complexidade humana
“Novembro” rejeita a simplificação moral e a jornada do herói clássica. O próprio Corredor explicou: “Não há heróis ou vilões, apenas pessoas diante de uma realidade que as esmaga.” O filme é um retrato coletivo, interessado na experiência comum do grupo, onde as convicções dos guerrilheiros e dos reféns são colocadas em xeque em face da violência iminente.
A performance de Natalia Reyes como Monita é o coração pulsante do filme, sustentando a tensão e injetando humanidade em uma narrativa que poderia facilmente se perder em discursos ideológicos. O filme se interessa mais pelo colapso moral e emocional diante da guerra do que por explicar seus motivos, ecoando a amarga reflexão sobre o que resta quando o diálogo e a paz já não são possíveis.
Conclusão
“Novembro” é um filme que se recusa a oferecer conforto. Em seus pouco mais de 70 minutos, ele se arrasta de forma intencional, repetindo situações e interações para enfatizar a exaustão e o sofrimento, uma escolha que, embora possa afastar o espectador em busca de um arco narrativo tradicional, é crucial para reforçar a potência da mensagem.
A obra é uma reflexão amarga e dolorosa sobre a memória coletiva e suas lacunas. É um cinema que busca lembrar para refletir, e não para entreter, alertando que o passado, quando não é enfrentado, pode se repetir “em qualquer país, a qualquer momento”.
Cru, duro e profundamente político, “Novembro” é um dos filmes mais vigorosos e necessários do cinema latino-americano recente, uma denúncia feita através do silêncio e da impossibilidade de esquecer. Vale cada minuto da atenção do espectador, sendo um lembrete pungente de que algumas tragédias não podem ser representadas, apenas evocadas.
Onde assistir ao filme Novembro?
O filme “Novembro” foi exibido na Mostra de SP 2025 e estreia nesta quinta-feira, 30 de outubro de 2025, exclusivamente nos cinemas brasileiros.
Veja o trailer de Novembro (2025)
Quem está no elenco do filme Novembro?
- Natalia Reyes
- Santiago Alarcon
- Juan Prada
- Max Durán
- Natalia Reyes
- Santiago Alarcon
- Juan Morales
- Jagdy López
- Pancho Rueda
- Adrián Carreón
- Anderson Otálvaro
- Susana Morales
- Diana Belmonte
- Juanita Cetina
















