Em meio à constante busca do público por narrativas que explorem as complexas dinâmicas familiares, chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira (23), com distribuição da Diamond Films, o longa-metragem Pai do Ano (Goodrich). Dirigido por Hallie Meyers-Shyer, filha da aclamada cineasta Nancy Meyers, a obra carrega a ambição de se inserir na linhagem de clássicos do gênero, como o intocável Kramer vs. Kramer e Laços de Ternura.
Com Michael Keaton e Mila Kunis à frente do elenco, o filme se propõe a ser uma comédia dramática que equilibra o riso das trapalhadas cotidianas com a emoção das feridas não cicatrizadas. A proposta é clara: revisitar o trope da paternidade tardia e da segunda chance, mas o resultado é uma obra que, embora carismática e agradável, opta por um tom excessivamente brando que a impede de atingir o potencial dramático de sua premissa.
Sinopse
O filme acompanha Andy Goodrich (Keaton), um abastado curador de arte de Los Angeles que sempre viu a paternidade como uma virtude que lhe era alheia. Sua confortável e desinteressada rotina é brutalmente interrompida quando sua esposa, Naomie (Laura Benanti), é internada em uma clínica de reabilitação devido ao vício em remédios.
De repente, Andy se vê forçado a assumir, sozinho, o cuidado do casal de filhos gêmeos de nove anos. Em desespero e sem a menor noção de como lidar com a nova realidade, ele recorre à ajuda de sua filha mais velha, Grace (Kunis), fruto de um primeiro casamento.
A chegada de Grace, grávida e carregando um profundo ressentimento pela ausência paterna em sua infância, transforma a situação em um catalisador de mágoas antigas. A convivência forçada entre pai e filha torna-se, então, o verdadeiro cerne da trama: uma inesperada oportunidade de reconstruir um relacionamento que nunca floresceu e, quem sabe, curar os traumas do passado.
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Crítica
Michael Keaton, um ator que viveu um ressurgimento notável na última década com trabalhos como Birdman e Spotlight, entrega em Andy Goodrich uma performance carismática e afável. O ator utiliza sua conhecida destreza cômica para dar vida a um sujeito falho, mas fácil de gostar. No entanto, e talvez este seja o primeiro sintoma da timidez do filme, o personagem de Andy Goodrich carece de nuances mais profundas.
Sua jornada de redenção segue a cartilha do gênero, lembrando a trajetória de figuras paternas desajeitadas, como o personagem de Robin Williams em Uma Babá Quase Perfeita. Keaton se mantém em “piloto automático”, entregando um desempenho competente, porém desprovido de grandes picos emocionais que marcaram seus papéis mais recentes.
O arco de Andy é conveniente demais; ele aprende a ser pai sem grandes sacrifícios ou consequências reais, e até sua crise financeira (a galeria de arte prestes a fechar) soa mais como ruído de fundo do que uma ameaça existencial.
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Subaproveitamento do conflito pai e filha
O verdadeiro motor emocional de Pai do Ano reside na tensa relação entre Andy e Grace, interpretada com sensibilidade por Mila Kunis. A atriz traduz bem a mágoa e o ressentimento de uma filha que se sente esquecida. O filme, no entanto, falha em dar a esse conflito o peso que ele merece.
Há momentos de potência dramática, como a cena em que Grace, grávida, confronta o pai com a declaração: “Eu sou a única que te ama tanto quanto você se ama”. É uma ferida aberta. Contudo, em vez de explorar e aprofundar essa tensão, o roteiro de Meyers-Shyer (que, ironicamente, se inspirou em obras com forte carga dramática familiar) a utiliza como um “aditivo dramático” passageiro.
O arco de Grace, apesar de essencial, parece subaproveitado, refletindo a desatenção que o próprio Andy lhe dedicou por anos. A reabilitação da esposa, Naomie, também se torna uma nota de rodapé, um obstáculo temporário em vez de uma verdadeira implicação para a dinâmica familiar.

Recusa ao conflito genuíno
Pai do Ano adota um tom geral brando, uma característica que ecoa o trabalho anterior da diretora, De Volta Para Casa. O filme se apoia nos clichês do gênero, oferecendo um humor leve, diálogos ágeis e interações familiares cativantes, mas evita a todo custo as arestas e os conflitos espinhosos que dariam legitimidade à transformação de Andy. Momentos potencialmente tensos, como a subtrama da homossexualidade e a falência da galeria, são tratados com uma leveza que os esvazia de impacto.
A fotografia, levemente sombria, até tenta criar um contraste visual, mas o enredo não permite que a narrativa saia do campo do “confortável”. A obra não reinventa o gênero, mas o reproduz com esmero técnico e carisma de elenco, resultando em um passatempo agradável, mas profundamente esquecível. A jornada de Andy é mais conveniente do que transformadora.
Conclusão
Pai do Ano é um filme que acerta ao escalar Michael Keaton e Mila Kunis para contar uma história sobre segundas oportunidades e famílias imperfeitas. A obra é bem-intencionada, divertida em seus absurdos cotidianos e pontuada por momentos de genuína ternura, como a simples, porém simbólica, cena em que Andy, tardiamente, aprende o valor da presença e da escuta.
No entanto, sua principal fraqueza reside na recusa em mergulhar no potencial dramático de sua premissa. Ao optar por um tom açucarado e evitar as consequências reais dos traumas e dos vícios, o filme se afasta dos grandes clássicos que o inspiraram.
Pai do Ano é, em última análise, uma comédia dramática leve e acolhedora sobre o perdão e a reconstrução familiar, que cumpre o papel de ser um feel-good movie seguro, mas que deixa no espectador a sensação de que faltou “apimentar” a história para que a jornada de redenção de Andy Goodrich fosse realmente apoteótica e inesquecível.
Veja o trailer de Pai do Ano, com Michael Keaton e Mila Kunis
Onde assistir ao filme Pai do Ano?
O filme “Pai do Ano” estreia nesta quinta-feira, 23 de outubro, exclusivamente nos cinemas brasileiros.
Quem está no elenco de Pai do Ano (2025)?
- Michael Keaton
- Mila Kunis
- Danny Deferrari
- Poorna Jagannathan
- Kimberly Condict
- Vivien Lyra Blair
- Jacob Kopera
- Noa Fisher
















