‘Pantheon 2’: uma ficção científica ambiciosa que desafia a própria existência
Wilson Spiler21/02/20254 Mins de Leitura12 Visualizações
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Em sua temporada 2, “Pantheon” se mostra como é uma daquelas séries que desafiam o gênero da animação adulta e tentam ir além da simples narrativa sci-fi. Baseada em contos de Ken Liu, a trama aborda questões profundas sobre inteligência artificial, transhumanismo e a própria essência da existência humana.
Infelizmente, sua história de bastidores é tão turbulenta quanto sua trama, com cancelamentos, remoção de serviços de streaming e uma distribuição fragmentada que dificultou sua disseminação entre o público global.
A primeira temporada de “Pantheon” apresentou dois adolescentes, Maddie (Katie Chang) e Caspian (Paul Dano), cujas vidas foram irrevogavelmente alteradas por uma nova tecnologia conhecida como Inteligência Transferida (UI). Essa tecnologia revolucionária permitia o upload da consciência humana para servidores digitais, abrindo um novo capítulo na história da humanidade, mas com um custo inesperado e devastador.
No centro da trama, Maddie começa a receber mensagens de um número desconhecido que alega ser seu falecido pai. Ao tentar descobrir a verdade, ela se depara com uma conspiração global envolvendo governos, corporações de tecnologia e a própria singularidade.
Na temporada 2 “Pantheon”, Caspian assume o controle da Logorythms e busca uma solução para impedir a deterioração do código das UIs. Enquanto isso, Maddie luta para encontrar o paradeiro do pai e acaba testemunhando uma batalha entre inteligências artificiais e forças governamentais que pretendem erradicar essa tecnologia. A narrativa se torna mais complexa, envolvendo uma entidade digital conhecida como MIST e uma guerra entre humanos e inteligências carregadas para a nuvem.
A grande força de “Pantheon” está na sua abordagem ambiciosa da ficção científica. Diferente de muitas séries que tocam superficialmente em conceitos como inteligência artificial e transhumanismo, a produção mergulha fundo nessas questões, apresentando debates filosóficos e dilemas éticos complexos.
A série questiona: o que significa ser humano? Somos definidos por nossos corpos ou por nossas memórias? A imortalidade digital é uma benção ou uma maldição? A narrativa mistura existencialismo com política, conspiracionismo e a crescente influência de corporações de tecnologia na sociedade.
A trajetória conturbada da série impactou sua execução
Um dos maiores problemas da segunda temporada de “Pantheon” foi a sua execução apressada. O cancelamento inicial e a dificuldade de distribuição afetaram o ritmo da série. Enquanto a primeira metade da temporada se desenrola de maneira satisfatória, a reta final se torna apressada, com vários arcos narrativos sendo encerrados de maneira abrupta.
A introdução do Safe Surf como uma ferramenta governamental para destruir UIs, a luta final entre Caspian e Holstrom, e os saltos temporais excessivos prejudicam a coesão da história.
Animação e direção: um retrocesso visível
Embora “Pantheon” tenha sido elogiada por sua animação na primeira temporada, a qualidade decai na segunda. Fica evidente que houve uma redução de orçamento, com várias cenas apresentando detalhes reduzidos e animações mais rígidas.
Isso é especialmente frustrante em momentos de maior impacto visual, como as batalhas entre UIs e os confrontos climáticos. A arte e o design conceitual continuam impressionantes, mas a execução deixa a desejar em comparação com a primeira temporada.
Elenco de voz de alto nível
Se existe um ponto incontestavelmente positivo na série, é o seu elenco de voz. Com nomes como Paul Dano, Daniel Dae Kim, Aaron Eckhart e a participacão póstuma de William Hurt, “Pantheon” consegue entregar performances emocionantes e convincentes.
A complexidade emocional dos personagens é bem trabalhada pelos dubladores, garantindo que mesmo em meio às reviravoltas confusas da trama, o público consiga se conectar com seus dilemas e emoções.
Uma conclusão divisiva
O final de “Pantheon” é polêmico. A transformação de Maddie em uma entidade quase divina, capaz de simular realidades inteiras, representa um salto narrativo que divide opiniões. Se por um lado isso abre espaço para interpretações filosóficas e metafísicas, por outro afasta a série de sua base científica inicial.
O retorno de Maddie e Caspian ao ponto onde tudo começou pode ser visto como um ciclo narrativo interessante, mas também como um desfecho frustrante para quem esperava algo mais conclusivo.
“Pantheon” é uma série que merece reconhecimento pela sua ousadia e originalidade. Poucas produções animadas ocidentais tentam explorar a ficção científica com tamanha profundidade, misturando conceitos complexos com uma narrativa carregada de emoção e suspense. No entanto, sua execução sofreu com problemas estruturais, especialmente na segunda temporada, prejudicada por cancelamentos e uma distribuição errática.
Apesar das falhas, “Pantheon” ainda é uma experiência que vale a pena para fãs de sci-fi, especialmente aqueles interessados em questões filosóficas sobre tecnologia e humanidade. Se a série tivesse tido mais tempo para desenvolver seu desfecho de forma mais coesa, poderia ter se tornado um clássico do gênero. Como está, é uma obra instigante, mas com um gostinho agridoce de potencial desperdiçado.
Formado em Design Gráfico, Pós-graduado em Jornalismo e especializado em Jornalismo Cultural, com passagens por grandes redações como TV Globo, Globonews, SRZD e Ultraverso.