O filme “Pearl” (2023), dirigido por Ti West, é um prelúdio de “X: A Marca da Morte”, que explora as origens da personagem Pearl, interpretada por Mia Goth.
O longa faz um mergulho fascinante na mente de uma jovem que almeja algo grandioso enquanto enfrenta os limites de uma realidade opressora, misturando horror psicológico, drama e até um toque de humor ácido, criando uma obra que transborda estilo e profundidade.
Ambientado em 1918, durante a Primeira Guerra Mundial e a pandemia de gripe espanhola, “Pearl” acompanha a jovem homônima que sonha em se tornar uma estrela de cinema. Vivendo em uma fazenda isolada com sua mãe autoritária e seu pai debilitado, Pearl enfrenta repressões familiares e sociais que a levam a uma espiral de violência e loucura, revelando os eventos que a transformaram na figura perturbadora vista em “X”.
“Pearl” é uma obra singular dentro do gênero de terror. Ti West opta por uma abordagem ousada, utilizando uma estética visual que remete aos grandes musicais e melodramas de Hollywood dos anos 1930 e 1940. Essa escolha cria um contraste fascinante entre a beleza plástica das imagens e o conteúdo sombrio da narrativa.
Os tons vibrantes, os enquadramentos precisos e a trilha sonora grandiosa criam uma atmosfera que é, ao mesmo tempo, nostálgica e perturbadora. Essa dualidade é o coração do filme, refletindo a dualidade da própria protagonista.
Mia Goth brilhante
Mia Goth entrega uma atuação que transcende o gênero. Seu retrato de Pearl é multifacetado: ela é vulnerável, sonhadora, mas também inquietantemente violenta. Há momentos de genuína empatia pela personagem, especialmente nas cenas em que ela verbaliza sua frustração com o mundo ao seu redor.
O monólogo de Pearl, próximo ao final do filme, é um tour de force que revela a extensão de sua dor e desejo desesperado de ser amada e reconhecida. É uma performance que dificilmente será esquecida.
Roteiro impactante
O roteiro, coescrito por Goth e West, é uma análise brutal da ambição e da repressão. Pearl é uma personagem que quer ser mais do que as circunstâncias de sua vida permitem. Esse desejo, combinado com a rigidez de sua mãe e o isolamento físico e emocional da fazenda, cria uma tempestade perfeita para sua descida à loucura.
O filme também oferece comentários sutis sobre o papel das mulheres na sociedade da época e como seus sonhos muitas vezes eram esmagados por expectativas opressoras.
Violência gráfica
No entanto, “Pearl” não é apenas um estudo de personagem, mas também um filme de terror visceral. A violência é gráfica e impactante, mas nunca gratuita. Cada ato de brutalidade é um reflexo direto da deterioração mental de Pearl e de sua incapacidade de reconciliar seus sonhos com sua realidade.
A direção de West brilha especialmente nas cenas de maior tensão, onde o suspense é construído de forma lenta e deliberada, culminando em momentos de puro choque.
“Pearl” é mais do que um simples prelúdio de “X”: é um filme que se sustenta como uma obra independente, oferecendo uma visão complexa e perturbadora de sua protagonista. Ti West e Mia Goth criaram algo raro no cinema de terror: uma história que combina profundidade emocional com um estilo visual arrebatador, trazendo uma personagem trágica e aterrorizante, uma figura que desperta tanto empatia quanto repulsa.
Por fim, o filme é um estudo brilhante de como sonhos não realizados podem se transformar em pesadelos e de como a busca por algo maior pode levar à destruição.
Navegando nas águas do marketing digital, na gestão de mídias pagas e de conteúdo. Já escrevi críticas de filmes, séries, shows, peças de teatro para o sites Blah Cultural e Ultraverso. Agora, estou aqui em um novo projeto no site Flixlândia.