
Foto: O2 Play / Divulgação
Tim Mielants apresenta o filme “Pequenas Coisas como Estas” (Small Things Like These), uma adaptação do livro homônimo de Claire Keegan, que se propõe a explorar um dos episódios mais sombrios da história da Irlanda: as Lavanderias de Madalena.
No centro da narrativa está Bill Furlong (Cillian Murphy), um homem comum que se vê diante de uma verdade desconfortável sobre a instituição religiosa que domina sua comunidade. Apesar da força do tema e da atuação magnética de Murphy, o filme opta por uma abordagem contida, sem aprofundar as complexidades do sistema de abusos que retrata.
Sinopse do filme Pequenas Coisas como Estas
A trama se passa na cidade de New Ross, em meados da década de 1980, onde Bill Furlong leva uma vida modesta como vendedor de carvão. Pai de cinco filhas e marido dedicado, ele tenta garantir o sustento da família enquanto lida com a dureza do inverno irlandês.
Durante uma entrega no convento local, Bill encontra uma jovem prisioneira (Zara Devlin), maltratada e desesperada. Esse encontro desperta nele memórias de sua própria infância, repleta de incertezas e marcada pela benevolência de uma mulher rica que o acolheu após sua mãe solteira ser rejeitada pela sociedade.
A descoberta impõe a Bill um dilema: ele deve confrontar um sistema opressor profundamente enraizado na comunidade ou proteger sua família do ostracismo inevitável que enfrentará caso decida agir?
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Crítica de Pequenas Coisas como Estas (2025)
Desde os primeiros minutos, “Pequenas Coisas Como Estas” constrói uma atmosfera melancólica e densa. A fotografia de Frank Van den Eeden aposta em tons frios e acinzentados para traduzir a monotonia opressora da cidade, onde tudo parece congelado no tempo. O cenário reflete o estado emocional do protagonista, que vive uma rotina mecânica, sufocada por um silêncio cúmplice.
Cillian Murphy entrega uma atuação silenciosa, mas carregada de peso emocional. Seu Bill é um homem comum, de poucas palavras, mas de olhar penetrante. A metáfora da “sujeira” está por toda parte: suas mãos cobertas de carvão são um lembrete constante da impureza que ele tenta limpar, sem sucesso, cada vez que chega em casa. O simbolismo é forte, mas o filme escolhe tratá-lo com sutileza, evitando qualquer dramatização excessiva.
A tensão cresce à medida que Bill percebe que a jovem aprisionada no convento não é um caso isolado, mas parte de um sistema abusivo há muito sustentado pela Igreja Católica e aceito pela comunidade. Ainda assim, o roteiro de Enda Walsh mantém a trama em um tom intimista, priorizando a jornada interna do protagonista e deixando o horror do sistema religioso apenas como pano de fundo.
A ausência das vítimas e o olhar masculino sobre a tragédia
A decisão de contar a história sob a perspectiva de Bill, um homem que está apenas tomando consciência do que acontece, levanta questões sobre a abordagem do filme. Ao escolher um protagonista masculino e emocionalmente distante da tragédia, “Pequenas Coisas Como Estas” minimiza o impacto da experiência das vítimas. A jovem aprisionada no convento, por exemplo, tem pouquíssimo tempo de tela e sua história nunca é totalmente explorada.
Emily Watson, como a implacável Irmã Mary, entrega uma atuação contida, mas ameaçadora. Em sua única cena longa ao lado de Murphy, ela estabelece a lógica do sistema de poder que mantém essas instituições funcionando. A conversa entre os dois é um dos pontos altos do filme, mas evidencia um problema: a estrutura narrativa sempre retorna ao dilema moral de Bill, enquanto as vítimas permanecem vozes distantes.
Essa escolha levanta um questionamento importante: testemunhar a injustiça é tão doloroso quanto ser a vítima dela? O filme, ao focar exclusivamente na crise de consciência do protagonista, cria um distanciamento desconfortável entre o público e as verdadeiras vítimas dessa história.
A denúncia que se dilui na delicadeza
Há um contraste evidente entre o impacto real das Lavanderias de Madalena e o que o filme efetivamente mostra. Ao longo de sua curta duração (98 minutos), “Pequenas Coisas Como Estas” evita o choque, preferindo sugerir em vez de expor. Essa escolha estética pode ser vista como respeitosa, mas também como um freio para uma denúncia mais contundente.
O letreiro final, que apresenta os números assombrosos das vítimas dessas instituições, chega como um soco tardio, um lembrete de que havia muito mais a ser dito. Mas ao escolher a introspecção e a delicadeza como guias, o filme acaba entregando um drama que emociona, mas não incomoda tanto quanto poderia – ou deveria.
Conclusão
“Pequenas Coisas Como Estas” se destaca pela atuação impecável de Cillian Murphy e pela construção atmosférica impecável de Tim Mielants. No entanto, sua abordagem contida impede que a história alcance toda a sua potência. O filme é bem-sucedido em capturar o dilema moral do protagonista, mas ao deixar as vítimas das Lavanderias de Madalena em segundo plano, acaba suavizando a denúncia de uma tragédia histórica real.
É um filme belo e reflexivo, mas que, ao optar pela sutileza, perde a oportunidade de ser tão contundente quanto sua história exige.
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Onde assistir ao filme Pequenas Coisas como Estas?
O filme estreia no dia 13 de março de 2025 nos cinemas brasileiros.
Trailer de Pequenas Coisas como Estas (2025)
Elenco do filme Pequenas Coisas como Estas
- Cillian Murphy
- Eileen Walsh
- Emily Watson
- Clare Dunne
- Patrick Ryan
- Peter Claffey
- Ian O’Reilly
- Helen Behan
- Zara Devlin
- Sarah Morris
Ficha técnica de Pequenas Coisas como Estas (2025)
- Título original: Small things like these
- Direção: Tim Mielants
- Roteiro: Enda Walsh, Claire Keegan
- Gênero: drama
- País: Irlanda, Bélgica, Estados Unidos
- Duração: 98 minutos
- Classificação: 12 anos