Pluribus, a nova aposta de Vince Gilligan na Apple TV, nos joga em um apocalipse estranhamente pacífico, onde uma mente coletiva e onisciente, o “coletivo”, domina a Terra com sorrisos e eficiência aterrorizante. O terceiro episódio, “Granada”, surge após uma estreia intensa, desacelerando o ritmo, mas mergulhando fundo na psique da nossa protagonista, Carol Sturka (Rhea Seehorn), a misantropa de coração gelado que é uma das poucas “Outras” a resistir à “cola psíquica”.
É um respiro necessário que, apesar de mais lento, usa o humor sombrio e o absurdo para nos fazer questionar: quem realmente detém o poder em um mundo onde a sua infelicidade é a única anomalia a ser corrigida?
Sinopse
De volta ao presente, Carol, ainda isolada em sua teimosia, tenta firmar uma aliança com os poucos humanos “não-Joined” restantes. A busca falha com os falantes de inglês e a leva a um explosivo (literalmente) bate-papo em espanhol com Manousos Oviedo, um administrador de guarda-volumes paraguaio tão rabugento quanto ela.
Resenha crítica do episódio 3 de Pluribus
Uma distopia do absurdo e da eficiência 💡
“Granada” explora o cerne da premissa de Pluribus de uma forma que é ao mesmo tempo hilária e profundamente assustadora. O Coletivo é o inimigo que não podemos odiar totalmente. A ideia de que um coletivo onisciente e onipotente é tão competente que é capaz de realizar proezas logísticas instantâneas (como reabastecer um supermercado inteiro em minutos) e, ao mesmo tempo, tão desprovido de nuance humana que não consegue distinguir sarcasmo de um pedido real de arma de guerra, cria um contraste delicioso.
O episódio nos mostra que, para o Joined (em inglês), a vida de Carol é uma falha de sistema a ser corrigida. Ela é vista como alguém se afogando que precisa de um “salva-vidas” (a assimilação), mesmo que a pessoa se afogando esteja gritando que não quer ser salva.
Essa lógica inabalável, quase robótica — como quando Zosia despeja o etimologia do vodka como um chatbot — reforça a teoria que a série flerta com uma crítica à Inteligência Artificial ou ao mente coletiva político/social que anula a individualidade. O custo dessa eficiência é a total perda da privacidade, da espontaneidade e, ironicamente, da humanidade.

O poder da infelicidade e o antagonismo de Carol 😠
Rhea Seehorn continua brilhando ao encarnar Carol, uma anti-heroína que só sabe ser estando em conflito. O flashback no hotel de gelo, um clássico cold open de Gilligan, é crucial. Ele nos mostra que Carol não foi corrompida pelo apocalipse; ela já era assim. Sua misantropia, sua dificuldade em desfrutar do momento, seu apego à dor (“você adora se sentir mal”) — tudo isso é seu estado natural.
Sua luta para manter as memórias de Helen exclusivamente para si (“Só eu posso me lembrar dela“) é o grito mais doloroso de resistência contra o coletivo. Para Carol, o Coletivo não roubou apenas a esposa, mas a singularidade do seu luto e do seu amor.
E é precisamente essa infelicidade intransigente que lhe confere um poder bizarro sobre o Joined. Ao testá-los com a granada e, subsequentemente, com a bomba atômica, Carol descobre o limite—ou a falta dele—da sua influência. O Coletivo fará o impossível para agradá-la, transformando-a, involuntariamente, na pessoa mais poderosa e, talvez, mais infantilmente mimada da Terra.
Tensão de conceito e ritmo do enredo 🐌
Embora “Granada” seja um excelente estudo de personagem, ele não está isento de tropeços. O texto original aponta que o ritmo é glacial, e a necessidade de explicar o funcionamento do Joined por meio de diálogos às vezes enfraquece a tensão.
O dilema da bomba atômica, em particular, levanta questões que parecem forçar a suspensão de descrença. Se o Coletivo é tão focado na conservação e na paz, por que não se livraram imediatamente de todas as armas de destruição em massa? A resposta do coletivo, “moveríamos céus e terra para fazer você feliz”, embora dramática, é uma conveniência de roteiro para sublinhar o poder de Carol, em vez de uma lógica consistente dentro do mundo estabelecido.


















