Em tempos confusos politicamente, obras dúbias podem ser interpretadas como bem entenderem por vertentes políticas rivais. Em “Sonhos”, novo filme de Michel Franco estrelado por Jessica Chastain e Isaac Hernández, o desenrolar da trama de um casal interracial e de camadas sociais distantes tem momentos que podem ser usados em qualquer discurso em tempos de pós-verdade. Nenhum problema artístico nisso: o objetivo de muitos artistas é fornecer material para debate e não verdades insofismáveis.
Sinopse
Na trama, Chastain interpreta Jennifer, uma socialite americana que faz trabalhos filantrópicos e mantém um relacionamento secreto com Fernando (Hernández), um bailarino mexicano. A relação entre os dois, marcada por desejo, dependência e desequilíbrio, torna-se o ponto de partida para uma reflexão profunda sobre poder e controle.
O filme acompanha a transformação dessa dinâmica à medida que Jennifer, acostumada a ocupar o papel de benfeitora e figura de autoridade, se vê confrontada por uma inversão de papéis que abala seu senso de identidade e privilégio.
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Crítica
No longa, desde o primeiro encontro dos dois apaixonados é óbvia a natureza trágica da história: não tem como a relação dar certo. Fernando atravessa a fronteira de forma ilegal para encontrar Jessica, uma rica herdeira que apoiava a companhia de dança onde ele atuava.
Enquanto ele busca ser aceito e reconhecido por seu talento e identidade no mundo de Jessica, ela esconde ele e o relacionamento de família e conhecidos, ciente dos problemas que assumir um relacionamento com um jovem com a metade da sua idade de uma posição social inferior acarretaria.
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Questionamentos a lá Parasita
Aqui é interessante notar até questionamentos que vem de uma longa linhagem de filmes com ”crítica social”, tema esse mais recentemente abordado com destaque no oscarizado “Parasita”. A relação do casal é muito semelhante com a das famílias do longa sul-coreano: um tem o que falta no outro, paixão, dinheiro, talento e coragem. Porém, como na sociedade atual a balança pende para o poder do dinheiro, é fácil prever que se dará mal no final.
Chastain faz uma dondoca contida, que só explode em desejo quando na companhia do amante. Fora isso, é fria, mantendo as aparências de socialite com muito tempo livre. A parte que falta nela é a coragem do personagem de Hernández: talentoso e corajoso sem pensar muito nas consequências das suas ações, ações estas que os ricos podem sair impunemente por motivos óbvios.

Conclusão
“Sonhos” é um filme de certa forma perturbador, não apenas pela relacionamento fadado ao fracasso, mas também por como os personagens agem. Raiva, ressentimento e condescendência se misturam nas motivações e relações de todas as classes sociais.
Como uma boa obra, Michel Franco constrói um cotidiano tenso, parecendo que irá desabar por um pequeno erro de qualquer lado. E por isso traz a famosa discussão que todo artista busca na obra: será que isso não ocorre no dia a dia do espectador, misturando sonhos com possibilidade?
Onde assistir ao filme Sonhos?
“Sonhos” estreia nos cinemas brasileiros em 30 de outubro, com distribuição nacional da Imagem Filmes.
Veja o trailer de Sonhos (2025)
Quem está no elenco do filme Sonhos?
- Jessica Chastain
- Isaac Hernández
- Eduardo Gonzalez
- Hugo Costa Ramos
- Julio Bernal
- René Martínez
- Nadia Chiney














