Crítica do filme 'Destemida', da Netflix (2023)

Há algum tempo, a Netflix lançou “Paixão Sufocante”, bom longa-metragem que contava a trágica história da mergulhadora francesa Audrey Mestre. Ao começar a assistir Destemida (True Spirit), novo filme lançado na plataforma, parecia que estava diante de um déjà vu. Mas não demorou muito e logo percebi que estávamos diante de obras completamente distintas.

Não só pela trama, que, desta vez, foca em uma velejadora australiana, mas pelo tom que a direção de Sarah Spillane dá à produção. O roteiro, assinado por ela ao lado de Rebecca Banner e Cathy Randall, também dá sua contribuição para um ar mais leve, embora tenha seus momentos de dramaticidade. Essa aura menos pesada também se deve, claro, aos desfechos diferentes das duas protagonistas, que, como se trata de uma história real, não pode ser considerado um spoiler.

A história real do filme Destemida

Na trama, a jovem velejadora Jessica Watson (Teagan Croft) se propõe a ser a pessoa mais jovem a navegar sozinha, sem escalas e sem assistência ao redor do mundo. Muitos esperam que ela falhe, inclusive a mídia local. Mas, com o apoio de seu treinador de vela e mentor Ben Bryant (Cliff Curtis), assim como toda a sua família, a adolescente está determinada a realizar o que se pensava ser impossível, navegando em alguns dos trechos mais desafiadores do oceano ao longo de 210 dias.

Destemida é baseado na história real de Jessica Watson, narrada do livro homônimo da própria velejadora, lançado no Brasil pela editora Belas-Letras. A jovem deixou o porto de Sydney em 18 de outubro de 2009 e voltou para casa apenas em 15 de maio de 2010. O filme retrata bem a aventura, inclusive com cenas reais da protagonista nos créditos finais. A adolescente se inspirou para atravessar o oceano após ler “Lionheart: A Journey of the Human Spirit”, que conta a história de Jesse Martin, que realizou a façanha aos 17 anos.

Mesmo procurando ser bastante fiel à história original, até por se tratar de uma adaptação, alguns detalhes foram alterados ou ficaram de fora. Talvez o principal deles seja Ben Bryant, que, no filme, foi o único velejador profissional aconselhando e treinando Jessica. Na vida real, no entanto, a jovem tinha um grupo de pessoas disponíveis para ajudá-la durante todo o processo.

Fora do livro dos recordes

Apesar de se tornar a velejadora mais jovem do mundo a completar o percurso, Jessica Watson não entrou Guinness Book, o livro dos recordes, porque houve discrepâncias técnicas na distância total percorrida por ela.

Trilha sonora e fotografia

Como filme, Destemida entrega um bom drama com aventura, mas com toda a aura de uma “Sessão da Tarde”, exagerando, por vezes, em músicas pop como “Brighter Than The Sun” (Colbie Caillat); “Walking On A Dream” (Empire Of The Sun); e “Geronimo” (Sheppard), um artifício muito usado para buscar emocionar e aproximar o público jovem da atração.

Mas a melhor canção “Starman”, do gênio David Bowie, usada como uma espécie de guia para a velejadora, infelizmente, vem performada por Sarah Blasko e Nick Wales, em uma versão pouco digna da original. Apesar disso, a cena com a música é uma das mais bonitas vistas nos últimos tempos no campo do audiovisual. A jovem no barco à noite, contrastando com os tons rosa e roxo da iluminação, bem como a chuva, produzem uma das partes mais marcantes da obra.

A fotografia, aliás, merece uma salva de palmas. Apesar de ter o trabalho ‘facilitado’ pelas imagens belíssimas do oceano, a diretora consegue aproveitar ao máximo o que elas poderiam oferecer. Méritos para a cineasta. O filme tem também bons momentos em alto mar, com ótimas cenas, principalmente quando o barco vira e depois emerge de volta à superfície.

Mas, fora isso, Destemida repete alguns clichês desnecessários de obras do gênero, buscando emocionar o espectador de forma gratuita e não genuína. Entretanto, na média geral, cumpre seu propósito e tende a fazer um grande sucesso na plataforma da Netflix, mesmo que, para isso, utilize uma fórmula repetida.

Trailer do filme Destemida (2023), da Netflix

Destemida (2023): elenco do filme da Netflix

Teagan Croft

Cliff Curtis

Anna Paquin

Ficha Técnica: filme Destemida (2023), da Netflix

Título original do filme: True Spirit

Direção: Sarah Spillane

Roteiro: Sarah Spillane, Rebecca Banner, Cathy Randall

Duração: 109 minutos

País: Estados Unidos, Autrália

Gênero: aventura, drama, biografia

Ano: 2023

Classificação: 10 anos

Sobre o autor

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