A franquia Alien sempre prosperou no minimalismo e no terror inefável do desconhecido. A aposta de uma série de TV, um formato que exige tempo e proximidade, parecia arriscada. Como esticar a essência de um monstro que se esconde nas sombras por oito horas?
“Alien: Earth”, criada por Noah Hawley, não apenas aceita esse desafio, como o transforma em sua maior virtude, subvertendo expectativas e expandindo o universo de formas ousadas. O resultado é um espetáculo grandioso, intelectualmente estimulante e, paradoxalmente, com uma sensação de vazio peculiar. É uma série que presta homenagem ao passado ao mesmo tempo em que se liberta dele.
Sinopse
Ambientada pouco antes do clássico de 1979 de Ridley Scott, “Alien: Earth” começa com a tripulação da USCSS Maginot, uma nave da Weyland-Yutani, despertando do crio-sono. A missão, aparentemente rotineira, de coletar espécimes alienígenas se complica quando a nave, com seus mortíferos passageiros a bordo, cai na Terra.
O planeta, neste século 22, é dominado por megacorporações, e a área do acidente pertence à Prodigy, uma empresa rival que está desenvolvendo “híbridos”: crianças com doenças terminais que têm suas mentes transferidas para corpos sintéticos super-humanos.
A queda da Maginot libera as criaturas, e o confronto se inicia. A série segue Wendy, a primeira dessas híbridas, e seu irmão humano, Hermit, um médico da Prodigy. Eles se veem no meio de uma disputa intercorporativa pelo controle dos espécimes, lutando para sobreviver em um mundo onde a humanidade está sendo desafiada por suas próprias criações tecnológicas e pelas ameaças extraterrestres que caíram do céu.
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Crítica
Em seus dois primeiros episódios, “Alien: Earth” se mostra um experimento ousado que busca equilibrar o terror claustrofóbico e visceral da franquia original com uma narrativa mais ampla e filosófica, digna de uma adaptação para a televisão.
O criador Noah Hawley, conhecido por seu trabalho em “Fargo” e “Legion”, imprime sua marca autoral, resultando em uma série visualmente deslumbrante, cheia de ideias, mas que nem sempre consegue conectar o cerebral ao emocional.
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A dualidade entre Blade Runner e Alien
Hawley não se contenta em apenas expandir a lore de Alien. Ele infunde a série com uma densidade temática que remete diretamente a “Blade Runner”, outro clássico de Ridley Scott. A questão da humanidade, da consciência e da vida artificial está no centro da trama, especialmente com a introdução dos híbridos.
A série explora o que significa ser humano quando a linha entre o orgânico e o sintético se torna cada vez mais tênue, questionando a essência da pessoa e o que acontece quando uma mente infantil habita um corpo adulto.
A icônica pergunta “Você é um robô?” encontra uma resposta melancólica e complexa aqui, ecoando as reflexões do filme de 1982. Essa fusão de temas é fascinante, mas em alguns momentos, a série se desvia tanto do terror para a ficção científica filosófica que perde o ritmo e a tensão característica da franquia.
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O terror e o “horror de monstro”
Apesar das divagações filosóficas, “Alien: Earth” não esquece suas raízes. A série recria com maestria a estética retro-futurista do filme de 1979, com um design de produção impecável que remete aos corredores industriais e sujos da Nostromo.
O Xenomorfo original permanece grotesco e aterrorizante, mas Hawley amplia o bestiário, apresentando outras criaturas com ciclos de vida macabros: moscas que cospem ácido, parasitas sugadores de sangue e até mesmo um assustador olho tentaculado que possui seus hospedeiros.
A série equilibra o terror psicológico com momentos de horror visceral, com sequências de morte que são ao mesmo tempo aterrorizantes e graficamente memoráveis. O “organismo perfeito” é usado com parcimônia e precisão, garantindo que seu impacto continue sendo especial e não se dilua.
O elenco e a disputa corporal
Um dos maiores trunfos da série é seu elenco. Olyphant, no papel de Kirsh, um sintético da Prodigy, é um show à parte, com uma performance calculada e perturbadora que remete aos andróides icônicos da franquia. Babou Ceesay, como o oficial de segurança Morrow, oferece uma atuação sutil e multifacetada, navegando entre o vilão e o trágico. No entanto, o verdadeiro destaque é Sydney Chandler como Wendy, a primeira híbrida.
Ela e os outros “Garotos Perdidos” enfrentam o desafio único de interpretar mentes infantis em corpos adultos, uma dissonância que é fundamental para a narrativa. Chandler consegue transmitir a curiosidade, a inocência e a vulnerabilidade de uma criança, contrastando com a força e a frieza de seu corpo sintético.
Sua jornada, que busca a conexão com o irmão humano, é o coração emocional da série, mesmo que em alguns momentos o público possa ter dificuldade em criar empatia com essa estranha nova forma de vida.
Conclusão
“Alien: Earth” é uma série que se atreve a ir além do que se espera de uma adaptação de uma franquia de terror. É uma obra de Noah Hawley antes de ser uma obra de Alien, o que é seu maior trunfo e, ao mesmo tempo, sua maior fraqueza. A série é fascinante por sua coragem de explorar novos territórios, com ideias ambiciosas e uma execução visual e sonora de alta qualidade.
No entanto, ela ocasionalmente se perde em suas próprias ambições, permitindo que o ritmo se torne tedioso e que a tensão se esvaia. A série se torna um rico quebra-cabeça de temas e referências, mas a sua conclusão deixa uma sensação de que as pontas não foram totalmente amarradas.
No fim, “Alien: Earth” é uma experiência ousada e hipnótica que não vai agradar a todos, mas que tem a rara habilidade de fazer algo verdadeiramente novo com uma franquia tão familiar, provando que a ressurreição de Alien pode não ser a que esperávamos, mas sim a que precisávamos.
Onde assistir à série Alien: Earth?
“Alien: Earth” está disponível para assistir no catálogo do Disney+.
Assista ao trailer de Alien: Earth (2025)
Elenco de Alien: Earth, do Disney+
- Sydney Chandler
- Timothy Olyphant
- Alex Lawther
- Samuel Blenkin
- Babou Ceesay
- Adrian Edmondson
- David Rysdahl