O que acontece quando a idealização da maternidade encontra o peso esmagador da realidade? O filme “Bebê Ruby” (Baby Ruby), dirigido e escrito por Bess Wohl, mergulha profundamente nessa questão, apresentando uma narrativa intensa e desconfortável sobre os desafios emocionais e psicológicos enfrentados por uma nova mãe.
Estrelado por Noémie Merlant, cuja atuação é visceral e envolvente, e Kit Harington, o filme é um thriller psicológico que coloca em xeque a romantização da maternidade e expõe as sombras que muitas vezes permanecem ocultas sob a superfície perfeita de uma família aparentemente ideal.
Sinopse do filme Bebê Ruby (2022)
Jo (Noémie Merlant) é uma influenciadora digital bem-sucedida, acostumada a controlar cada aspecto de sua imagem pública. Ao lado de Spencer (Kit Harington), ela projeta uma vida perfeita para seus milhares de seguidores. Com a chegada de sua filha, Ruby, Jo acredita estar vivendo o ápice da realização pessoal. No entanto, o que deveria ser um período de alegria se transforma rapidamente em um pesadelo.
Privada de sono e assombrada por uma sensação crescente de inadequação, Jo começa a perceber mudanças em si mesma e nos comportamentos daqueles ao seu redor. O bebê, que deveria ser o símbolo de sua felicidade, torna-se um catalisador para sentimentos de isolamento, paranoia e angústia.
Conforme a realidade se distorce, Jo luta para discernir se o que está vivendo é uma manifestação de seus medos mais profundos ou se há algo de fato ameaçador à espreita.
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Crítica de Os Fabelmans, da Netflix
“Bebê Ruby” se destaca por abordar a maternidade de forma crua e visceral, desconstruindo as noções idealizadas que muitas vezes permeiam a sociedade, especialmente no mundo das redes sociais.
A diretora Bess Wohl, em sua estreia, utiliza uma abordagem cinematográfica que mescla elementos de suspense e terror psicológico para refletir a experiência interna de Jo. É um filme que não teme explorar as verdades incômodas sobre o isolamento emocional e os desafios mentais associados à maternidade.
Atuações que carregam a narrativa
Noémie Merlant oferece uma atuação de tirar o fôlego, capturando as camadas de sua personagem com uma intensidade rara. Sua expressão corporal e seus olhares denunciam o peso de sua crescente paranoia, mesmo quando as palavras falham.
Kit Harington, apesar de desempenhar um papel de apoio, traz uma presença sólida como Spencer, o marido aparentemente atencioso, mas muitas vezes desatento às necessidades emocionais de Jo. Essa dinâmica ressalta como a falta de suporte pode amplificar os desafios emocionais enfrentados por mães em situações semelhantes.
A estética como extensão emocional
A fotografia de “Bebê Ruby” é um dos pontos altos do filme. Cores suaves e quentes dominam as cenas iniciais, sugerindo a ilusão de perfeição que Jo tenta manter. À medida que a narrativa avança, os tons se tornam mais sombrios e claustrofóbicos, acompanhando a descida de Jo em sua espiral de paranoia.
A trilha sonora também desempenha um papel fundamental no filme, alternando entre o silêncio opressivo e notas dissonantes que aumentam a tensão.
A atmosfera de suspense e suas limitações
Embora o filme seja eficaz em criar uma atmosfera sufocante que captura a experiência da protagonista, ele apresenta momentos em que o ritmo parece estagnar. Algumas cenas de paranoia se tornam repetitivas, diminuindo o impacto emocional do longa como um todo. No entanto, isso não tira o mérito da narrativa em abordar questões raramente discutidas de forma tão frontal.
Temáticas universais com um toque contemporâneo
“Bebê Ruby” também se beneficia de seu contexto contemporâneo, ao explorar como as redes sociais moldam a percepção da maternidade. Jo, como influenciadora digital, simboliza a pressão de apresentar uma vida perfeita para o público, mesmo quando sua realidade interna está em colapso. Esse contraste oferece uma crítica relevante sobre a desconexão entre a imagem pública e a verdade privada.
Conclusão
“Bebê Ruby” não é apenas um thriller psicológico, mas um convite à reflexão sobre os desafios emocionais da maternidade, a pressão por perfeição imposta pelas redes sociais e a falta de suporte que muitas mães enfrentam. A direção corajosa de Bess Wohl, combinada com a atuação impressionante de Noémie Merlant, faz do filme uma experiência intensa e, por vezes, desconfortável, mas inegavelmente necessária.
Apesar de algumas falhas no ritmo, “Bebê Ruby” é um retrato impactante da maternidade como um campo de batalha emocional, onde as expectativas irreais e os medos internos colidem em um confronto que deixa marcas profundas. Para quem busca um filme que vá além do óbvio e desafie narrativas idealizadas, esta é uma obra que não deve ser ignorada.
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