Leia a crítica da série Boots, da Netflix (2025) - Flixlândia

‘Boots’ e a busca por identidade em meio ao caos

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Em 1990, em meio à iminência da Guerra do Golfo, a sociedade e as instituições militares americanas viviam uma era de transição e conflitos internos. É nesse cenário que somos apresentados a Cameron Cope, um jovem deslocado e introvertido que, numa tentativa desesperada de escapar da monotonia e dos dilemas de sua vida, decide se alistar no Corpo de Fuzileiros Navais.

Baseada no livro de memórias de Greg Cope White, “The Pink Marine”, a minissérie da Netflix, “Boots”, é uma dramédia militar que, sob a produção executiva do falecido lendário Norman Lear, subverte os tropos do gênero para entregar uma história com alma e profundidade. A série não é apenas sobre o treinamento físico brutal, mas sobre a forja de amizades, a busca por autoconhecimento e a coragem de ser quem se é em um ambiente onde a conformidade é a regra.

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Sinopse

O ponto de partida é o escritório de um recrutador em Nova Orleans, onde o tímido Cameron Cope (Miles Heizer), cansado das mudanças constantes de sua mãe caótica, Barbara (Vera Farmiga), e do bullying escolar, decide se juntar aos fuzileiros navais. Seu único amigo, Ray McAffey (Liam Oh), o acompanha, mas por um motivo bem diferente: a ambição de se tornar um “Honor Man”.

Chegando à Ilha de Parris, Carolina do Sul, para as 13 semanas de treinamento, Cameron logo percebe que sua paixão por “Golden Girls” e sua aversão a exercícios físicos não o prepararam para a tirania dos instrutores e a brutalidade de um ambiente onde a homossexualidade é ilegal.

A trama se desenrola acompanhando o pelotão através de testes físicos e mentais, culminando no extenuante “Crucible”. Cameron precisa lidar não só com as pressões do treinamento, mas também com a perseguição de um sargento sádico, Sullivan (Max Parker), e com a tensão em sua amizade com Ray.

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Crítica

Uma das maiores virtudes de “Boots” é a forma como ela se recusa a reduzir seus personagens a meros estereótipos. O pelotão é um caldeirão de personalidades e origens distintas, cada um com seus próprios demônios e motivações. Do introvertido Cameron, que externaliza sua voz interior em um “eu” mais confiante e atrevido, ao cômico e caótico recruta Hicks (Angus O’Brien), a série constrói laços complexos e críveis. Não são apenas soldados em formação, mas jovens adultos inseguros, perdidos e tentando encontrar seu lugar no mundo.

A dinâmica entre Cameron e Ray, que se deteriora à medida que as ambições e dificuldades de cada um se chocam, é particularmente bem explorada, mostrando que mesmo a amizade mais sólida pode ser testada sob pressão. A série acerta ao expandir o foco para além do protagonista, apresentando as lutas de outros recrutas com temas como racismo, fobias e expectativas familiares, o que enriquece a narrativa e a torna mais realista.

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O humor e a tristeza

“Boots” se autodenomina uma dramédia, e embora os momentos hilários sejam escassos após a introdução, o humor reside na sutileza e nas interações inusitadas, como na representação do caótico recruta Hicks. O que a série faz com maestria é equilibrar a dureza do treinamento militar com momentos de genuína emoção e introspecção. O público acompanha a dor e o sofrimento dos recrutas, mas também seus pequenos triunfos e a camaradagem que surge em meio ao caos.

A série não tem medo de tocar em temas pesados, como a homofobia sistêmica nas forças armadas da época, que forçava Cameron a viver com o constante medo de ser descoberto e expulso. Mas ela também aborda o machismo enfrentado pela Capitã Fajardo (Ana Ayora), a primeira mulher a liderar uma companhia masculina na base, e o racismo sentido por recrutas negros. Esses temas, que poderiam ser abordados de forma superficial, são tecidos na trama de maneira orgânica, reforçando a mensagem de que a luta de Cameron não é a única.

Subvertendo os clichês

Apesar de se encaixar no subgênero de filmes de “campo de treinamento”, “Boots” evita as armadilhas de clichês desgastados. Em vez de focar apenas na transformação de um material humano imperfeito em um “soldado perfeito”, a série se concentra na jornada emocional dos personagens. O ponto central não é a superação física, mas a introspecção e a maturidade que os recrutas ganham.

A produção consegue criar uma atmosfera de tensão e disciplina sem recorrer a cenas de violência excessiva, embora o espectador saiba que a formação se destina a preparar para a guerra. O uso de uma trilha sonora nostálgica da década de 90, com canções de George Michael e Sade, ajuda a estabelecer o tom e o período, enquanto a cinematografia, por vezes tensa, por vezes lírica, eleva a experiência.

As cenas com a mãe de Cameron, embora interpretadas por uma talentosa Vera Farmiga, são o ponto mais fraco da série, pois não alcançam a mesma profundidade e magnetismo do que se passa na Ilha de Parris, onde a série realmente brilha.

Conclusão

“Boots” é uma série corajosa e de bom coração que consegue ser relevante, mesmo que se passe há 35 anos. Ela nos mostra que, em um ambiente projetado para anular a individualidade e criar máquinas de guerra, é possível encontrar humanidade, amizade e autodescoberta. O roteiro, sensível e bem construído, permite que a audiência se apaixone pelos personagens e torça por eles, mesmo sabendo que estão sendo treinados para matar.

Com atuações fortes, especialmente de Miles Heizer, a série é um testemunho da resiliência humana e da importância de aceitar quem somos. É uma produção silenciosa, mas poderosa, que, esperamos, não será esquecida no vasto catálogo da Netflix, assim como a esperança de um recruta perdido. Em suma, “Boots” é uma dramédia que acerta no alvo, entregando uma história com alma e propósito.

Onde assistir à série Boots?

A série está disponível para assistir na Netflix.

Quem está no elenco de Boots, da Netflix?

  • Miles Heizer
  • Max Parker
  • Vera Farmiga
  • Ana Ayora
  • Blake Burt
  • Cedrick Cooper
  • Dominic Goodman
  • Nicholas Logan
  • Kieron Moore
  • Angus O’Brien
Escrito por
Taynna Gripp

Formada em Letras e pós-graduada em Roteiro, tem na paixão pela escrita sua essência e trabalha isso falando sobre Literatura, Cinema e Esportes. Atual CEO do Flixlândia e redatora do site Ultraverso.

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