Netflix consegue o ‘impossível’ com ‘Cem Anos de Solidão’
Wilson Spiler11/12/20243 Mins de Leitura13 Visualizações
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“Cem Anos de Solidão” (Cien Años de Soledad) é o livro preferido deste que vos escreve. Quem já leu o clássico de Gabriel García Márquez sabe que adaptá-lo sempre foi considerado um desafio quase impossível. A complexidade narrativa, o realismo mágico e os detalhes poéticos transformaram o romance em uma obra frequentemente descrita como “infilmável”.
Contudo, a Netflix assumiu essa responsabilidade, respeitando os desejos da família do autor e entregando uma série em espanhol, filmada na Colômbia e com elenco local. Mas será que a produção consegue capturar a essência do romance que revolucionou a literatura latino-americana?
A série narra a saga da família Buendía ao longo de sete gerações, desde a fundação de Macondo até sua decadência. José Arcádio Buendía e Úrsula Iguarán, primos e protagonistas iniciais, deixam sua vila natal para fundar a utópica Macondo, um local onde a linha entre realidade e fantasia é constantemente desafiada.
À medida que as gerações avançam, temas como amor, traição, guerras e maldições moldam a narrativa, explorando a complexidade da existência humana sob o olhar poético do realismo mágico.
Desde os primeiros minutos, a série “Cem Anos de Solidão” estabelece um compromisso com a grandiosidade do material original. A escolha de iniciar com a emblemática frase que abre o livro — “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo” — é uma homenagem que imediatamente conecta leitores e espectadores.
Laura Mora e Alex García López, os diretores, captam a essência de Macondo com uma abordagem visual artesanal que valoriza efeitos práticos em detrimento de soluções digitais. Cenários meticulosamente construídos e figurinos ricos em detalhes evocam o universo mágico do romance. Há uma palpável reverência ao texto original, sem, no entanto, sacrificar a linguagem audiovisual.
Liberdades criativas
Ainda assim, a adaptação toma liberdades significativas. A linearidade cronológica adotada facilita a compreensão para quem não conhece a obra, mas dilui a riqueza das idas e vindas temporais que caracterizam a narrativa de García Márquez. Por outro lado, o uso do narrador como ferramenta de transposição literária é um acerto, preservando o lirismo e a profundidade poética do texto.
No campo das atuações, Marleyda Soto (Úrsula Iguarán) e Claudio Cataño (Aureliano Buendía) entregam performances intensas e imersivas, contribuindo para dar vida a personagens que antes habitavam o imaginário dos leitores. No entanto, o grande elenco e a natureza episódica fazem com que alguns personagens se percam em meio à vastidão da trama.
Apesar do esforço monumental, a série enfrenta dificuldades inerentes à adaptação de uma obra tão densa. O tempo limitado obriga cortes que, embora necessários, comprometem o desenvolvimento de certos arcos narrativos. A experiência, embora visualmente impactante, não substitui a leitura do livro, mas oferece uma nova perspectiva que complementa o clássico literário.
A adaptação de “Cem Anos de Solidão” pela Netflix é uma conquista admirável que resgata a magia de Macondo e a apresenta a um público contemporâneo. Embora não alcance a complexidade total do romance, a série é uma homenagem visual que honra a visão de Gabriel García Márquez, equilibrando respeito pelo original e inovação narrativa.
Para os leitores do livro, a série é uma oportunidade de revisitar Macondo sob uma nova lente; para os novatos, um convite irresistível para explorar o universo literário de Gabo.
Formado em Design Gráfico, Pós-graduado em Jornalismo e especializado em Jornalismo Cultural, com passagens por grandes redações como TV Globo, Globonews, SRZD e Ultraverso.
… completamente errado numa coisa muito muito importante, ou seja: em vez que apresentar, como no livro e naquela realidade social, filhos de colonos completamente pobres, sém instrução e sém contatos com o mundo … o seriado apresenta lindissimas familhas bem instruidas e educadas, com aspecto diet-light fitness, jeitos, corpos e dentes bem cuidados… parece de ver a historia de uma familia de uma contemporanea São Paulo, em ferias em uma lindissima posada no meio do mato 😅 …. quando o livro apresenta contesto e pessoas muuuito bem diferentes.
De fato, o que esperar de uma produção do filho do falecido Marquez (escritor do livro) que sempre recusou qualquer oferta de transposição na tela?
Com certeza que aproveitou a chegada de um bom dinheiro.
… completamente errado numa coisa muito muito importante, ou seja: em vez que apresentar, como no livro e naquela realidade social, filhos de colonos completamente pobres, sém instrução e sém contatos com o mundo … o seriado apresenta lindissimas familhas bem instruidas e educadas, com aspecto diet-light fitness, jeitos, corpos e dentes bem cuidados… parece de ver a historia de uma familia de uma contemporanea São Paulo, em ferias em uma lindissima posada no meio do mato 😅 …. quando o livro apresenta contesto e pessoas muuuito bem diferentes.
De fato, o que esperar de uma produção do filho do falecido Marquez (escritor do livro) que sempre recusou qualquer oferta de transposição na tela?
Com certeza que aproveitou a chegada de um bom dinheiro.