“Long Bright River”, minissérie de oito episódios baseada no romance de Liz Moore que chegou à Max, tenta combinar o mistério policial com o drama familiar em um retrato cru da crise de opioides que assola Kensington, um bairro de Filadélfia.
Com Amanda Seyfried à frente do elenco, a produção se propõe a ser mais do que apenas uma investigação criminal — ela mergulha fundo nas consequências pessoais, sociais e emocionais do vício e da negligência. No entanto, entre boas intenções, atuações sólidas e alguns tropeços narrativos, o resultado final é ambíguo.
A trama gira em torno de Mickey Fitzpatrick (Amanda Seyfried), uma policial de patrulha marcada por um passado conturbado e pela constante preocupação com sua irmã mais nova, Kacey (Ashleigh Cummings), uma viciada em drogas que desaparece misteriosamente.
À medida que Mickey desconfia que uma série de mortes entre mulheres em situação de rua pode não ser apenas uma sequência de overdoses acidentais, ela inicia uma investigação solitária e arriscada, desafiando a apatia dos colegas de farda e confrontando os próprios fantasmas do passado.
Amanda Seyfried entrega uma atuação tecnicamente sólida — contida, introspectiva e dolorosa. Ainda assim, a construção de Mickey como personagem é problemática. Parte do público se vê afastado por sua frieza, falta de carisma e decisões questionáveis.
Em certos momentos, sua apatia parece contradizer a paixão que a impulsiona. Há quem a veja como uma representação realista de alguém endurecido pela dor, mas outros apenas enxergam uma figura monótona, pouco envolvente para liderar uma série tão emocionalmente carregada.
Realismo social: um retrato cruel e necessário
O grande mérito de “Long Bright River” está em sua ambientação. A série não edulcora o sofrimento das comunidades afetadas pela dependência química. As ruas de Kensington são mostradas com honestidade brutal: becos, barracas improvisadas, olhares vazios e promessas quebradas.
Há empatia nas lentes dos diretores — especialmente no tratamento dado às mulheres marginalizadas. As trabalhadoras sexuais, por exemplo, são retratadas com humanidade, não apenas como vítimas ou figuras descartáveis.
O ritmo arrastado e o excesso de flashbacks
Se por um lado a série se propõe a desenvolver profundamente seus personagens, por outro, sofre com uma estrutura inchada. Os flashbacks frequentes — embora relevantes para o desenvolvimento emocional de Mickey e Kacey — muitas vezes quebram o ritmo da narrativa principal e tornam a progressão da história exaustiva.
A investigação criminal, que poderia sustentar a tensão, é diluída por cenas contemplativas e desdobramentos familiares que se estendem além do necessário. Há um consenso de que a série seria mais eficaz com 6, ou até 5 episódios.
Atuações marcantes
Apesar dos problemas com o protagonismo, o elenco de apoio é um dos pontos fortes. Nicholas Pinnock como Truman entrega uma presença calorosa e firme. Ashleigh Cummings, no papel de Kacey, transmite vulnerabilidade e complexidade em uma performance comovente.
O jovem Callum Vinson, como Thomas, filho de Mickey, surpreende com uma maturidade emocional rara em atuações infantis. Até os personagens com pouco tempo de tela — como o avô Gee (John Doman) — trazem camadas ao enredo.
Direção, fotografia e escolhas estilísticas
A direção aposta em uma estética escura e sombria, reforçando o tom depressivo da série. Contudo, a iluminação excessivamente baixa compromete a experiência visual em diversos momentos, fazendo com que cenas importantes fiquem ofuscadas — literalmente.
A fotografia das ruas de Filadélfia, por outro lado, é eficaz: sentimos o peso e a opressão do espaço urbano, elemento crucial para o senso de verossimilhança da série.
Um crime que vira pano de fundo
Embora o marketing da série aponte para um mistério policial, o foco de “Long Bright River” está, na verdade, na deterioração dos laços familiares.
A investigação sobre o desaparecimento de Kacey e os assassinatos em série se dilui entre os dramas pessoais de Mickey, seus traumas, dilemas éticos e o peso de tentar ser mãe, irmã e policial ao mesmo tempo.
Isso pode frustrar quem espera uma narrativa centrada no suspense. A resolução do crime, embora funcional, carece de impacto dramático e é facilmente previsível.
“Long Bright River” é uma obra ambiciosa que caminha na tênue linha entre o thriller policial e o drama social. Ainda que não atinja todo o seu potencial narrativo, é inegável que a série oferece um olhar sincero sobre a devastação causada pela epidemia de opioides e os laços invisíveis que unem (e sufocam) as famílias.
Amanda Seyfried segura a produção com dignidade, mas o roteiro irregular e o ritmo oscilante impedem que a série seja memorável. Vale a pena para quem busca uma história sensível, embora imperfeita, sobre dor, perda e persistência — desde que se tenha paciência para atravessar suas zonas de sombra.
Navegando nas águas do marketing digital, na gestão de mídias pagas e de conteúdo. Já escrevi críticas de filmes, séries, shows, peças de teatro para o sites Blah Cultural e Ultraverso. Agora, estou aqui em um novo projeto no site Flixlândia.