Confira a crítica da série "Sobreviventes", drama australiano de 2025 disponível para assistir no catálogo da Netflix.

‘Sobreviventes’, um mergulho sombrio nos traumas que nunca cicatrizam

Compartilhe

Lançada pela Netflix como uma minissérie de seis episódios, “Sobreviventes” adapta o best-seller homônimo de Jane Harper em uma produção que mistura mistério policial, drama psicológico e crítica social. Ambientada na fictícia Evelyn Bay, uma pequena cidade litorânea da Tasmânia, a obra parte de um crime recente para escancarar feridas profundas deixadas por uma tragédia ocorrida quinze anos antes.

Criada e roteirizada por Tony Ayres (Clickbait, Estado Zero), a série rapidamente se distancia dos moldes tradicionais do “whodunnit” ao propor reflexões mais profundas sobre culpa, luto e silêncios familiares. O que começa com um corpo encontrado na praia se transforma em um retrato visceral de uma comunidade afogada em ressentimentos e memórias mal resolvidas.

A produção se destaca pela força de seu elenco e pela construção de atmosfera, mas também enfrenta desafios ao tentar diferenciar-se de outras séries similares do catálogo contemporâneo. Mesmo assim, “Sobreviventes” é um retrato poderoso da devastação que uma perda pode provocar — não apenas no indivíduo, mas em toda uma coletividade.

Frete grátis e rápido! Confira o festival de ofertas e promoções com até 80% OFF para tudo o que você precisa: TVs, celulares, livros, roupas, calçados e muito mais! Economize já com descontos imperdíveis!

Sinopse da série Sobreviventes

No passado, uma tempestade devastadora atingiu Evelyn Bay, resultando na morte trágica de dois jovens: Finn, irmão mais velho de Kieran, e seu amigo Toby. Kieran foi resgatado com vida, mas passou a carregar a culpa pela tragédia. Quinze anos depois, ele retorna à cidade acompanhado de sua esposa Mia e da filha recém-nascida. O reencontro com os pais, especialmente a mãe Verity — que nunca superou a morte do filho mais velho —, é marcado por ressentimentos mal disfarçados.

A tensão se intensifica quando o corpo de Bronte, uma jovem forasteira, é encontrado na praia. Bronte investigava a morte mal explicada de Gabby, desaparecida no mesmo dia da tragédia no mar. A nova perda reabre velhas feridas, reacende desconfianças e empurra a cidade a encarar verdades que muitos preferiam manter soterradas.

➡️ ‘Um Bom Garoto’ tem estreia ousada e promissora

cena da série Sobreviventes da Netflix (2025)
Foto: Netflix / Divulgação

Crítica de Sobreviventes, da Netflix

Embora apresente a estrutura clássica de um mistério criminal, “Sobreviventes” é, em essência, um estudo profundo sobre as múltiplas formas de luto e culpa. O protagonista Kieran, interpretado com delicadeza por Charlie Vickers, não é apenas perseguido por lembranças, mas também pelos julgamentos constantes dos moradores de Evelyn Bay. O retorno dele à cidade, longe de ser uma reconciliação, serve como gatilho coletivo para o ressentimento acumulado.

A série mergulha na hostilidade silenciosa das pequenas comunidades: os sorrisos forçados, os olhares de reprovação e os vínculos corroídos pelo trauma. Não há escapatória para Kieran, e mesmo os poucos amigos que ainda o acolhem agem como se estivessem pisando em cacos de vidro.

➡️ ‘O Conto da Aia’ (6×10): final de ‘The Handmaid’s Tale’ é reflexivo, circular e propositalmente inacabado

Grief como personagem central

O verdadeiro protagonista de “Sobreviventes” é o luto — expresso não apenas nas reações emocionais, mas na própria paisagem cinzenta e nos silêncios sufocantes dos personagens. Robyn Malcolm brilha como Verity, uma mãe que nunca perdoou o filho sobrevivente. Sua atuação, marcada por oscilações entre carinho passivo-agressivo e frieza cortante, é um dos grandes destaques da série.

Damien Garvey, no papel de Brian, lida com a demência de maneira sensível e dolorosa. Sua confusão entre os filhos e suas memórias fragmentadas funcionam como metáfora visual da própria cidade: perdida entre passado e presente, incapaz de distinguir dor de verdade.

➡️ ‘Sara: A Mulher nas Sombras’, quando o silêncio vira arma

Narrativa fragmentada e temática potente

A montagem intercala passado e presente com fluidez, ajudando a revelar, aos poucos, camadas do mistério e da complexidade dos personagens. Mas o que realmente diferencia a série é sua recusa em dar respostas fáceis. “Sobreviventes” questiona se queremos mesmo a verdade ou apenas versões que nos permitam continuar vivendo.

A crítica social também ganha força: o esquecimento de Gabby, uma jovem desaparecida, contrasta com o culto à memória dos dois rapazes mortos, escancarando o sexismo implícito nas hierarquias de memória e dor. Além disso, a série acerta ao refletir sobre como o discurso masculino contemporâneo pode se tornar terreno fértil para ressentimento e violência — como visto nas atitudes dos homens mais jovens da cidade, em especial Liam, filho de Toby.

Direção segura, mas sem grandes riscos

A estética da série é eficaz, ainda que não especialmente memorável. O litoral da Tasmânia cumpre bem seu papel como cenário gótico, e as cenas nas cavernas e debaixo d’água são particularmente bem conduzidas. Porém, há um certo conservadorismo visual e narrativo que impede “Sobreviventes” de alcançar a ousadia de outras produções recentes como Adolescência ou A Reserva.

Ainda assim, há beleza na simplicidade com que a série transforma o mar em metáfora — imenso, imprevisível, carregado de lembranças que não se dissipam.

➡️ Acompanhe o Flixlândia no Google Notícias e fique por dentro do mundo dos filmes e séries do streaming

Vale a pena assistir Sobreviventes (2025)?

“Sobreviventes” é uma série que exige paciência, mas recompensa com uma trama emocionalmente carregada, sustentada por performances intensas e uma abordagem madura dos efeitos do luto. Muito além do “quem matou?”, a produção quer saber: o que fazemos com a dor que deixamos para trás? Como seguimos em frente quando ninguém quer deixar o passado descansar?

Apesar de seguir alguns clichês do gênero e não ser visualmente arrojada, a minissérie se diferencia pela honestidade de suas emoções e pela profundidade dos temas que aborda. No fim das contas, “Sobreviventes” é sobre os que ficaram — e o que, exatamente, sobrevive em nós quando tudo o resto afunda.

Siga o Flixlândia nas redes sociais

Instagram

Twitter

TikTok

YouTube

Onde assistir à série Sobreviventes?

A série está disponível para assistir na Netflix.

Trailer de Sobreviventes (2025)

Elenco de Sobreviventes, da Netflix

  • Charlie Vickers
  • Yerin Ha
  • Robyn Malcolm
  • Damien Garvey
  • Thom Green
  • George Mason
  • Jessica De Gouw
  • Miriama Smith
  • Johnny Carr
  • Martin Sacks
Escrito por
Taynna Gripp

Formada em Letras e pós-graduada em Roteiro, tem na paixão pela escrita sua essência e trabalha isso falando sobre Literatura, Cinema e Esportes. Atual CEO do Flixlândia e redatora do site Ultraverso.

  • Sinopse muito bem escrita, descrição dos personagens perfeitas. Parabéns a reporter, sabe usar muito bem as palavras.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Últimas

Artigos relacionados
Leia a crítica do dorama série A Rainha dos Golpes, do Prime Video (2025) - Flixlândia (1)

Início de ‘A Rainha dos Golpes’ é eletrizante

O dorama sul-coreano “A Rainha dos Golpes” chega ao Prime Video com...

Crítica da série dorama Todos os Crimes da Louva-a-Deus, da Netflix (2025) - Flixlândia (1)

‘Todos os Crimes da Louva-a-Deus’ e a herança de um pesadelo

No competitivo universo dos doramas de suspense policial, “Todos os Crimes da...

Crítica da série Amor, Golpe e Vingança, da Netflix (2025) - Flixlândia

‘Amor, Golpe e Vingança’ tem propósito nobre, mas falha como entretenimento

No vasto universo do true crime da Netflix, poucas produções causaram tanto...

Crítica da série Os Runarounds Música e Sonhos, do Prime Video (2025) - Flixlândia

‘Os Runarounds: Música e Sonhos’ e a melodia desafinada de uma promessa teen

O universo das séries juvenis na televisão parece estar em uma busca...

Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente crítica série HBO Max 2025

‘Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente’: uma luta pela vida e pela memória

Em um ano que já se desenha promissor para as produções nacionais,...

Leia a crítica da série A Lista Terminal Lobo Negro, do Prime Video (2025) - Flixlândia (1)

‘A Lista Terminal: Lobo Negro’: Taylor Kitsch brilha na origem do anti-herói

“A Lista Terminal: Lobo Negro” surge como um intrigante prelúdio e spin-off...

Leia a crítica da série Capoeiras, do Disney+ (2025) - Flixlândia

Mais que luta, ‘Capoeiras’ é uma história de reencontro e resistência

Em meio à crescente onda de produções nacionais em plataformas de streaming,...

Leia a crítica da série Duas Covas, da Netflix (2025) - Flixlândia

‘Duas Covas’ converte o luto em vingança

Em meio à avalanche de produções do gênero thriller na Netflix, a...