Leia a crítica do filme Éden (2025) - Flixlândia (1)

‘Éden’: quando a utopia cede lugar ao inferno de invejas

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A busca por um paraíso na Terra é uma obsessão antiga da humanidade, mas o irônico é que somos frequentemente nossos maiores sabotadores nessa jornada. O filme “Éden”, dirigido por Ron Howard e baseado em uma história real que se desenrolou na ilha de Floreana, no arquipélago equatoriano de Galápagos, é um estudo de caso fascinante, embora por vezes desigual, sobre esse tema.

Baseado nos relatos conflitantes de sobreviventes do “Caso Galápagos” da década de 1930, o longa – que acaba de chegar ao catálogo do Prime Video – se propõe a ser uma viagem filosófica pela condição humana, examinando como a convivência forçada e a carência expõem o que há de mais primitivo em nossos valores e ambições.

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Sinopse

O filme narra a chegada e a turbulenta interação de três grupos de alemães que, em momentos distintos, tentam criar sua própria versão de uma vida utópica na então desabitada ilha de Floreana. O primeiro a desembarcar é o Dr. Friedrich Ritter (Jude Law), um filósofo-médico niilista e sua amante, Dore Strauch (Vanessa Kirby), que buscam uma fuga radical da civilização para viver de acordo com uma nova filosofia.

Em seguida, chegam os Wittmer: Heinz (Daniel Brühl), sua esposa Margret (Sydney Sweeney) e o filho, procurando um refúgio da crise europeia e uma vida mais prática e familiar. O equilíbrio, já tênue, desmorona com a chegada da autodenominada Baronesa Eloise Bosquet de Wagner Wehrhorn (Ana de Armas) e seus amantes/seguranças.

A Baronesa, extravagante e manipuladora, tem o plano ambicioso e frívolo de construir um hotel de luxo na ilha. O que começa como um experimento social isolado rapidamente se transforma em um caldeirão de lealdades em mutação, hostilidades crescentes e, finalmente, violência, provando que o inferno, de fato, são os outros.

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Crítica

“Éden” é inegavelmente um filme de qualidade, com uma história rica e um elenco de peso, mas sua execução é um caminho com altos e baixos. A premissa, de expor as falhas da utopia pela lente da natureza humana, é poderosa, e o roteiro de Noah Pink (“Tetris”), cocriado com Howard, tem o mérito de tecer as pontas soltas da história real com um senso crescente de inevitabilidade dramática.

A estrutura do roteiro é eficaz ao encaixar as peças da narrativa de forma acelerada e tensa. A máxima de Chekhov sobre a arma no primeiro ato é plenamente realizada aqui: cada elemento de discórdia e cada traço de personalidade extrema dos personagens são os gatilhos para o caos final.

O filme faz uma analogia perspicaz à própria civilização humana, onde diferentes ideologias (a do intelectual radical de Ritter, a da família trabalhadora dos Wittmer e a do hedonismo capitalista da Baronesa) se chocam em um microcosmo.

O desejo inicial de “escapar do vizinho” de Ritter é substituído pela necessidade amarga de interagir, revelando que os conceitos civilizados de propriedade, cooperação e moralidade são frágeis quando confrontados com a escassez e o confronto de ambições. A ilha se torna o laboratório de Darwin, onde a sobrevivência do mais apto é testada, e apto se manifesta de maneiras inesperadas.

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O brilho do elenco e a sutileza necessária

O elenco é o grande trunfo de “Éden”, embora as atuações sejam tão extremas quanto os personagens que representam. Jude Law e Vanessa Kirby entregam performances robustas como o casal quixotesco. Law, em particular, incorpora a surdez filosófica de Ritter, que está tão imerso em sua ideologia que é incapaz de praticar a humanidade mais básica.

No entanto, é nos personagens mais “normais” que o filme encontra sua âncora emocional. Sydney Sweeney brilha em uma performance sutil e essencial como Margret Wittmer. Sua quietude, decência e coragem, especialmente na cena do parto e em seu olhar perspicaz sobre o comportamento alheio, contrastam fortemente com a extravagância dos demais.

Ana de Armas, por outro lado, é um raio de beleza e perigo como a Baronesa, beirando a sociopatia. Uma personificação viva da decadência que Ritter tanto desprezava. O contraste entre a Baronesa, que aparece sempre limpa e glamourosa, e o esforço real dos Wittmer para construir uma vida, reforça a crítica do filme à hipocrisia e à falta de preparo para a realidade brutal.

crítica do filme Éden (2025) - Flixlândia (1)
Foto: Divulgação

Desafios narrativos e a estética de Howard

Apesar da riqueza da história, o filme de Ron Howard não é impecável. Em certos momentos, a disparidade de tom e objetivo entre os três grupos é tão grande que a narrativa luta para mantê-los sob o mesmo guarda-chuva coeso, resultando em um desenvolvimento temático que alguns críticos acharam subdesenvolvido.

Embora o filme tenha a estética épica e a boa cinematografia esperadas de Howard — Mathias Herndl mostra Floreana como um cenário implacável, não um postal —, ele falha em transmitir a dureza crua do pioneirismo. Os atores, muitas vezes, parecem limpos e descansados demais, diminuindo a sensação de que estão à beira da sucumbência ao ambiente, o que desvia o foco do espectador da luta contra a natureza para a luta estritamente interpessoal.

A falta de foco e a duração excessiva mencionadas por alguns indicam que o potencial para um thriller psicológico de alta tensão foi alcançado apenas em lampejos, e não como uma marcha sustentada rumo ao clímax. A trilha sonora de Hans Zimmer, contudo, evoca uma crescente e eficaz sensação de mal-estar.

Conclusão

“Éden” é mais do que uma história de sobrevivência: é um drama filosófico sobre o legado destrutivo da natureza humana quando despojada das regras e estruturas da sociedade. A ilha, que deveria ser um recomeço idílico, torna-se um espelho amplificado dos vícios que os colonos tentaram deixar para trás: ambição pessoal, inveja, egoísmo e vaidade.

O filme pode não ter atingido o que se esperava, talvez por sua escuridão realista em uma época de busca por entretenimento mais leve, mas é uma obra que merece ser vista e debatida. Ele cumpre o objetivo de fazer o público refletir sobre a facilidade com que criamos o inferno para nós mesmos, independentemente do quão paradisíaco seja o cenário.

“Éden” é um lembrete convincente de que o paraíso é menos um lugar geográfico e mais um estado interno, e que a dificuldade de cooperar é o verdadeiro legado de nossa espécie.

Onde assistir Éden (2025)?

O filme “Éden” está disponível para assistir no Prime Video.

Veja o trailer do filme Éden

YouTube player

Quem está no elenco de Éden, do Prime Video?

  • Jude Law
  • Ana De Armas
  • Vanessa Kirby
  • Sydney Sweeney
  • Daniel Brühl
Escrito por
Wilson Spiler

Formado em Design Gráfico, Pós-graduado em Jornalismo e especializado em Jornalismo Cultural, com passagens por grandes redações como TV Globo, Globonews, SRZD e Ultraverso.

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